A Ivan Belém
Hoje é aniversário da
cidade...
Pessoas transcendem nesta data
Outras passam indiferentes
A moça sonha com o namorado
O casal briga por necessidade
Porque é aniversário da
cidade
Alguém se sente realizado
Outro, muito – muito,
frustrado
Um consórcio se consuma
Entre quatro paredes e a lua
de mel
Pelo aniversário da cidade
Neste dia se derruba um prédio
– do patrimônio artístico
e histórico –
E constrói novas agências
bancárias
Em becos, esquinas ruas e
avenidas
No ser aniversário da cidade
Um fulano senta sozinho
E bebe uma cerveja num bar
Enquanto outro doente sonha
Em realizar a cura por mágica
Sendo aniversário da cidade
O bêbado está falando alto
Um terno e gravata se irrita
Um prefeito interino que ri
Outro candidato espera a vaga
continua na próxima página
Neste aniversário da cidade
Uma igreja está sendo
reformada
Uma praça criando capim à
beça
Um gol é chutado pra fora
Além das arquibancadas do
Dutrinha
Mesmo no aniversário da
cidade
Comete-se genocídio em
El-Salvador
Doentes esperam prontuários
do Inamps
Um funcionário público bebe
café
Um político polido fala fácil
sem fé
Como é aniversário da cidade
Um sorriso de pouco deboche
E um carisma de quem espera
Uma lágrima se despede do
amor
Outra brota no virar da
madrugada
É o aniversário da cidade
O relógio da matriz dá as
horas
O pivete vende chicletes na
esquina
Há uma dor incurável dentro
da gente
E um débito que deveria ser
pago
Existe no aniversário da
cidade
Um encantamento na rua vazia
Um quê de andar de mãos
dadas
Um aprendiz de poeta com
insônia
E suposta musa roncando à
vontade
Há pessoas que vivem felizes
Outras que suportam suas
dores...
Veja, se temos alguma
parecença
E somos iguais em muita coisa
É porque vivemos na mesma
cidade
E agora, por hora, é o seu
aniversário.
Do Livro "Seleta Cuiabana
- Cinquenta Poemas que Falam Cuiabá" página 56
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