Mostrando postagens com marcador Poéticas Menores e Poemas Controversos (1981-1990). Mostrar todas as postagens
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Os Paraplégicos

Os paraplégicos vão voltar,
atravessarão o rio à nado
Diante do nosso espanto
irão se erguer do chão

Os paraplégicos vão nadar
pelos mesmos caminhos
que um dia foram juntos
solidários com os peixes

Sobreviventes

meu coração sobrevive
nestas esquinas
ruas sem estrelas
de antigos casarões
de velhos senhores
mandantes que mandavam
e desmandavam em tudo

- os müller desintegrarão!

meu coração chora
nas ruínas de igrejas
na paredes que caem
continuamente
e não poderemos soerguer
à posteriori

Restança

Resta à chuva
regar a lavoura
Resta à lavoura
banhar-se de chuva

- Para ver se os frutos
da colheita ultrapasse
o déficit anterior
em que a fome foi maior

Resta à uva
tornar-se vinho
Resta ao vinho
um gosto de uva

- Para crer que o vinho
continua sendo sacro
mesmo que bebido
pela boca d'alma vazia

Da tua boca

Da tua boca saíam canivetes
chuvas de cobras
correntes de lagartos...

Apavorado fugi
do teu beijo
escondi-me no brejo
escuro e fiquei confabulando
com os sapos esquecidos
                      esquisitos
                      E vice e versa.

Estou com sono

Estou com sono
e não tenho vontade de dormir
sinto medo, muito, de sonhar
com meus conhecidos fantasmas
e lembrar dos velhos quintais

Estou com sono
e procuro sempre lembrar
as coisas que foram esquecidas
por serem inusitadas ao público
Ao distinto público amarelo

Nunca me fui igual

Nunca me fui igual
Nem à mim mesmo dentro deste corpo
que me guarda
sem nenhum antagonismo...

Nunca fui igual ao eu
embora desacate o bicho
homem fera que nele habita

Precisamos de Socorro

Precisamos de socorro
Não temos voz nenhuma
para mais poder gritar mais
e desdizer a nossa fome

Precisamos de socorro
Estamos sem companhia
para desfazer a agonia
de ser só e estar sozinho

A Vila Desta Cidade

O quotidiano desta cidade
me enche os olhos
de imagens
que se movem como fantasmas
de antigas miragens
e transformam noite e dia
o perfil urbano de vila em metrópole.

Manifesto

Viva o planeta terra!
Viva, planeta terra!
a vida inspira viver
precisamos ser vivos

Quando queimam as matas
sinto que um pouco de mim também se queima
por que sou tripa, veia, verme
desta bendita terra

Abertura 1 e 2

1.
Não tem como sair
deste carro
O escapamento
fica do outro lado

2.
- Não tem escapamento
O carro está no estacionamento.


Provisório

Provisoriamente
o homem trabalha,
dentro da rotina de seu dia,
a sua própria morte...

Não a morte-vida
mas morte negada
negação da vida
antítese

Provisório é o destino
de matar o homem
e mantê-lo como vivo
alienado da realidade
imaginada de signos
e da luta dos contrários

Nicarágua

O sal tem gosto
de mar aberto
ao sol só

A vida presente
é aqui, agora
momentaneamente

O mar tem seus
fantasmas
- espíritos sós -

O presente
é Nicarágua...