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8 de Abril: Hoje é aniversário da Cidade


A Ivan Belém
Hoje é aniversário da cidade...
Pessoas transcendem nesta data
Outras passam indiferentes
A moça sonha com o namorado
O casal briga por necessidade


Porque é aniversário da cidade
Alguém se sente realizado
Outro, muito – muito, frustrado
Um consórcio se consuma
Entre quatro paredes e a lua de mel


Pelo aniversário da cidade
Neste dia se derruba um prédio
do patrimônio artístico e histórico –
E constrói novas agências bancárias
Em becos, esquinas ruas e avenidas


No ser aniversário da cidade
Um fulano senta sozinho
E bebe uma cerveja num bar
Enquanto outro doente sonha
Em realizar a cura por mágica
Sendo aniversário da cidade
O bêbado está falando alto
Um terno e gravata se irrita
Um prefeito interino que ri
Outro candidato espera a vaga
continua na próxima página

Venda da Cemat


Meus olhos são lágrimas duras
A Cemat está à venda.


Quando acabava a luz
quem tinha automóvel
corria para o aeroporto
para iluminar a pista
e o avião poder pousar


Meus olhos são lágrimas duras
A Cemat está à venda.


A globalização, finalmente,
chegou a Mato Grosso
sacrifício não foi pouco
a dor será maior ainda

Salada de Fruta

A Beto Vellosa               

Manga madura
                Manga futura
       
                Manga pepita
               
                            Manga, manga
                                Manga à vista
                Manga na mão
       
Mamão e manga
               
            Salada de fruta
                       
                        Manga,
                   
                                manga
           
                Magna bruta
    Manga sou
            manga
               
Quando criança
           
            Manga pera
       
            Manga espera
           
/esperança/
           
Manga sabão
                       
                                    alma
                            Saudosa da
Manga, Manga
           
                    Manga rosa
                            Lava a
           
                    Manga amarela
                   
                                Manga pepita
           
Perpitola
       
                    Só manga cuiabana.

Do Livro "Seleta Cuiabana - Cinquenta Poemas que Falam Cuiabá" página 38

#SeletaCuiabana

De Nossas Gentes (Poema inconcluso)

Um dia Panela furou
Pelado corria pela esquerda
João Cuíca assava cabeça de boi
Cobra Fumano vendia loteria
Peteté pedia esmola (?)
Caroço pulou o muro pra roubar manga
Jaburu era centroavante
Dona Bembem festejava S. Benedito
O Armazém Mercado de João Cartola
Traçaia chegou à Seleção Brasileira
Dr. Paraná se defendia no Fórum
Mestre China e Bolinha davam vida ao Sayonara
Treme-Terra não se perdia por Boa Vista
Tô Velho pescava na beira do rio
Chupa Paia apitava os jogos de Mixto e Operário...

Eu Vi a Igreja Ser Demolida

Eu vi a igreja ser demolida...
Andei por entre bancos
– Ave Maria –
durante a missa

Depois, bem, ia pra praça
ficar passo a passo
– mais ainda –
até a hora de voltar pra casa

A igreja, enquanto guri,
era-me indiferente
Se bonita ou feia, não sei
Se de fé ou precisão de,
andar pelo centro da cidade
só eu sei

Ontem

Aonde foi o guri que sabia tudo, quase tudo?
Onde se escondeu o menino levado que leva meu sorriso
meu riso infantil, minha felicidade pelas ruas da cidade?


Onde está o guri traquino
que matava passarinho
sem pena pra assar?


Por onde se enfiou o moleque que subia nos muros
para ver as gurias nuas tomando banho
à beira dos tanques nos quintais
das tardes quentes de Cuiabá?

Piracema


Olha o peixe!
Grita o peixeiro
Peixe fresco da hora”
Tchama cha mãe, menino
Vem ver o peixinho”,
atiça o vendedor
Sinomô”, responde o guri

A estação da piracema
já tem dias de começo
Os peixes estão subindo o rio
o peixeiro exibe o pacu fresco
Olha o peixe fresquinho da hora!”
Grita o vendedor

No Mercado do Peixe
Não tem piraputanga, cachara
Pintado, pacupeva, curimbatá...

Preguiça

Esta hora do dia,
depois do almoço,
jamais deveria existir

A preguiça,
essa bondosa preguiça,
bate na gente e a vontade
de não fazer nada
se aprofunda no coração...

Numa Cuiabá de antigamente,
bem antes de todos
os paulistas modernos chegarem,
os cuiabanos de Diamantino,
os cuiabanos de Livramento e Poconé,
e os cuiabanos de Várzea Grande,
depois do almoço, se recolhiam
em suas casas e nada, nada de nada,
se movimentava na face da Terra...
– Nem as lixeiras se atreviam
a contrariar o tempo

O Buraco


De quem é este buraco?
Alguém tem que se responsabilizar
Está tomando proporções enormes
e ninguém sabe a extensão exata
onde começa, onde termina
Se é que tem um começo, meio e fim


De quem é este buraco?
Quem é o pai desta coisa
Que enfeia a rua, o bairro, a cidade?
Este buraco deve ter um dono
senão não seria perpétuo
cada dia maior, mais vistoso
e dá até gosto em olhar


De quem é este buraco?
Os motoristas de táxi, de ônibus
querem saber quem é o responsável
pela manutenção do buraco


O presidente da associação de moradores
já manteve audiência com o prefeito
foi à câmara de vereadores
pedindo que se crie uma lei
anistiando o dono do buraco
desde que o leve para casa


De quem é este buraco?
Olhando com um pouco de simpatia
vê-se que o buraco tem alguma razão de ser...
Foram as chuvas, foi o verão
e logo estaremos no inverno
Será que o buraco fica para a estação?
Será que outro cego vai cair de novo?
De quem é este buraco?
Por favor, ouçam a pergunta
O governador, eu sei, claro,
vai dizer que não conhece o buraco


O carteiro não é capaz
de dar qualquer notícia
A polícia já desistiu
de tentar autuar em flagrante
o autor desse delito


De quem é este buraco?
Alguém tem que fazer alguma coisa
O buraco está saindo da rotina
vazando pelas paredes
O pentacampeonato está sob risco
Não se faz mais gols nos estádios
por conta do buraco


De quem é este buraco?
Os inquilinos, os condôminos
estão curiosos, querem uma satisfação
uma justificativa, por menor que seja
As bancadas de todos os partidos
pensam em um decreto legislativo
declarando o buraco de utilidade pública
Afinal, o buraco é mais em cima
ou mais embaixo?


De quem é este buraco?
Os feirantes já não fazem a feira
os lojistas mandaram para o SPC
o buraco, contudo, resiste
continua na próxima página


Um crítico de arte
se curvou ante o buraco
É a nova vanguarda”, disse
De quem é este buraco?
A verdade deve ser dita
A cidade não é mais cidade
as ruas não mais existem
as casas edificadas, os prédios
e conjuntos habitacionais inteiros
perderam a personalidade
o caráter físico


Tudo se integrou à paisagem insólita
Agora, apenas o buraco
domina os pontos cardeais
E ninguém é capaz de responder
De quem é este buraco?”.


#SeletaCuibana

Tem uma Fotografia Grudada em Minhas Retinas

Quando olho Cuiabá, como um mosaico,
Vejo sempre a mesma paisagem
E essa paisagem não se dissolve
Mesmo que os anos e anos se passem
E, embora velhinho, essa fotografia
Permanece grudada em minhas retinas

Cuiabá, grudada
Feito foto nas minhas retinas,
Não se dissolve.

O Que Restou

O que restou foi um pedaço de filme 16 mm,
um pedaço velado, que não serve pra quase nada,
um retrato 3x4 de um detalhe da torre da igreja tombada...

Foto Chau localizava-se na Rua do Meio
de quem vai e de quem vem, vice-versa

A memória, bom que se diga,
não importa muito com isso,
só quando aperta a saudade

Explicação

Não fui capaz de fazer poemas românticos
quando na tenra idade me apaixonava
com uma facilidade incomum por coisas,
paisagens, bichos e gentes, em especial moças


Os poemas românticos ficaram trancados
a sete chaves. Meu coração amadurecia
ou amolecia, não sei, quando via a miséria
a fome, o abandono, a falta de carinho

Águas de Cuiabá

Quem sai na chuva é pra se molhar, diz o dito sabido
Molhado, reparo, esqueci o guarda chuva
esqueci o chuveiro ligado
esqueci de pagar a conta da Sanecap

Velha Catedral de Barro

Quem cismou de derrubar a velha catedral de barro?
Ninguém mais sabe. Os cuiabanos morreram,
os livros de histórias apodreceram nas estantes
e ninguém mais tem coragem de comentar

Dom Orlando Chaves, quando se aposentou,
foi embora (um dia tinha de ir) pra cidade natal
Luiz-Felipe Pereira Leite ainda tentou
remediar e contar das paredes adernando...

Coxipó Sayonara

Saudosista, sonhei Coxipó, Sayonara, adeus
Sonhei em décima dimensão
Dançava ao som dos velhos sucessos
Entre estrelas e astros extintos

Gosto de Ser Cuiabá

Gosto de ser Cuiabá
Do gosto de peixe
Peixe de rio, frito
Ensopado e mojica

Gosto de ser Cuiabá
De ser sal da terra
De pé rachado
E caminhar à tarde

O dia que Manuel Bandeira não visitou Cuiabá

O dia que Manuel Bandeira não visitou Cuiabá...
Nesse dia corria pelas ruas, jogando bola,
os craques Almiro e Careca
Banana e Lombriga
Beto e Xevrolé
Pelado e Nhonhô...


Os dois primeiros perto do Campo D’Ourique
os demais na Avenida Dom Bosco, Joaquim Murtinho
Treze de Junho
e naquele campinho que iria sumir com o bairro Morada do Sol

Vanguarda

Qual é a saída pra vanguarda?

Qual a saída pra crise, pela vanguarda?

A vanguarda está em crise

Ou a crise não afeta a vanguarda?



O que é ser vanguarda?

Sou fã ou fui guarda?

A vanguarda vem de avião?

Ônibus? De van?

Vem pelo correio

Ou pelos fios da internet?

Poema da Desencarnação

Quando chegamos a bom porto, Cuiabá, Chapada, Pantanal
O barco sempre solícito para nossa partida e as palavras,
Às vezes vorazes, escassas em outros dados momentos,
Sucumbem ao novo cenário que não estava na lembrança

As lembranças imediatas são as vielas, ruas e becos.
Da antiga capital cidade verde que morre ao pôr do sol
E que nos remete para outra certeza de amanhecer
Fora e dentro de todos os seres habitantes amáveis...