Dever do poeta e da sua poesia


Poeta, a dor do Homem
deve ser contada,
falada, gritada no meio da praça,
                        da rua,
em cima das mesas de bares,
nas conversas de amigos

Poeta, a pobreza do Homem
deve ser denunciada
ao Homem que é pobre
e não sabe que sua miséria
é em função da espoliação que sofre
e da concentração de riqueza

Poeta, a mulher com filho no ventre
triste espera o marido
que foi à caça de emprego decente
e certamente voltará de cabeça baixa

Poeta, a poesia inútil
não fala o momento real,
não fala da dor, não intima o amor,
não busca a liberdade,
não xinga os merdas burgueses,
não odeia as desigualdades

A poesia inútil é uma poesia
de puxa-sacos e bundas-moles
e não fala nada com nada

Poeta, a poesia verdadeira
não precisa de rima pra ser poética,
precisa somente se comprometer
com o sangue que flui nas fábricas,
nos campos pela reforma agrária,
nas paredes da construção civil,
nas veias do povo procurando sua história,
contra o ódio, a alienação, as jaulas,
as algemas, contra tudo, tudo, tudo
e quer o homem pateta inautêntico

Poeta, o Homem da rua deve ser inspiração
Nós devemos captar toda tristeza
que encobre o espaço, toda agonia
que anda com o Homem na rua

Poeta, o canto que de canto a canto
será declamado, ritmo e melodia,
de amanhecer e descobrir o dia,
tem de sair da poesia
ou não seremos poetas.

#SonhoDeMenino


Nenhum comentário: