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Neblina de Curitiba

Essa neblina
que hoje amanhece
cobre leve, levemente
os prédios de concretos
e casas de madeiras

Esse neblina
leva de levinho
os edifícios
à transparência

Essa neblina
cobre suavemente
as varandas das casas
de mistério

Essa neblina
que hoje amanhece
torna as pessoas
mas frias e mais distantes.

1977

A fome


A fome não é em todos

A fome é solitária

Quem sente fome

     sente sozinho...



A solidão da fome

a solidão na fome



A fome dói

       rói

       só mata

Numa Rua Nua


Numa rua nua
estreita e torta
como cuiabana
vê-se uma criança
triste natimorta
sorrindo carinhosa
implorando misericórdia

Meio a Meio


Enquanto estiver meio lúcido
não me farão de bobo
Enquanto estiver meio calmo
não vão me fazer de besta
Enquanto estiver meio bêbado
não vou me deixar fazer trouxa

Destruição


Destruirei aquele edifício
com minhas forças simples
Destruirei tudo que for possível
destruir numa destruição...

Vamos voltar à primitividade.

As Vítimas de Abril

As vítimas de abril
não esquecem, por pudor,
o primeiro dia
o primeiro instante
das vítimas
de primeiro de abril

As vítimas de abril
saem à noite medianeiras
de todos os desígnios
erguidos sem licença
das estrelas
de primeiro de abril

As vítimas de abril
se mostram matrizes
de todos os fatos
passados nas ruas
becos, porões e ruas
de primeiro de abril

As vítimas de abril
tem o perdão (?), a anistia
mas nunca o direito
mas nunca a verdade
do por que foram
vítimas de abril

Doramar

Doramar o que te dei
Não foi nada
nem poesia, nem poema

Doramar o que eu quero dar
é um sonho colorido
como a imagem de cinema

Doramar um dia de domingo
simplesmene domingo
é domingo de Doramar

O Passarinho na Janela

A ave vem e pousa
no parapeito da janela...

Assiste com seus olhinhos
o andar pela casa
da filha mais velha,
vê o pai diante da TV
e a dona-de-casa arrumando
a mesa para o almoço...

Suspira, um suspiro de passarinho,
depois voa...

Poema de Amor

Todos os poemas de amor
devem ser, creio, só de amor
como minhas dores
devem ser só minhas

Para a amada não cantarei
a fome, a miséria,
a luta desenfreada
pelo poder apenas pelo poder
sem que isso signifique
menosprezo pela mulher amada

Não cantarei...
Fora os poemas de amor
tudo que mais há, além do amor
vão estar em outros
cânticos, cantos da casa
da cidade de um mesmo país

Sonho Americano

Meu sonho americano...
Sonhei minha cidade
no mesmo lugar de sempre,
meus avós vivos e alegres,
minha mãe sem dor nenhuma,
tranquila na certeza
do retorno depois do trabalho

Meu sonho americano...
Sonhei todas as crianças,
de minha pobre América,
com suas faces rosadas
em ciranda em um enorme jardim

Com Efeito

Calma meu jovem
esta nova aventura
é suave tortura
no fundo do mar

Peixes que bailam
zumbidos alegres
ficarão gravados
nas retinas dos olhos

Magneticamente
sorrisos aparecerão
no brilho fecundo
das gotas do mar

Deve Haver

Deve haver alguma coisa que não seja tristeza
para que as coisas e cousas se animem
e uma lágrima não suje teu rosto

Deve haver uma beleza inatingível
para que as coisas e cousas não desanimem
e o riso não sorria de desgosto

Deve haver alguma coisa chamada esperança
para que as coisas e cousas não saiam do caminho
e que não pensem em desespero

Deve haver alguma coisa que não seja medo
para não brilhar o escuro
no horizonte dos teus olhos
e os pesadelos entrem em desestima

Deve haver alguma coisa poética
para que nós poetas tenhamos razão de ser
e você seja sempre a doce musa

Deve haver alguma forma carinhosa de dizer não
para que haja compreensão nas conversas
e a discussão entre em diálogo

Poema Lírico

Tua falta
sinto no grito solto
sem eco

Tua falta
sinto no peso...
Penas sem cor

Tua falta...
Sinto exato
mesmo sem cálculos

Sinto que o peito está parado,
porém espera subversivo
que voltes depressa.

Na Paisagem da Praça


Osório
com aqueles óios
na paisagem da praça.
Ozório
virou velório
depois paisagem da praça

Osório
Antes Ozório
Hoje denominação de praça
Ozório
depois Osório
denominando a praça

Épico


Todos os meus olhares são de adeus
Como o último olhar de um condenado.
Mario Quintana

Nas montanhas de edifícios
Moram gentes neuróticas
por trás das janelas fechadas
Que deixam a poluição passar

Nas serestas pelas madrugadas
Que falavam em amor,
lágrimas e saudades
- não há mais
Há sim, uma ironia atroz
Para as pessoas sentimentais

Agora esse saudosismo besta
no meu peito
Pelas cirandas
Pelos “eu sou pobre, pobre, pobre
De marré, marré, marré...”

Agora, só adeus!
Adeus aos poetas...
- há quem diga que sou poeta também -
que diziam coisas belas
e eu não consigo dizer
por mais que me esforce
e meus olhos abertos não vêem
Hoje os olhos são
para tela do cinema
e as imagens da TV

Adeus às pessoas normais
Por que agora há psiquiatras
Psicanalistas, sei lá que mais
Inventos da loucura...

Adeus às palmeiras
Onde cantava o sabiá
Hoje só se vê vigas de concreto
Onde não se assentam sabiás
E não nascem flores

Canção aos Homens da Cidade Grande

Joaquim, a canção que fiz para você
não fala do amor nem fala da natureza
A canção é como uma cantiga
porém nem as crianças
- essas inocentes -
veem sua beleza
Beleza que não existe
Porque o mundo hoje é triste
Quem faz triste o Mundo?
Os homens, esses loucos
que não se olham,
não conversam mais

Joaquim, a canção que eu fiz
não tem amor
não tem voz
não tem vida
não tem nada
é uma canção cheia de palavras banais

E essa canção é para você, Joaquim
Você que é um homem
um homem sem infância
você que é um louco
não conversa com outros homens
que não se olham

Essa canção é para você e sua gente
sem sentimentos
que não conversam
e não se olham

Música ao Longe

Perto de onde estou
uma cerveja cobiça
minha embriaguez
junto ao sono
improvisado
para uma lenta noite
de conversa que não trepa
nem sai de cima.

Poeminha de Criança

Menina, o que você queria?
Intimidade com o silêncio
ou com os bichos de casa?

Menina, prometo dois presentes
Uma girafa e um dicionário
Conforme meu orçamento...

Canção ao poeta CDA

Carlos, perdoa este poema de amor
Um pequeno poema, porém de amor
Imagina, um ínfimo poeta cuiabano
Nato dessa terra, que nem sabes
Onde fica, atreve escrever...

Não tem uma dose poética
Para te deixar bêbado
Friso, porém, o poema é de amor
A partir do momento que
Fizeste nos apaixonar
O amor começou a fecundar

Não foi uma pedra
No meio do caminho
Foi o amor em cada linha
Em cada verso alicerçando o amor
(embora não sabendo)
Lá estavas pondo uma pedra...

Não renuncio a nada
Também não penso
Que renunciastes a alguma coisa,
Porém, este amor... Que alegria!

Não tem procedimento
Ficar assim apaixonado
Mas estou amando
Como nunca imaginei
Que pudesse amar
Pela rama, pela rima, pelo ritmo...