8 de Abril: Hoje é aniversário da Cidade


A Ivan Belém
Hoje é aniversário da cidade...
Pessoas transcendem nesta data
Outras passam indiferentes
A moça sonha com o namorado
O casal briga por necessidade


Porque é aniversário da cidade
Alguém se sente realizado
Outro, muito – muito, frustrado
Um consórcio se consuma
Entre quatro paredes e a lua de mel


Pelo aniversário da cidade
Neste dia se derruba um prédio
do patrimônio artístico e histórico –
E constrói novas agências bancárias
Em becos, esquinas ruas e avenidas


No ser aniversário da cidade
Um fulano senta sozinho
E bebe uma cerveja num bar
Enquanto outro doente sonha
Em realizar a cura por mágica
Sendo aniversário da cidade
O bêbado está falando alto
Um terno e gravata se irrita
Um prefeito interino que ri
Outro candidato espera a vaga
continua na próxima página

Colheita do Tempo


Tudo envelhece antes de morrer
Essa é a cronologia,
ante a última de todas as etapas

A criança corre no parque
brinca sob o olhar da babá

O sol transcorre por conta
do movimento de rotação
da terra que se movimenta...

O pássaro pia, canta, gorjeia
chama e denuncia: “Bem-te-vi!”
mas não enxerga o tempo
com os mesmos olhos que os meus

Meus olhos precisam de auxílio,
lentes, sem as quais não vê
um palmo além do nariz

Bicentenários de consumo

Naqueles velhos tempos tinha um bicentenário para cuidar. Era um bicentenário moderno, não tão avançado assim, mas que podia ser confundido com os artefatos mais modernos, daí a necessidade de atenção redobrada.

Precisava ler qualquer coisa sobre segurança de bicentenários. Busquei na biblioteca mais recheada da cidade, da nossa cidade, os manuais, as ilustrações e indicações bibliográficas confiáveis…

Ninguém prestava ajuda ou atenção. Tudo estava de acordo, segundo as normas mais elegantes, editadas pelos poetas monarcas e transvestis severos que se faziam passar por policiais do convescote suburbano

Em Defesa de Todos os Povos do Iraque (2)


Os mísseis Tomahawks cortam os céus de Bagdá
e explodem nas ruas e mercados
matando civis inocentes

- Qual foi o pecado dessa gente iraquiana
à margem do rio Eufrates?
O pecado, senhores, é Saddan Hussein se recusar
A aceitar dólares americanos
para vender seu petróleo ao inimigo

As forças invasoras
penetram como lagartas
pelos desertos do Iraque
Para chegar a Bagdá
matando inocentes crianças...

- Qual o pecado desses infantes?
O pecado, senhores,
é Saddan Hussein se recusar a
doar petróleo em troca de dólares
e manter a mais poderosa economia do mundo
e poderosa indústria da guerra
que mata inocentes

Os aviões americanos
- verdadeiras obras de arte -
são máquinas de extermínio,
que aniquilam alvos imprecisos
com suas bombas
e em meio a eles matam
velhos, jovens e crianças

As carnes das crianças são tão frágeis,
as bombas dilaceram em questão de segundos...
Contudo, o preparo anterior foi longo,
pesquisas foram feitas, soldados treinados
e bilhões e bilhões de dólares investidos

A guerra, senhores, é cara,
mas a regra é explorar
os povos do Iraque.
Arrancar-lhes a autonomia
porque Saddan Hussein
se nega a se curvar ao Império.

Os mísseis Tomahawks
já não causam medo
As sirenes tocam
mas os povos do Iraque
permanecem entrincheirados
à espera do inimigo invasor

Os jovens soldados americanos
não sabem da verdadeira causa da guerra
e acreditam que Saddan Hussein é inumano
Por conta isso matam velhos,
jovens crianças inocentes
com seus fuzis com lunetas infravermelhas
e miras de raio laser...

Em Defesa de Todos os Povos do Iraque (1)


"As cidades podem vencer, Stalingrado!"
Carlos Drummond de Andrade

Eu não sou pela paz, simplesmente pela paz
Sou pela justiça que traz a paz forjada
Os homens que praticam genocídios
devem ser julgados ao fim da guerra
para que não paire no mundo o medo

O massacre contra os povos do Iraque
não pode ficar no "ora veja"
As crianças mortas sob as bombas Tomahawks
não podem ser esquecidas
A destruição dos prédios históricos
não poderão ser reconstruídos
Os crimes, portanto,
não podem ficar impunes

Alguém deve ir aos Tribunais
Os criminosos da guerra,
os chefes das forças invasoras,
os mandantes dos ataques
não podem escapar ilesos

A paz pela paz
não pode acontecer,
se crianças foram mortas,
se jovens adultos foram massacrados,
se velhos doentes foram humilhados

A paz pela paz
não deve ser o fim
Os vitoriosos...
(não podem existir vitoriosos
nesta guerra tão desigual, tão desumana)
Os vitoriosos devem ser julgados,
o perdão deve ser riscado do dicionário
pois os mortos,
principalmente as crianças inocentes,
não podem agora dizer
se perdoam ou não seus algozes

Sentimentalmente


O sentimento mente
para nós mesmo
com o propósito
de nos deixar
menos vulnerável

O coração recusa
se mostrar pronto
para o amor

Faz de Conta, de José Serra, candidato 2010


"Faz de conta que eu não vim"
diz Serra à entrevistadora.
Faz de conta que eu fui pra Brasília
Que deixei o governo de São Paulo
Tentei pegar o bonde,
montar no cavalo arreado
Faz de conta que a eleição terminou.

"Faz de conta que eu não vim"
Diz que estou noutro departamento
encontrei outra saída de incêndio
outro trem, agora de volta
para a dura realidade dos fatos
do eleitorado cansado de mudança
de promessas desprovidas de fundamentos
de programa de governo de faz de conta

Faz de conta que era uma vez
uma eleição em dois mil e dez
na qual eram tantos, sobraram três
mas ficaram as entrevistas
as perguntas inconvenientes
as pesquisas e por fim a própria eleição
da qual não tinha como escapar

Um Ponto


Um ponto qualquer
no rumo de uma linha
que segue paralela
a outra linha
invisível de nosso ser

Uma sequência de pontos
forma esta linha
e paro em todos
para olhar

Saudade é o bicho


Saudade é um bicho danado
Mexe com a cabeça e coração
A gente quer esquecer
Mas o peito salta saltitante
O coração no céu da boca
Quando estrelas deveriam brilhar

Tudo já foi Dito!


Tudo já foi dito!
Onde, contudo,
está a prova
de tudo que já foi dito?

Onde está escrito
tudo que está dito,
dito em um segundo,
num segundo plano...

Não importa, quero prova
Quero a trova, só pra
ter certeza que este poema
já foi publicitado decerto
em algum século vindouro
por alguém e não outro

Antigamente

Não se veem mais poetas como de antigamente
Os poetas de antigamente escreviam à mão
em brancos papéis suas diletas poesias...

Bem antes, porém, os poetas cantavam musas
intrusas, em métricas precisas e de cabeça
guardavam na memória e iam aos recitais

Depois chegaram as máquinas Remington
os poemas surgiam datilografados
até convivermos com o modernismo
e desaguar no concretismo...