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A Poesia Esconde


A poesia esconde-esconde
entre eu e você
e o nada responde
A poesia apronta, aponta
em berços de rimas
e não desaponta
A poesia - presente!
responde à pergunta
que vaza da mente
A poesia se choca
até ficar no ponto
e brota sólida no poema.

Observação do peixe em torno de si mesmo

O peixe em seu eterno mergulho
tenta através do anti-espelho
decifrar este outro mundo

Por vezes, quando a solidão é tanta
encanta com o anzol...
A luz do sol não desfaz a dor

Ah!, pena que são só nadadeiras
não possuir asas é um suplício
e ser peixe somente peixe e diz:

- Meu poder é conhecer o rio, apenas
nem o mar eu posso
pois outras águas
são para outros peixes.

Enterro

Enterraram meu coração
Na sombra desaparecida
Na sombra desaparecida
De uma palmeira

Enterraram meu coração
Sem nenhuma pena
Sem nenhuma mágoa
Sem nenhum coração

Enterraram meu coração
- Semente -
Que brotará palmeira
No coração da cidade.

#SonhoDeMenino

Homens de meia-idade

Homens de meia-idade
Brincam com filhos na sala
Leem jornais sentados no sofá
Comem remoendo as dores do dia
Homens de meia-idade

Homens de meia-idade
Saem sós, sozinhos à noite
Procuram mulheres jovens
Dançam saudades familiares
Homens de meia-idade

Novamente em mim

Penso novamente em mim,
no meio da fila,
na mulher em casa sem comida,
barriguda e desesperançada

Desespero todos os dias
a caminho do lar
doce lar de tristes lembranças
onde tudo se passou
em um único ato sem tempo

Olho novamente para mim:
traste, trapo, sapo
saco de gato e sapato
sem sábado remunerado
sem descanso semanal;
no início, meio e fim desta fila
que não termina
a esperança e principia
muito antes do meu dia

Bilhete Amigo

A Ricardo Guilherme Dicke

Não posso sozinho
vestir a roupa
de outro santo
no mesmo santo...

Decerto isso é indecente
e pensar que com saliva,
simplesmente, podemos
pôr todas as cartas no correio

Sem procura, sem busca
nenhuma mão nos oferece
a enxada, a terra
para alinhavar nosso dia

Sem fala, sem enigma
ninguém nos escuta
para saber da solidão
que sofre estando sozinho...

Poeminha da quadrilha (2ª Edição ampliada)

Quem são
Cessa Lenine,
Aline Chiesa,
Deline Passé,
Mayra Dênise e
Pablo Thiago?

- São crianças
da mesma quadrilha.

Poeminha dedicatória do livro 'Sonho de Menino é Piraputanga no Azol'. Quando foi feito a primeira versão, à época, eram apenas quatro. Pablo Thiago nasceu oito anos depois de Mayra Dênise, por isso o complemento: 2ª edição ampliada.

Calma de um retrato

Veja o retrato de outro pai
ali por cinquent’anos d’idade
 
Repara, é o mesmo semblante
que guardou no santo sudário
 

Do poeta

A Silva Freire
Nossa solidão não será eterna,
pois de eterno só o Universo
A solidão não caberá no poema
como o poeta não cabe em versos

Como o poeta não cabe em versos
tampouco num frasco vazio,
o poeta, na sua solidão,
cabe no meio de sua rotina
no centro de sua oficina.

O Poeta Vai Embora


O poeta madurece uma ideia
A ideia não envelhece
Como os dentes do poeta
Como os cabelos do poeta

Não envelhece como o mundo
Como o riso do retrato na parede
Como o pio do pássaro na gaiola
Como o cio dos séculos saltimbancos

Tampouco apodrece como a maçã
A goiaba, o mamão, a uva, o caju
- Para ser mais preciso: não apodrece
Como a substância que nos mantém corpo