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Mato Grosso é Pura Energia


Mato Grosso é pura energia
Temos rasqueado: Pescuma e Bolinha
Ventrecha, pacu assado e pirão
São tantos acordes energéticos
que mexe com a gente e a raça

Mato Grosso é pura energia
Henrique & Claudinho são chiques
sinfônicos, destros e maneiros
Quando o povo estranha puxa o axé
pois o rasquear é coisa de cuiabano

Mato Grosso é pura energia
O carnaval gradiente energy
dois mil watts de potência na avenida
levanta a galera até quando pode
a fatura ser paga com juros nacionais

Mato Grosso é pura energia
O autor das primeiras marchinhas
chama-se Benjamim Ribeiro
energezizando os antigos carnavais
Sayonara, Clube Náutico e Dom Bosco

Mato Grosso é pura energia
Zé Boloflô com seus corais infantis
(Não há mais de ser esquecido)
precursor do deboche e versos sacanas
e sempre na lembrança dos velhos foliões

Mato Grosso é pura energia
Antes dos pagodeiros: Baiano
Cuiabá Samba Show, Edinho
o quente era Jacildo e seus Rapazes
e o hit "São Paulo não pode parar"

Mato Grosso é pura energia
Roberto Lucialdo e família Fonseca:
Gilmar, Joãozinho e Jú Baiana
Os românticos nos BBRs da vida
animavam os casais de desquitados

Mato Grosso é pura energia
Os cordões Sempre Vivinha
Estrela Dalva, Estrela d'Oriente
desfilavam debaixo pra cima
até chegada das escolas ladeira abaixo

Mato Grosso é pura energia
Nunca tivemos Carmen Miranda
As damas eram Donana, Carminha
Mas sob as luzes vermelhas
todos se divertiam para valer

Mato Grosso é pura energia
Todos nós sabemos a gênese
De como se forma um povo
Gente de todos os brasis
e um resto de cuiabanos

Mato Grosso é pura energia
Sabemos também que a propaganda
"tem o dom de iludir", querer enganar
mas o povo matreiro sabe
das sub-intenções e dará o troco (?)

Mato Grosso é energia pura
seus artistas, cantores e violeiros
que fazem a alegria da gente
seus trabalhadores que alimentam
transformam este estado portentoso

VÊNDESSE PARTIDOS


Vêndesse
Partidos e políticos!
O preço? é uma pechincha
Um ministério, uma rodovia
ou 200 milhões de reais
da Caixa Econômica Federal

Vêndesse...
A reeleição precisa ser ganha
Os partidos e políticos,
não importa o perfil,
têm um preço
avisam os mercadores

Vêndesse
pás e picaretas
Pás, pra enterrar
as ideologias e ética
Picaretas para cavar
uns carguinhos
na administração indireta

Vêndesse
biografias inteiras!
Para permanecer no cargo,
no poder real ou não,
homens se desdizem
fazem-se de surdos
lerdos, esquecidos
de suas ações passadas
de forma sumária

8 de Abril: Hoje é aniversário da Cidade


A Ivan Belém
Hoje é aniversário da cidade...
Pessoas transcendem nesta data
Outras passam indiferentes
A moça sonha com o namorado
O casal briga por necessidade


Porque é aniversário da cidade
Alguém se sente realizado
Outro, muito – muito, frustrado
Um consórcio se consuma
Entre quatro paredes e a lua de mel


Pelo aniversário da cidade
Neste dia se derruba um prédio
do patrimônio artístico e histórico –
E constrói novas agências bancárias
Em becos, esquinas ruas e avenidas


No ser aniversário da cidade
Um fulano senta sozinho
E bebe uma cerveja num bar
Enquanto outro doente sonha
Em realizar a cura por mágica
Sendo aniversário da cidade
O bêbado está falando alto
Um terno e gravata se irrita
Um prefeito interino que ri
Outro candidato espera a vaga
continua na próxima página

Venda da Cemat


Meus olhos são lágrimas duras
A Cemat está à venda.


Quando acabava a luz
quem tinha automóvel
corria para o aeroporto
para iluminar a pista
e o avião poder pousar


Meus olhos são lágrimas duras
A Cemat está à venda.


A globalização, finalmente,
chegou a Mato Grosso
sacrifício não foi pouco
a dor será maior ainda

Fora, Mário Jorge Lobo Zagallo


Fora, Zagallo!
O Brasil não precisa de técnico.
O Brasil precisa de um treinador
que ame o futebol
que goste da torcida
que torça na partida e,
fundamentalmente, adore o gool.

Fora, Zagallo!
O Brasil não precisa sofrer mais
Ainda dá tempo de uma saída
uma aposentadoria honrosa

Fora, antes que o Brasil perca o jogo...
O campeonato, claro, não é nosso
nenhum país...
- fora o Brasil, aquele Brasil de 58,
na Suécia -
nenhum pais
ganhou a taça noutro continente

Fora, Zagallo!
Podemos perder a copa
como na Espanha
de cabeça erguida
cheio de moral
com a crença
(Se não fosse o se)
que o time podia ser campeão

A Luz Acesa?

A luz está acesa, mas será apagada
Riscada do quadro negro, do dicionário,
da mitologia, do caderno de exercícios
de tudo que se possa lembrar o que é luz

A luz está acesa, mas não resistirá
o governo vai sobretaxar, aumentar o ICMS
liberar a tarifa por conta do atraso
da falta de nuvens carregadas de chuvas

A luz está acesa, mas não se sabe
até quando a resistência vai durar
qual é a garantia de fábrica, se fechou
as portas, exclusividade do racionamento

A luz está acesa, mas não existe
previsão de chuvas de inverno
ou inferno do verão, outono e primavera
e os reservatórios estão secos

A luz está acesa, mas não é luz
É a treva da insensatez de um governo
Que entregou tudo e não sabe sair
Do próprio enredo em que se meteu

A luz está acesa, mas não há futuro
os oráculos não prevêem dias bons...
tampouco dias ruins, apenas dias
sucedendo aos dias depois de dias

A luz está acesa, mas não a lâmpada
Todo o projeto de energização foi posto
Em segundo plano. Agora, não existe
plano, nem plano B, apenas uma estupefação

A luz está acesa, mas na imaginação
O brasileiro, coitado, foi mais uma vez
Enganado, ludibriado pelas promessas
Falas mansas (insanas) desse governo

A luz está acesa, mas... apenas mas
As palavras não cabem, tudo é pirado
O Brasil não merecia, o túnel não acaba
E a luz ao fim é apenas um sonho. Um sonho...

O Buraco


De quem é este buraco?
Alguém tem que se responsabilizar
Está tomando proporções enormes
e ninguém sabe a extensão exata
onde começa, onde termina
Se é que tem um começo, meio e fim


De quem é este buraco?
Quem é o pai desta coisa
Que enfeia a rua, o bairro, a cidade?
Este buraco deve ter um dono
senão não seria perpétuo
cada dia maior, mais vistoso
e dá até gosto em olhar


De quem é este buraco?
Os motoristas de táxi, de ônibus
querem saber quem é o responsável
pela manutenção do buraco


O presidente da associação de moradores
já manteve audiência com o prefeito
foi à câmara de vereadores
pedindo que se crie uma lei
anistiando o dono do buraco
desde que o leve para casa


De quem é este buraco?
Olhando com um pouco de simpatia
vê-se que o buraco tem alguma razão de ser...
Foram as chuvas, foi o verão
e logo estaremos no inverno
Será que o buraco fica para a estação?
Será que outro cego vai cair de novo?
De quem é este buraco?
Por favor, ouçam a pergunta
O governador, eu sei, claro,
vai dizer que não conhece o buraco


O carteiro não é capaz
de dar qualquer notícia
A polícia já desistiu
de tentar autuar em flagrante
o autor desse delito


De quem é este buraco?
Alguém tem que fazer alguma coisa
O buraco está saindo da rotina
vazando pelas paredes
O pentacampeonato está sob risco
Não se faz mais gols nos estádios
por conta do buraco


De quem é este buraco?
Os inquilinos, os condôminos
estão curiosos, querem uma satisfação
uma justificativa, por menor que seja
As bancadas de todos os partidos
pensam em um decreto legislativo
declarando o buraco de utilidade pública
Afinal, o buraco é mais em cima
ou mais embaixo?


De quem é este buraco?
Os feirantes já não fazem a feira
os lojistas mandaram para o SPC
o buraco, contudo, resiste
continua na próxima página


Um crítico de arte
se curvou ante o buraco
É a nova vanguarda”, disse
De quem é este buraco?
A verdade deve ser dita
A cidade não é mais cidade
as ruas não mais existem
as casas edificadas, os prédios
e conjuntos habitacionais inteiros
perderam a personalidade
o caráter físico


Tudo se integrou à paisagem insólita
Agora, apenas o buraco
domina os pontos cardeais
E ninguém é capaz de responder
De quem é este buraco?”.


#SeletaCuibana

A Reforma da Previdência (1998)

A reforma da previdência precisa ser feita!
Avisam os políticos da cara de pau
à patuléia que não tem como se defender
de tanta desfaçatez que lhe pregam à nau

A reforma da previdência é a salvação
do sistema concebido para falir...
Só que esquecem de dizer que meteram a mão
financiaram obras e mais obras faraônicas
a construção de Brasília, a ponte Rio-Niterói
a rodovia Transamazônica e a ferrovia do aço
de tal forma que agora não tem como safar

A reforma da previdência, cuidado, é armadilha
para o trabalhador que suou a camisa
a vida inteira e vê sua aposentadoria querida,
virar migalha numa fração de segundos
no voto canalha do deputado despudorado
que se vende a luz do dia de cara lavada

A reforma da previdência precisa sair do papel
mais que urgente, prega o ministro (aquele mesmo)
que se aposentou com 44 anos de idade
e o presidente com duas aposentadorias indecentes
e o Congresso Nacional com sua corja de asnos

A reforma precisa ser feita, diz o político
Segundo ele, o brasileiro não gosta de trabalhar
O trabalhador brasileiro, porém, não é paralítico
nunca se furtou a dar sua contribuição e penar

A reforma da previdência tem uma mentira
de ter mais aposentados recebendo pensão
que trabalhador na ativa com holerite
participando na formação do fundo

A reforma, claro, é feita com essas notícias
o povo, que não tem como auditar essa informação
para saber se é verdade ou não, fica o dito,
meio sem saber o que fazer, quieto
mas muito cabreiro ao assuntar de longe

A reforma vai ser feita, na marra,
goela abaixo do trabalhador, sem força
para exigir a carteira de trabalho assinada
por isso vive no subemprego submisso

A previdência, com a reforma, mentem,
vai sobreviver muito mais, com certeza
mas o trabalhador não vai viver tanto, aviso,
e, finalmente, ao fim da vida sem valia
sem nenhuma perspectiva, há de apelar
para a Divina Providência,
que não tem nada a ver com essa safadeza,
por uma morte em paz.

Cadê a Luz que Luzia

Acabou a luz
Mato Grosso está às escuras
O transformador queimou a resistência
A Cemat não pagou a conta
O vendaval foi em Rondonópolis

Acabou a luz
O eletricista esqueceu o fusível
vai agora tentar uma gambiarra
um gato, um sistema alternativo
para ver se consegue transmissão

Acabou a luz
O centro geodésico da América
está escondido no mapa longínquo
por causa disso ninguém sabe
o que acontece na Assembléia

Acabou a luz
O refrigerador está apagado
a carne pode deteriorar-se
Em meio ao caos formado
ninguém diz nada com nada

Acabou a luz
A empresa, distribuidora de energia,
não consegue dar uma explicação
plausível, mínima que seja,
para deixar a população sossegada

Acabou a luz
Nos bairros periféricos a violência,
que já era uma constante, aumenta
As donas de casa ficam nervosas
por causa das filhas que voltam das escolas

Acabou a luz
O serviço de manutenção não descobriu
a causa, o efeito: foi o relâmpago, o raio
que partiu o fio de alta tensão
ou simplesmente esqueceram de ligar o quadro?

Acabou a luz
A Cemat esqueceu de pagar a conta
mas não esqueceu de cortar a luz,
o fornecimento do seu Zé Prequeté
que está com o salário atrasado a mais de mês

Acabou a luz
O salário do funcionário público não vem
o empréstimo bancário demora pra sair
o FMI faz exigências incríveis, porém,
moralizadoras, segundo o discurso oficial

Acabou a luz
O transformador queimou a resistência
Estava velho, recondicionado
apesar de estar interligado ao Sistema
Nacional de Energia Elétrica

Acabou a luz
O vendaval foi no sul do Estado
O linhão não chegou até o Nortão
A floresta está intacta(?) por industrializar
Tudo por culpa e obra da Eletrobrás

Acabou a luz
A luz da lua não é suficiente
Apenas os namorados fazem uso
As estrelas estão anos luz daqui
O sol, só depois da madrugada

Acabou a luz
O cardíaco na mesa de operação
A Santa Casa não tem gerador
A televisão saiu fora do ar
Cuiabá estava salva, momentaneamente

Acabou a luz
Os motoristas, trabalhadores, os meninos
e meninas de rua, as prostitutas,
os executivos e empresários
estão pensando em voltar pra casa

Acabou a luz
Os lampiões que estavam guardados
foram retirados dos armários
A vela de sete dias está acesa
Espermacete bóia na água turva

Acabou a luz
Ninguém se importa. O velho,
O feirante, o mendigo, o casal jovem
Todos não têm a quem pedir S.O.S.
Os Beatles não cantam mais Help

Acabou a luz
A luz acabou ponto final
O fim do filme não tem happy and
O eletricista desistiu de consertar
O maestro desistiu do concerto, adeus.

Plágio in Pessoa

O governador é fingidor
Finge tanta sinceridade
Que chega fingir ser um teatro
O ato que vez outra é ator

Agora, na horda de governar
Se entretém com tanta precisão
Com o toma-lá-da-cá-o-meu
Até perder de vez a razão...

Os que vêem e ouvem em cena
Na carreira deste cotidiano
Não entendem nenhum dos dois
Nem quem é o ator, nem o teatro.

Minha Cidade Não é a Mesma Que a Cidade do Prefeito Bento Lobo

Quero minha Cuiabá, se possível,
voltando ao passado com as palmeiras na
avenida Ponce e o Armazém Mercado aberto onde
ia roubar azeitonas pretas, leite condensado e Sonho de Valsa
A cidade do prefeito transforma-se diária
para se fazer bonita e se esconde e esconde
as favelas, os grilos os esgotos a céu aberto
Minha cidade...
As igrejas seriam sempre de barro, barrocas
quando depois da missa aos domingos
as pessoas saiam para passear no Jardim Alencastro
A cidade do prefeito é veloz, o asfalto preto
encobre os paralelepípedos e as ruas de lajotas em nome da
modernidade se constrói o elevado Maria Taquara 1
Minha cidade já teve mangueiras, pitombas
cajus, cajazinhos, goiabas tudo tão gostoso e aos montes
A cidade do prefeito se ornamenta com plantas
trazidas da Índia, de Goiás e Rio Grande

Minha cidade não é a mesma que a do prefeito
embora sejamos cuiabanos e Cuiabá,
trezentos anos se modifica pela ação do tempo
Minha cidade vai daqui ali... Avenida Dom Bosco
Colégio dos Padres, Campo D’ourique, Mundéu...
Legendas que se perderam ao sabor das mudanças
que o futuro no pretérito impôs
A cidade do prefeito é um milhão de votos
um retrato na galeria, umas páginas na história
quem sabe, um nome de rua, no século futuro...
Minha cidade faz aniversário quieta, saudosista, serena
sem remorso de ser singela
A cidade do prefeito, oito de abril é fanfarra
desfile cívico-militar e fogos de artifícios.

A Cuia Vai por Cuiabá a Fora

Cuia vá! Cuia vá! Cuia vá!
Gritava o português atrás da cuia que lhe escapou da mão
quando bebia água na beira do Coxipó...
Assim narra a mais divertida versão para o saboroso nome Cuiabá

Os primeiros a chegarem aqui - antes de todos os primeiros -
foram Miguel Sutil e Pascoal Moreira Cabral
- Um virou anel rodoviário, o outro, antes de se tornar
praça que não é mais praça, era o Campo D’ourique
onde os circos se armavam e trapezistas voavam até o infinito
enquanto motociclistas do globo da morte
desafiavam nossa coragem em olhar...
Meu pai sentava nas cadeiras e o menino assistia do poleiro

Essa Cuiabá está perdida, não mais existe
Não resiste, mas não desiste, não desiste, não desiste

O Campo D’Ourique, o Armazém Sampaio
João-João, o craque Almiro - depois de tentar substituir Pelé,
foi jogar em Portugal e voltou com sotaque europeu -;
as peladas, o soltar pandorgas, quermesses, o bairro Cai-Cai,
bandoleiros, Mão Branca e o motorista que viu a Moça Loira
entrar no Cemitério da Piedade estão perdidos na poeira do tempo
como o cine poeira da 24 de Outubro...

Naquele oito de abril, o português, que corria rio abaixo atrás da cuia,
não podia, não sabia imaginar que a cidade tomaria tal feição!

Chegaram os navios cheios de tapeçarias, copos de cristais,
computadores, uísques do Paraguai, gás néon,
retrato três-por-quatro na hora, o lambe-lambe da Ipiranga,
BrasilSalt, Motosblim, Av. da Prainha...

Em meio a isso tudo, os negros cuiabanos de pés rachados
construíram a capela pra São Benedito e Nossa Senhora do Rosário
depois da conclusão da catedral de N. Senhor Bom Jesus de Cuiabá
que Dom Orlando Chaves, anos mais tarde, cismou de derrubar

Quando o rio encheu, paus rodaram, veio gente
do Rio Grande do Sul, do Paraná, das Minas Gerais.
Os paulistas já estavam aqui entraram como bandeirantes
a RVO foi a primeira a noticiar

Um, entre tantos nordestinos, se fez prefeito, depois governador
José Lopes, passaporte de Portugal, os Müller da Alemanha...
Agora, porém, ninguém consegue separar nada de nada
é tudo uma cuiabanada só

O português do Rio Coxipó que gritava: “cuia vá!”
queria o ouro, shopping center Goiabeiras, Bairro Popular
- O CPA é grande pra chuchu -
O historiador Rubens de Mendonça agora é avenida e passa além
do monumento Ulysses Guimarães

O Mercado do Peixe vai virar museu,
os turistas vão ficar com água na boca e comer pacu no Bar Flutuante*
Dona Zulmira brigou com as moças do Clube Feminino e fundou o Mixto
Professor Ranulfo, no Dutrinha, não conteve a surra do Chicote

Quem é que podia calcular tudo isso?
O português que gritava “Cuia vá!” jamais imaginaria que o cine Tropical,
apesar do sucesso, fecharia as portas, como o Banco Financial, Sayonara,
Panacéia, Palmeirinha, Pedro Biancardini, a dança de boi-à-serra, Lourdinha
e o Armazém Mercado de João Cartola

Agora, Cuiabá perde a pronúncia, suas mulheres, por causa do calor,
ficam mais sensuais e provocantes; o ônibus anda até na pituca de gente
Um crime - estampa o Jornal do Dia - aconteceu ontem num bairro periférico

Cuia vá! Cuia vá! virou Cuiabá
O índio de “coque” na beira do corgo ria do desespero do português...

A caixa preta não revela: a mangueira de cem anos tombou
para dar lugar a um prédio da Encol; o Hotel Centro América babau
Quem muito atiça Deus castiga... Cuiabá, adeus, até mais voltar.

(*) O nome comercial era Restaurante e Peixaria Flutuante, construído entre 1968 e 1969, inaugurado em 1970 pelo casal Manuel Seixas e Nemézia Angelo e funcionou por mais de 45 anos. Em 2017 foi condenado pela Delegacia Fluvial de Cuiabá e desmontado em 2018.

#SeletaCuiabana

Cuiabá em Chamas

Cuiabá está pegando fogo
Chapada está em chamas
O céu que era azul sumiu
O anil não é mais anil
Os homens de gravatas
Não se responsabilizam
Os governantes pra disfarçar
Não usam mais gravatas

Cuiabá – olhem – está ardendo
E tudo era tão simples
As mangueiras nos quintais
Os sarãs nas margens dos rios
As nuvens e os temporais
Tudo no seu tempo certo
E os cuiabanos preguiçosos
Não reclamavam tanto do calor

Cuiabá atual é só asfalto
O prefeito, pra mostrar serviço,
Pinta ruas e ruas de preto
O Morro da Luz é só entulho
Os escapamentos dos ônibus
pela Nova Era dão sua contribuição

Cuiabá arde dentro da ordem
Os semáforos não funcionam
Os motoristas se desesperam
O horário bancário foi alterado
O caixa eletrônico está fora do ar
O Equador é mais em cima
Ou mais embaixo?

Cuiabá está em chamas
As labaredas em Chapada brilham
Nas noites como cartão postal
Os decretos proíbem queimadas
Os alvarás liberam o cerrado
As viroses internam as crianças
E trabalhadores bebem cervejas

Cuiabá está fora de controle
Os agentes corretores invadem
Mais uma área verde e o ano
Eleitoral dá sua parcela
E mais um grilo se consolida

Cuiabá está pegando foto
No satélite infravermelho
Os balneários estão lotados
Os rios poluídos secam-se
A umidade do ar diminui

O Jardim Alencastro não é jardim
A praça da República sem sombra
Não temos para onde fugir...
Sobra no bairro Goiabeiras
O shopping que se mostra variável
Se a Cemat não apagar a luz

Ps.: Caro Enock, Cuiabá deixou de ser lírica
Ela é vítima de sucessivos enganos administrativos
De mentiras eleitorais, de conchavos políticos
Portanto, não há sorte num tempo futuro imediato.

Do Livro "Seleta Cuiabana - Cinquenta Poemas que Falam Cuiabá" página 51


A eleição vem aí

A eleição está ganha
Os partidos políticos
Não são mais partidos
Porém balcões de negócios
E a sorte dos candidatos
Cabe numa mala... preta

A eleição está ganha
O governador mudou de sigla
Não é mais socialista
Incorporou o neoliberalismo
De corpo e alma até a medula
Que a medula é flexível

A eleição está ganha
O calendário foi divulgado
As urnas eletrônicas
O cartão magnético Visa
Os juízes eleitorais
E os mesários estão à postos

A eleição está ganha
O movimento nos sindicatos
O Movimento dos Sem Terra
Os discursos de esquerdas
E as reformas de base
Serão propostos novamente

A eleição está ganha
Os cabos eleitorais, vejam
Estão eufóricos
A chance de uns trocados é Real
Enquanto o desemprego segura o plano
E o presidente se segura no plano

A eleição está ganha
Os vereadores viram a casaca
Os jornalistas se oferecem
Os marqueteiros aprontam
A CPI, para o bem da eleição,
Foi prontamente arquivada

A eleição está ganha
Os programas de televisão
Debatem seus favoritos
As campanhas promocionais
Leve quatro, pague três,
Por quantos votos?

A eleição está ganha
O parlamento não se reúne
Os deputados lideram invasões
Encontros empresariais
(Afinal, a caixinha é necessária)
E convenções são armadas

A eleição está ganha
O Ministério Público endoça
(O pleito não é um circo?)
O povaréu está com fome
Falta pão na mesa
E água nos bairros periféricos

A eleição está ganha
Os padres e pastores
Guiam suas ovelhas em rebanho
Os grupos afros, gays e lésbicas
Expõem suas tendências
E querem um representante

A eleição está ganha
Os sindicalistas da CUT
Da Força Sindical, da CGT
Se digladiam em público
Pela massa falida
Da base da categoria

A eleição está ganha
O regime, não importa,
Emagrece, engorda, é democrático
Aos olhos do freguês
Do ponto de vista
Desde ou daquele lugar

A eleição está ganha
Todos saem ganhando
Sobras de campanha
Vão para os bancos da Suíça
O título de eleitor, coitado
É surrupiado mais uma vez.

Cuiabá Verde

Cuiabá amanhece bonita nesta manhã de abril
Manga Bourbon pepita ilumina no alto do céu,
caju, morena, aos cachos, é doce no tacho
- Viva a Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá!

Cuiabá, nesta manhã de abril, amanhece bonita
crianças brincando de esconde-esconde
nos seus quintais... - Me dá um beijo, morena,
que essa vontade de amar está à solta no coração

Cuiabá, em abril, amanhece demais de folienta
passarinho passeando pela paisagem da praça
beija-flor beira a pétala sutil como ave
aventureira lá e cá nas páginas de um jardim

Cuiabá, morena, é verde e gostosa
quando chove até garoa e faz bastante calor
Corpo na rede e preguiça que hoje é feriado...
- Viva a Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá!
Poema realizado a partir de uma tentativa de parceria com Carlos Silva (aonde andará Carlos Silva?) que usou apenas o primeiro verso e fez outra letra diversa.

O PRESIDENTE À VISTA

O presidente está enredado.
São rendas finas, quase invisíveis
Mas que o povo enxerga
Mesmo estando de longe.

O presidente está enrolado
É como se não estivesse
Mas a teia de finos fios
transparentes se mostram aos olhos
mesmo de quem está longe

O presidente não queria estar
nessa incômoda situação
enrolado em mil tentáculos
em finas teias armadas e
percebidas por quem não está presente

O presidente não desiste
tenta mostrar-se solto
leve como um bailarino
num musical da Broadway

O presidente está enredado
numa rede de vários pontos
Mas ele não é pescador
se diz presa de armadilha
mas o povo pensa diferente

O presidente está enganando,
tentando enganar, faz cara feia
debocha, usa de subterfúgios
mil, os olhos, porém, não mentem

O presidente está de mãos dadas
com o polvo e seus filhotes
Mostra-se conhecedor, cientista
David Copperffield, mas não convence

O presidente não queria estar
estacionado onde está agora
Tiro ao alvo na garagem
sem para onde correr da estrebaria

O presidente está enganado
gado novo, prumo sem rumo
sem como se explicar
o último fio de cabelo preso.