Mostrando postagens com marcador #BiografiaDoPoema. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador #BiografiaDoPoema. Mostrar todas as postagens

#Poema

(Usuário da Poesia,
não se exceda,
cerre o livro
consuma
um pouco de prosa.)

Poeta Futuro

Sou um poeta futuro
Escrevo claro no escuro
Não tenho medo
Do que procuro.

Caieira

Uai, uá, aiuê! mais um!
Vai morrer mais um
Nessa pedra branca cal
Nessa vida alimentada a cal
Cal nosso de cada dia
Fins de nossos fins

Cal branco, branca poeira
Nuvem maléfica a fio
Deixa o pássaro sem pio
Deixa a vida sem mais um

Menos um, menos dois, menos três
Menos vida, menos sol, menos rio
Só, somente a cal a simplificar

Cal do demo, do anjo mau, capeta incorporado
Cal da peste braba, da fúria cega, moléstia malsã
Cal malfeitor, feitiço malfazejo derramado
Do santo graal
                       Nas nossas veias
                                                  Desmanchando
Nossas entranhas
                            Desbotando nosso sangue.

As Metáforas

As metáforas imortais
me guiam, me levam
pelos caminhos do amor
pelo ar, a voar, com ardor

Me levam por aí
até chegar aqui, mesmo lugar
de onde um dia partir
para nunca mais voltar

Me trazem recordações
de um tempo sem sentir
mas ferem, como viver
fosse sempre e é preciso

A Poesia do Mato


A minha poesia de Mato Grosso
é discursiva
Canta as musas translúcidas
dos rios emaranhados
das cascatas cristalinas
dos pingos nas pétalas
de flores lúcidas

A minha poesia de Mato Grosso
é anacrônica
diatômica, cômica
não tem nada da realidade
que pulsa nos matagais
nos cerrados, nos pantanais
dos temporais

Avesso


Este poema não tem glúten
Nem uma tela de HDTV
As imagens e metáforas
Estão fora de sintonia

Este poema germina
Mas nem sempre
Como (c)obra em movimento

Minha poesia não tem goleiro
Ela recusa se defender
De qualquer ataque frontal ou lateral

Sentido da Placa


Qual a melhor placa:
a placa que diz dobre a esquerda
ou a que fala não dobre a direita?

Os sinais de trânsito
tem uma ação cognitiva
O motorista ao volante que sonha
precisa despertar
urgentemente para seguir em frente
desembaraçar o caos

Da Pedra

O absoluto
da pedra
é ser pedra
E medra.

Temores


Temo não correr 
Como o tempo passa

 
Temo ficar parado 
Como relógio estragado.

Letra de Canção

Se desalojei você, meu amor
De meu quase falido coração
Não foi por estar odiando
Foi por pura precisão

Preciso, amor, ser feliz
Preciso chegar a algum lugar
Preciso ouvir o lado A
Descobrir outra música

Se mudei de CEP, de endereço,
Se mudei de casa, de condomínio
Se mudei de rua, de calçada
Foi, me perdoa, por precisão

Foi por pura questão de lógica
Pra você não me encontrar
E meus olhos traiçoeiros
Não te verem nunca mais

Se mudei o código ou a senha
Se mudei meu codinome
Se alterei o login,
Disfarça, foi por precisão

Um dia na vida de Manuel Bandeira


Um dia, ainda verei Manuel Bandeira
Caminhando calmo, calmamente,
Pelas ruas do Rio de Janeiro

Em busca do leite branco para o café da manhã
Um dia Manuel Bandeira ficará

De Bechior e Santos Dumont


Santos Dumont sentia medo de voar?
Se ele queria voar, embora sem asas?
Diferente de Belchior, Santos Dumont
Não segurou na mão de ninguém e voou

Quando o 14-Bis bem levantou voo
Santos Dumont sabia que seria assim
Por isso inventou o relógio de pulso
Para não se preocupar com o tempo.

O tempo voa, a indústria aeronáutica
Ultrapassa a velocidade do som
Os aeroportos ficam congestionados

Escansão Tardia


Os números nus não dizem tudo do ritmo
decassílabo, da décima década em decadentismo
O UM monossílabo é exercício Fagundes Varela
em cadernos poéticos despreocupado com o verde

Entre o UM e os versos alexandrinos de Castela,
Doze mais dois,
Os músicos poetas abusaram da redondilha maior
“Vou-me embora pra Pasárgada”
e voltamos aos ritmos cadenciais dos versos livres

Desencontros Internos


  A EduardoMahon

Com tanta coisa pra fazer
– cozinhar, lavar panelas,
ler os e-mails, escrever poemas
e engraxar os sapatos –
eu gostaria de ter um outro de mim

Mas será que o outro
seria exatamente igual,
faria o feijão temperado
do outro jeito relaxado e
balançaria a cabeça
sem perder a cabeça?

Parou impar

Se não me achar perdido
dentro de casa
estou no meio da rua

Se não me encontrar na rua
Estou no quintal
Gotas de chuva

Considerações Finais


Como lembrar
de algo que não existiu?
Pois é desse algo que
meu íntimo sente falta

Ando pelas cidades
por suas ruas cheias ou nuas
e antevejo as fachadas
dos prédios nas sombras...

Ando triste, alegre
meio sem sentir, sem
calcular meu inteiro teor

Prevenção de Perdas


O poeta não tem um programa de prevenção de perdas
A música, musa, insights, ritmos vêm e vão, em segundos
e se perdem sem mínima chance de recuperação
por conta da falta de backup do condutor linear do peito

O coração sem um paradigma perfeito não expressa
sua preocupação com a falta de sintonia entre tempos
Aleatórios são os descompassos entre o dito e o feito

O poeta não tem um programa de prevenção de perdas
Quando entra numa sinuca de bico não consegue sair
Fecha os olhos e tenta embarcar numa canoa sem furos...

De Pêndulo e Bússola


Um dia, fiquei triste, ao notar que andava sozinho
e a multidão em torno de mim também caminhava,
mas não tinha como objetivo o próprio destino...

O meu destino, percebi, é andar sozinho
dentro de casa, no ir e vir da sala à cozinha,
quando abro livros e inicio a leitura dum poema,
ou quando sento num banquinho pra tomar café...

Durante esse caminhar notei, algumas vezes,
que senti pequenas alegrias por amigos que tive,
mas desatentamente perdi durante o caminhar...