As Flores Inúteis

Mato as flores do quintal
com tiros de espada afiada

As flores são inúteis
no espaço morno de março
As flores não são necessárias
ao homem que ama na rua

A cigarra
estrila seu canto
numa louvável tentativa
de alegrar as coisas
e os homens de março

Só se ouvem
os suaves sons de vôos
As borboletas guiando
os pássaros profanos
para outra estação...

- Descobrirão os pássaros
a verdadeira primavera?!

Um grito se solidifica no ar
exigindo seriedade
respostas pras perguntas
e coragem pra concluir
a peça, o livro, o diário
todos em stand bay


Onde estão os palhaços
com suas metralhadoras
gargalhadas justas e
caras de deboche?

Onde estão os homens
de punhos cerrados
dentes cerrados
determinação cerrada
para restaurar este espaço?

Onde estão as mulheres
para parir as crianças que crescerão
com a nova geração de flores
que irão nascer depois
da execução das flores inúteis?


><> Poema do Livro Abaixo-Assinado (1977), editado com Luiz Edson Fachin.

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