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Linha de Desmontagem


A poesia na linha de desmontagem
No final do poema fica quase nada...
Descobrem-se os elementos essenciais
E adornos usados pelo poeta

Sobram fonemas, termos da oração,
Algumas metáforas, acentos tônicos
De ritmos cadentes; vão-se as logopeias,
Melopeias, fanopeias e as prosopopeias

O Que Restou

O que restou foi um pedaço de filme 16 mm,
um pedaço velado, que não serve pra quase nada,
um retrato 3x4 de um detalhe da torre da igreja tombada...

Foto Chau localizava-se na Rua do Meio
de quem vai e de quem vem, vice-versa

A memória, bom que se diga,
não importa muito com isso,
só quando aperta a saudade

Quando Escrevo

Quando escrevo poemas sem sentido
Estou sem sentido,
Embora todo sentimento
Esteja aflorado no testamento

Quando escrevo coisas como anjos alados
Os anjos estão embaraçados
Em abraços e me guiam
Pelos caminhos de menos penar

Quando escrevo emoções sentidas
De uma dor qual nunca senti
Como ser de um poeta
Que escreve a dor que deveras sente

Poesia em Liquidação

Vende-se poesia barata. Não precisa de cartão de crédito,
nem saldo bancário estimado, ou subestimado, saldo nenhum
Vende-se poesia sem domicílio, sem grandes pretensões literárias
com guard rail para segurar quaisquer devaneios

Minha poesia não busca os grandes leitores,
os iniciados na poética do século 21, ou do século passado
Minha poesia não irá, garanto, para as antologias,
pros gabinetes literários ou para estantes das bibliotecas seculares

Entrevista

Quando conheci o poeta, estava sozinho,
observava pela janela a jovem filha da vizinho

- Que estaria o poeta imaginando?

Quando nota minha presença, se volta
e conversamos. Falamos de artes,
pinturas, quadros roubados,
livros emprestados de amigos distantes
e esquecemos em devolver

Poeta Preguiçoso

O poema esquecido
Por falta de papel e lápis
Encontra-se no labirinto
Do subconsciente literário

No subconsciente do poeta
Trafegam versos, rimas
Verdadeiras epopeias
A procura de papel e lápis.


​​ Negociação

A poesia aceita cartão de crédito,
cartão de débito, de preferência,
e, se conversar, até nota promissória
sem avalista

Semijoia

Talentoso
Sabia escrever
os pronomes
nos lugares corretos, certo,
mas o assunto, valha nos Deus!,
era pra lá de ordinário.

#Despedidas
#PoemasDeVolta

Canto Pantaneiro


O canto vivo do pantanal
É o som do rio corrente
Que corre como um signo
Entre peixes e aquário

O canto pantaneiro, amor
Tem xis, chiados e pipios
Entre a luz e o entardecer
De todos os voos singulares...

Desescrever

Escrevo porque sou disléxico
Não sei o que leio no correr
dos dias por entre luzes
e becos de fora escondidos

Escrevo, talvez por sina,
mesmo sem entender
tudo aquilo que escrito
a letra transmite ao léu

Escrevo e todos os medos
da extrema escuridão
permanecem para sempre...

Escrevo e, reconheço, soletro
cada fonema brincando
dentro de mim feito menino.

Negócio de Ocasião

Vendo ou alugo um poema recém-refeito
Reformado para grandes eventos
Um poema para todos os sentimentos

O poema original estava esquecido
Com termos e rimas, hoje em desuso,
Parecia arcaico, um tanto esquisito

O poema agora tem feições contemporâneas
Sob a nova ótica da crítica pós-moderna
Pode, entre seus pares, ser compreendido
Citado em tertúlias e conferências literárias

Minha alma irá embora

Minha alma, um dia, sairá
do domicílio que hoje habita
Em espírito viajará pra outras
dimensões que nem sei
ou consigo imaginar
enquanto habitante deste corpo

Minha alma sairá, certeza,
quando as combinações moleculares
estiverem cansadas de me sustentar
- Serei expulso, repelido, cumprindo
a lei natural de renovação da vida

Minha alma, por enquanto sei,
temos dever de permanecer fiel
aos planos traçados por nós mesmo.

O Rio Agora

Descer o rio agora, hoje, amanhã,
antes do amanhã, do amanhecer
e testemunhar o sol brotar
como se brota a vida da água

Quando se brota de um olho d'água
a vida corre numa corrida mansa
de esperar sempre outro ser
amanhecer e fazer-se perene rio

O rio que brota em mim, de mim,
é um rio tinteiro, azul e escorre
por entre folhas brancas folhas
que surgem entre as margens

Das folhas faço uma barca
e navego o rio que sempre,
não sei por que, desagua afora
sem nunca se perder.

Bloco de Notas


Junto ao bloco de notas
a velha fotografia
um tanto desgastada
de um frio que passou
na alegria d'estar agasalhado
e a certeza que
o que fica é memória.

A Semente


A semente do olhar
para fora do universo
sem fim
está plantada no homem

A semente de olhar
para fora do homem
está impregnada na alma
curiosa
que descobre coisas,
meio que sem querer,
e germina a semente
do progresso sem fim

A semente, olha,
brota continuamente
dia a dia
assim que o homem acorda
para o sol germinando
a própria vida.