Faz de Conta, de José Serra, candidato 2010


"Faz de conta que eu não vim"
diz Serra à entrevistadora.
Faz de conta que eu fui pra Brasília
Que deixei o governo de São Paulo
Tentei pegar o bonde,
montar no cavalo arreado
Faz de conta que a eleição terminou.

"Faz de conta que eu não vim"
Diz que estou noutro departamento
encontrei outra saída de incêndio
outro trem, agora de volta
para a dura realidade dos fatos
do eleitorado cansado de mudança
de promessas desprovidas de fundamentos
de programa de governo de faz de conta

Faz de conta que era uma vez
uma eleição em dois mil e dez
na qual eram tantos, sobraram três
mas ficaram as entrevistas
as perguntas inconvenientes
as pesquisas e por fim a própria eleição
da qual não tinha como escapar

Um Ponto


Um ponto qualquer
no rumo de uma linha
que segue paralela
a outra linha
invisível de nosso ser

Uma sequência de pontos
forma esta linha
e paro em todos
para olhar

Saudade é o bicho


Saudade é um bicho danado
Mexe com a cabeça e coração
A gente quer esquecer
Mas o peito salta saltitante
O coração no céu da boca
Quando estrelas deveriam brilhar

Tudo já foi Dito!


Tudo já foi dito!
Onde, contudo,
está a prova
de tudo que já foi dito?

Onde está escrito
tudo que está dito,
dito em um segundo,
num segundo plano...

Não importa, quero prova
Quero a trova, só pra
ter certeza que este poema
já foi publicitado decerto
em algum século vindouro
por alguém e não outro

Antigamente

Não se veem mais poetas como de antigamente
Os poetas de antigamente escreviam à mão
em brancos papéis suas diletas poesias...

Bem antes, porém, os poetas cantavam musas
intrusas, em métricas precisas e de cabeça
guardavam na memória e iam aos recitais

Depois chegaram as máquinas Remington
os poemas surgiam datilografados
até convivermos com o modernismo
e desaguar no concretismo...

Prazo

Não cabe mais reclamação
O prazo de validade expirou
Não dá mais pra devolver
O amor foi pro fundo do baú.

Pedaços e Retalhos 4

Metade de uma metáfora
Vale mais que uma Pa+la+vra (=) inteira

Pedaços e Retalhos 3

A vida amanheceu um dia Meio que com preguiça De abrir os olhos da saudade.

Pedaços e Retalhos 2


Tenho pressentimento

De pensar nas tatuagens


Quando deixarem a moda.

Pedaços e Retalhos 1

A fila anda!

Vou pra

Finlândia.

Tristezas


Tristinho
É de Vinícius
(de Morais)

Tristão
De Ataíde
Sem falar
Em Manuel
(de Barros do Pantanal)...

Distinção


Tudo era distinto.
Um diferenciava do outro,
um detalhe distinguia deste,
embora andassem juntos, anjos e diabos

Isso mexia com as nossas cabeças, mas
anjos eram anjos e diabos, ora, eram diabos

Do Sonho ao Pesadelo


Quem sonhou? – eu sonhei – que o Brasil, um dia, iria se superar
Sonhei    com todos – brancos e pretos – dando as mãos
Sonhei que não tinha pobres, extremamente pobres, pedindo esmolas
Sonhei que seriamos irmãos de nossos irmãos, solidários e fraternos
Sonhei, bom que se diga, não custa nada sonhar, mas agora acordei
E vejo o Brasil vivo dentro de um pesadelo.