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Globo Rural 01 03 2020 Governo Federal corta bolsa família no MA


Vendo essa matéria de Sidney Pereira, no Globo Rural, exibida hoje, 01 de março, lembrei-me de um antigo poema, publicado no livro "Abaixo-assinado" (1977)


Menina de Abril


Menina de abril
dia primeiro
mentira foi

Não tem pão
legumes não tem
Menina de abril
dia primeiro
mentira foi

O prato sobre a mesa
vazio se encontra
A saliva mata a sede
a forme mata a fome

Menina de abril
dia primeiro
mentira foi

Ventos não ventam
salários não aumentam

Menina de abril
tudo é mentira
Que Pedro operário
de vida melhorou
que a chuva
na lavoura choveu
que a colheita foi boa

Dia primeiro
mentira foi.

As Flores Inúteis

Mato as flores do quintal
com tiros de espada afiada

As flores são inúteis
no espaço morno de março
As flores não são necessárias
ao homem que ama na rua

A cigarra
estrila seu canto
numa louvável tentativa
de alegrar as coisas
e os homens de março

Só se ouvem
os suaves sons de vôos
As borboletas guiando
os pássaros profanos
para outra estação...

- Descobrirão os pássaros
a verdadeira primavera?!

Um grito se solidifica no ar
exigindo seriedade
respostas pras perguntas
e coragem pra concluir
a peça, o livro, o diário
todos em stand bay

Juan

A todos aqueles que partiram.

Juan, quantas vezes lutastes
por mim e por meu povo?
Quantas vezes você
ao nosso lado dizendo:
- Vamos pegar o rifle
vamos pegar a enxada
vamos fazer este azul
o azul mais bonito do mundo

Juan, qual o segredo
da amizade mais pura?
O mais puro sentimento
é amar a gente da gente?


Torna-me puro e fecundo
como teu sangue escorrido
sob o fogo da metralha

Semente de flor

Ainda que tudo desintegre
Desmorone, desmanche
Na poluição funesta

Ainda que todos se calem
Desliguem os rádios
E esqueçam a música

Ainda que prostrem os risos
Do começo, do meio e do fim
Sem ter havido comédia

Rosa dos ventos

Qual caminho seguirei
que rumo na vida
tomarei diante tal fato?

Não posso pegar na metralhadora
não posso correr por entre farpas de arame
se dispensado fui do Exército

Estão patentes os fatos:
Mendigos mendigando
entre lixos formam moradias
nas calçadas corpos estendidos

Poesia, por mais lírica,
não ameniza a vida
mesmo que diante tal fato
ela se encontre

Se eu calar
covarde serei
Covarde serei
por não tentar despertar
as pessoas do sono
que agora dormem

Covarde serei
se abandonar a tocaia
ao amanhecer do novo dia
(dia da bonança)
e desejar a todos: Bom-dia

Menina de Abril

Menina de abril
dia primeiro
mentira foi

Não tem pão
legumes não tem
Menina de abril
dia primeiro
mentira foi

O prato sobre a mesa
vazio se encontra
A saliva mata a sede
a forme mata a fome

Lucidez


Um riso profano
junto ao prato de comida
Um dente com cárie
no céu da boca que beijo

Novo dia amanhece
para um sol desbotado
- estão a rir de mim?

Natural

Hoje, soube pelo jornal
da morte de um animal

Foi uma morte estúpida
e besta

Era um mendigo, diz o jornal
O carro vinha em alta velocidade
o pobre coitado não olhou pros lados

Estados unidos d’américa do sul

América
teus soldados de guerra,
não são mais soldados
Tuas belezas da terra,
não são mais da guerra

(América
explique o que aconteceu com o Chile)

América
faça novos céus pros seus aviões
novos jardins para suas rosas
novos guardiãs para suas fronteiras
novos caminhos para a América...

No Centro da América
Cuiabá reparte sendas, estradas e ruelas
por quais vão negros, brancos,
paraguaios, bolivianos
e um brasileirinho
todos ao encontro
do novo sol da América

Em cada pátria, uma esperança. América!
Em cada canto um grito. América!

- Seringueiro dorme, dorme, dorme
senão bicho do mato vem te pegar
Guerrilheiro luta, luta, luta
que a vida é luta renhida
senão inimigos vem te matar
América
todos os teus muros
todos os teus homens
todas as tuas palmeiras
todas as tuas rolas
todas as tuas praias
todas as tuas mulheres
moças e crianças
todas as tuas lutas
todos os teus bares
todos os teus países
se juntassem num só canto
que enorme força seria

A Poesia de Meu Bairro

A poesia de meu bairro
está de partida pra Capital

A poesia de meu bairro
vai fazer curso de pós-graduação

A poesia de meu bairro
canta só para as elites

A poesia de meu bairro
usa óculos escuros

Efêmero amor

Efêmero amor
Foi o nosso
Passou de passagem
Numa curta viagem

Efêmero amor
Durou o quanto durou
Fiquei
Seguiu viagem

Efêmero amor
Destino determinado
Paradas estabelecidas
Nos moldes da viagem

Efêmero amor
Traços, tragos
Traçados, tratos
Tabelas de viagem

Último cangaço

Sou o rei do último cangaço
Lampião foi morto
de bala e traição

Sou o rei do último cangaço
como se não fosse
pagaria tudo a prestação

Sou o rei do último cangaço
pouco medo
muitas mortes em minhas mãos

Poema


São duas flores
Uma no vaso
outra no jardim
Uma é só tristeza
Outra é sorrisos e fados
Uma... Não veem a humanidade
que flores precisam
de chuva, sol, vento e liberdade?

Chegança

Manhã clara...
De manhã José vê
roupas brancas
de esperança no varal

Hairton Xevrolé
espreguiçou a alma
bocejou sem desespero
chegou mais pra perto
da mulher

Olha quanto vento
arrastando folhas secas
limpando o piso
para serem pisados
por pés molhados

Olha quanto pranto
quanta carne podre
estendida nas calçadas
quantos gritos, soluços
e gemidos nas calçadas
Quanto?
Quantos?
Hairton Xevrolé
vem sem desespero

Hairton Xevrolé
esperou que todos chegassem
habituassem com o assunto
assim conversou... lento
dando pausas
dando tempo pras perguntas
deu armas
e despedidas
- quem sabem não se veriam mais -
Mataram o cão policial
assim começou
a revolução dos mendigos
A bala firme
na sua resolução
faz buraco
faz escorrer sangue
da carne podre

Volta
debruça nos braços
os olhos se fecham na escuridão
com a certeza
que amanhã
vai ser profundamente clara

II

Vamos José
é manhã
é luta
é dia claro

José, vamos
Hairton Xevrolé
nos espera

III

Hairton Xevrolé
dia-a-dia
espera
compromisso é compromisso
José não deve
ficar omisso

Bandeira!
Bandeiras!

Hairton Xevrolé
espera atrás do dia
o sol e a sombra
do amigo José

Do oitavo andar

O homem do oitavo andar
olha para o alto e para baixo

Sonha em ser nuvem
pássaro, pluma, reza
asas, beijos, cavalo
crença, letras, cor e
principalmente suicida,
o homem do oitavo andar.

Aviso

Cuidado!
Não seja fútil
não seja mentirosa
não seja desgraçada

Dê seu coração
fuja daquilo
que seus pais querem
para você

Fuja do que eles querem
Eles querem pôr você
no figurino
da classe média burguesa

Canto para novo dia

A João Batista de Almeida

Dia
Porque insiste
Amanhecer com o mesmo sol de milênios?

Por que não amanheces
Sem mendigos
Sem vagabundos
Sem empresas
Sem palácios
Sem diferenças?
Todo mundo igual
Numa varanda vermelha
De uma casa sem cor.

AI 5


Dil, tua jaqueta fica imensamente
Grande em mim
Fico parecendo um bêbado
esfarrapado
por meio dessas ruas vazias de sentimentos

Aí 5 vezes
eu grito
eu choro
eu corro
eu morro de medo

Aí 5 vezes
eu digo que não posso
E não posso mesmo
Se tento eles me castram
tortura-me
tritura-me
Fico apagado
feito chama inválida
Inválido para o amor
Por isso masturbo constantemente

Rei belo

Fui visitar o Rei
Fui recebido com honras
Salva de palmas
E fogos de artifícios

O Rei mostrou-me
A plantação de Flores
Os sorrisos das donzelas
Ai! como eram belas...

Comi do bom e do melhor
Sentado à cabeceira
Em frente ao Rei
Humilde e bom