Mostrando postagens com marcador #ImitaçõesDeSoneto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador #ImitaçõesDeSoneto. Mostrar todas as postagens

Mãos ao alto IV

Assim caminha a humanidade: este imita aquele,
A voz nem se parece, mas há uma falta de ridículo
Em meio a tudo ao que a gente vê, vive e vivencia

Uns, como os políticos, perderam a vergonha na cara,
São desonestos de chapa, e condenam os hipócritas
Que se fazem de virgens arrependidas, mas não arrepiam...

Quando a oportunidade aparece: o juiz vende a sentença,
O desembargador a liminar à meia-noite, o ministro o parecer
O advogado – que espetáculo – aprendeu tudo na faculdade
Com esses professores: juiz, desembargador, ministro...

O pedreiro, o padeiro, e todos os sem eira e nem beira,
E se miram neles e acham no direito de condenar o barão...
Mas a sentença, para ser justa (justiça se faça, é só uma)
Aqui na terra é aquela que diz: ladrão que rouba ladrão...

(Clique aqui para ler o primeiro da série)
 27/11/2004
#ImitaçõesDeSoneto

Cinco de Fevereiro


É vero, estou ficando velho, reconheço
Estou deixando a mocidade para traz
Os nervos não estão à flor da pele
Como antes, nem no endereço prometido

Estou ficando plenamente velho…
Amanhã ou depois de amanhã
Vai se confirmar, conforme combinado,
A certeza de ser mais velho ainda

De Alianças e Vaias


A João Negrão

Vejo alianças nas mãos das jovens médicas que vaiam
Velhos médicos cubanos pretos como nós brasileiros
Netos dos exilados da África em navios através dos mares
Rumo aos berços de todas as nações das quais pertencemos...

Não quero, porém, falar de negros, navios ou exílios tristes
Mas, sim das alianças nas mãos das médicas que vaiam colegas:
Ao ver as fotos, que prenunciam que as jovens podem ser mães,
E me pergunto, pois perguntar é meu ofício: que sentimentos,

Café, Leite e Lembranças

Quando peço um café com leite,
Não peço apenas um café com leite,
Está incluso uma xícara de lembranças

A medida exata dessas lembranças
Ninguém sabe precisar, aqui ou amanhã
Nas manhãs que se repetem matinais

Café com leite é uma receita perfeita!
O preto café se mistura ao branco leite
E forma essa tonalidade brasileira...

Ano Novo se Repete, também se Renova

O ano novo começa em primeiro de janeiro
E os anos, desde antes de nós, tem doze meses...
Os meses são os mesmos, os eventos reprisam
Em primaveras, verões, outonos e invernos...

Tudo se repete... Mas, repara, nada é igual
A vida é um ciclo, círculo, só que em espiral
Tudo muda, tudo se transforma, tudo melhora
Com o passar dos anos, dos dias, das horas


Língua Portuguesa

Nada é perfeito como a língua que falamos
No dia a dia de nosso cotidiano claro-escuro
Cheio de obstáculos para os sentimentos
Guardados a sete chaves nas artérias do coração

Nada é mais imperfeito que o sentir diário
Todas as palavras contidas no dicionário
São incapazes de explicar esse pulsar
Esse repentino abrir e fechar das retinas

As letras, fonemas, palavras, orações juntas
Justas, milimétricos dois e dois são quatro
O abecedário inteiro a nosso dispor aqui...

Tudo, imagina, tudo corre atrás da perfeição
Porém, sem sentir o interno de todos nós,
Somente a língua, impassível, continua bem dita. 

Amanhã Poderia ser Hoje

Amanhã tem eleição, mas poderia ser hoje,
E o Brasil inteiro vai votar no presidente,
E a cara do Brasil, não sei por que, vai mudar,
Como também mudou a cara do eleitorado.

Alguns ainda vão votar inconformados
Sem alegria da democracia no coração
De viver a democracia sem entender
E ver o voto apenas como uma obrigação

Soneto


Eu não tenho medo de fazer soneto
Soneto, eu não tenho medo de fazer
Medo de fazer soneto, eu não tenho
De não fazer soneto eu tenho medo

Soneto, eu não tenho medo de fazer
Medo de fazer soneto, eu não tenho
De não fazer soneto eu tenho medo
Eu não tenho medo de fazer soneto

Dois Garis e um Boris fora da linha

Que digno, dois garis, no alto de suas vassouras,
Desejar feliz ano novo, muito trabalho e dinheiro no bolso
Não apenas para os pobres, como eles, mas para todos,
Inclusive os poderosos, pois eram votos de felicidades

Que indigno, um jornalista, abaixo da mediocridade,
De sua bancada, falando de forma vexatória,
atrás das câmeras, com luzes apagadas e acreditando
que os microfones estivessem desligados, dos lixeiros

Achar Todo Mundo Acha

Você acha que está certo
Eu acho que está errado

Você acha que estou errado
Eu acho que estou certo

Você acha que está certo
Em achar que estou errado

A luz de Nossos Olhos

A graça de estar vivo
E estar sempre atento
É o de poder conhecer
E fazer novos amigos

A graça de estar vivo
É poder olhar nos olhos
Dos amigos mentirosos
E ainda poder amá-los

A graça de estar vivo
É perceber que igual
Somos a todos nós

Outros que também
Tentam se esconder
Da luz d' olhos que nos veem.

#ImitaçõesDeSoneto

Sexto Dia

Deus estava imerso nele mesmo
Estático em silêncio de meditação...

Antes do silêncio infinito,
Antes do infinito
Nada antes de tudo
Tudo antes do nada
Que tudo e nada era Deus

Por Esta Vida Que Vai


Por esta vida que vai,
por este norte que vem,
todos vão caminhar.
Uns lentos; a marchar
depressa, outros, na volta

Por esta vida que vem,
com certeza (ou sem)
de algum lugar à pé,
a fé jamais demora
plantar a sua semente

Pois neste rumo se vai
aos poucos, devagar,
no pulsar do velho
coração, ver o relógio parar.

#ImitaçõesDeSoneto

Gosto de Ser Cuiabá

Gosto de ser Cuiabá
Do gosto de peixe
Peixe de rio, frito
Ensopado e mojica

Gosto de ser Cuiabá
De ser sal da terra
De pé rachado
E caminhar à tarde

Poema Escrito


Olho-te e vejo
como estás, assim
meio sem graça

Não faço nada
e me perguntas
se passo fome

Respondo: não!
E continuo são
na minha tarefa

Minhas Ofertas São Postas de Peixe

Minhas ofertas estão postas na mesa
São palavras escritas sob o papel branco
Palavras que se colam a outras tantas
E não calam nas tintas da caneta imprecisa...

O poeta nunca se manifesta completo
Sempre pula um ou dois versos, sílabas
Até mesmo estrofes inteiras do poema
Quando se concretiza é final do dia-a-dia

Cinco de Fevereiro



É vero, estou ficando velho, reconheço
Estou deixando a mocidade para traz
Os nervos não estão à flor da pele
Como antes, nem no endereço prometido

Estou ficando plenamente velho…
Amanhã ou depois de amanhã
Vai se confirmar, conforme combinado,
A certeza de ser mais velho ainda

Na sala, espero e leio livros de Machado
Reconhecidos pela memória s/eletiva
E detesta o que insiste renovar o mundo

Mas aos olhos de dentro se reconhece
- sem demora - enquanto como matéria
Está ficando velho, mas não para sempre.

Quem é o autor da Lei da Gravidade?


Quem é o autor dessa tal lei
da gravidade, que segura astros,
estrelas, galáxias inteiras
e ninguém sabe, ao certo, prescrever?

Quais são as regras fundamentais
de tal lei? Que fora dela ninguém
é capaz de se manter ou segurar
ou mesmo cair das nuvens

Todos os Poemas que Busco

Todos os poemas, os quais busco,
Dentro e fora de minha alma,
Não são lidos, nem lindos, mas
Meros versos nos quais escrevo: Só

Só escrevo poemas vasculhados
Pelo sentir desembrulhados
Dos olhos abertos ao ver tudo
Inclusive o rio a só correr solene...

Os Cinco Poetas Morenos


Os Cinco poetas Morenos
não tocam mais a serenata
A rabeca está encostada
o pavio musical não mais se acende

A poção mágica da cultura, rasqueado
não ficaram memorizados nos discos
nos anais da fita cassete...
- Tudo que pudesse lembrar é esquecimento