Como dei um anzol para Silva Freire

Conheci Silva Freire num principio de noite no jornal Equipe, nos anos 80, quando estava querendo entrar no jornalismo. 

Silva Freire estava debruçado sobre a enorme prancheta na qual se fazia o past-up e o poeta estava ele mesmo montando um poema no diagrama da página para ser publicado no domingo. Então deveria ser uma sexta-feira. Aproximei e fiquei lendo alguma coisa, quando ele vira para mim e diz: 

– Não estou gostando dessa palavra, mas não consigo achar outra. 

A palavra era SOL, o poema falava de peixe e de estalo sugeri: 

– Porque não põe ANZOL? 

Ele correu para a sala de digitação para pedir a palavra, que dali a 10 minutos estaria no papel para ser colado e exclamou: 

– Como que não pensei nessa palavra antes?! - e olhou para minha cara, talvez para guardar. 

A certeza que ficara marcado na memória, quando o poeta, assim que me via, me agraciava com um dos seus Cadernos de Cultura, recebi uns cinco de suas mãos. Um dia, na Praça da República, ao longe grita me chamando e ali mesmo, depois de autografar, me entrega o livro "Águas de Visitação", edições do Meio e passei a frequentar seu escritório na Cândido Mariano, com certa frequência, quando me mostrava alguns de seus poemas e que me inspirou a escrever o poema "Do Poeta", que está lá no volume dos "Poetas Vivos". 

Quando, no início da década de 90, repórter do caderno Vida, da Gazeta, faço um perfil de Silva Freire, essa vem ser a sua última entrevista. Coisas da vida.

JOÃO BOSQUO, jornalista e poeta, é autor de "Abaixo Assinado", com Luiz Edison Fachin. 
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=477106

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