Questão 1


A poesia, nem todas às vezes, se questiona,
quando caminha nas calçadas das grandes cidades:
“Por que as pessoas, pedestres,
não seguem todos a mesma estrada?”

Privativo


Com o tempo – pois o tempo
é o velho senhor de todos –
o poeta descobre que não existe
assunto privado pra poesia
senão a própria poesia. 


Poesia Urbana

A poesia tem um quotidiano
fora de si
Quando a poesia vai ao shopping
se urbaniza ainda mais
e fala a linguagem sem significados puros
metafóricos ou confessadamente líricos.


De Ver e Envelhecer


Existem momentos
que meus olhos se voltam
para o edifício da Receita Federal
na Avenida do CPA
e não vejo nada 
O prédio, embora imóvel,
envelhece como tudo
que nasce sob a face da terra...
Envelhece, inclusive,
como a própria terra.

Sobre Tuiuiús e Poemas

Observe
o tuiuiú perdido,
planando rumo ao não-horizonte

Sim, um jaburu,
mas não o mesmo tuiuiú
que foi a óbito
no poema de Lucinda Persona.


Parada Obrigatória


Chegamos antes, bem antes,
do ônibus passar
ou minutos depois...

Para, espera e pensa:
Nunca chegamos na hora
para pensar e esperar.

Óbito

A espera por inspiração
tem apenas uma estratégia: esperar

O poeta crê, quando crê,
numa esperança infinita,
que a poesia não irá a óbito
dentro de seu peito.

​Comunicado Público

Até os mais poderosos dos poderosos, um dia, serão contidos e não poderão, mesmo com todo o seu poder, fazer nada. Sem poder apelar, gritar, gesticular e assim ordenar aos subalternos que parem a caminhada à ultima estada

Até os mais poderosos dos poderosos se reduzirão a simples restos mortais e serão deitados em um caixão de cedro ou peroba, não importa, e serão levados solenemente para serem guardados a sete palmos ou queimados em modernos incineradores de cadáveres

Transvio

No transcurso do tempo...
Ao fim do dia, do nosso dia,
quando um de nós se perde,
perdidos um do outro,
num segundo,
num piscar de olhos
perde-se quase tudo
de quase perder a vida

No transcorrer do poema
a poesia que se tem de achar
encontro-a simples, desnuda
viajando ao lado no ônibus
rumo ao centro da cidade.

Quem Sonhou como Eu???

Quem sonhou? – eu sonhei – que o Brasil, um dia, iria se superar
Sonhei  com todos – brancos e pretos – dando as mãos
Sonhei que não haveria pobres, extremamente pobres, pedindo esmolas
Sonhei que seriamos irmãos de nossos irmãos, solidários e fraternos
Sonhei, bom que se diga, não custa nada sonhar, mas agora acordei
E vejo o Brasil vivo dentro de um pesadelo.

Mestre Bolinha e seu sax cuiabano





><>O Mestre Bolinha partiu hoje para a Pátria Espiritual. Que os seus Guias Espirituais possam recebê-lo e ampará-lo neste momento de transição.

Agora estamos sem Bolinha, o Sax de Ouro do Rasqueado Cuiabano

O verdadeiro ícone do Rasqueado Cuiabano

Este repórter com o Mestre Bolinha - Foto: Lenine Martins
Por João Bosquo | “João Batista de Jesus é o nome mais bonito” quem afirma é o titular, proprietário do nome, conhecido também como Mestre Bolinha, que solta uma sonora gargalhada ao dizer isso, para depois completar “João Batista Jesus da Silva. Eu nasci no dia da alegria, às 8 horas da noite, quando levantavam o mastro na casa de Dona Maria de Ferraz”. Era festa de São João, uma das mais tradicionais da antiga Rua da Fé, atual Comandante Costa.

A música está na raiz, ou mais modernamente no ‘gene’. Filho do lendário Mestre Albertino, músico primeiro sargento do antigo 16 BC, formador de bandas e descobridor de talentos, além de compositor e de Dona Enedina Fernandes da Silva. Bolinha é herdeiro dessa cepa e hoje, aos 74 anos, pode-se ser considerado um dos maiores saxofonistas mato-grossenses e também faz parte da história da música regional.

O primeiro contato foi com a percussão, com o pai, mas depois foi estudar na antiga Escola Agrícola de São Vicente, atual Centro Federal de Educação Tecnológica de São Vicente (Cefet), porque o pai não ganhava muito como sargento do Exército. Pois bem, perto da reforma, o pai Albertino começou a trabalhar na Escola e formou a primeira banda de música. Nessa primeira banda o jovem Bolinha começa aprender a tocar o sax alto.

Viagem sem Bagagem: Volta

O bom de viajar
sem bagagem é que,
no transcurso da viagem,
vai se pensando
em milhões de coisas
que se tem pra pensar
pra dizer pro amor
que partiu sem se despedir
e um dia achou de voltar.

Noves fora, o poema

Tira um, noves fora,
o poema se completa
quando a cidade amanhece.

A cidade não sabe
de nenhuma contabilidade poética...
Alguns de seus habitantes talvez.

O poema se ninguém lê
não se tortura, permanece escrito
nas páginas dos livros da biblioteca.