Venda da Cemat


Meus olhos são lágrimas duras
A Cemat está à venda.


Quando acabava a luz
quem tinha automóvel
corria para o aeroporto
para iluminar a pista
e o avião poder pousar


Meus olhos são lágrimas duras
A Cemat está à venda.


A globalização, finalmente,
chegou a Mato Grosso
sacrifício não foi pouco
a dor será maior ainda



Meus olhos são lágrimas duras
A Cemat está à venda.


Os caminhões de mudança
naqueles esquecidos tempos
passavam e arrebentavam os fios
e as casas ficavam sem luz


Meus olhos são lágrimas duras
A Cemat está à venda.


Rio da Casca foi uma conquista
como o linhão de Serra Dourada
Cuiabá nunca mais ficou no escuro
Meus olhos são lágrimas duras
A Cemat está à venda.
Pouco à pouco as ruas clarearam
as pessoas nas calçadas
– “Essa Cemat é uma porcaria”
conversavam toda vez
que a luz ia embora


Meus olhos são lágrimas duras
A Cemat está à venda.


O Santos do rei Pelé
quando enfrentou o Dom Bosco
no Estádio Presidente Dutra
os refletores foram poucos
O Mixto na preliminar
derrotou o América de Edu


Meus olhos são lágrimas duras
A Cemat está à venda.


Grande Hotel na Getúlio Vargas
o São Luiz no Porto
a Motosblim na 13 de Junho
foram gerados pelo tempo
que o tempo acabava a luz


Meus olhos são lágrimas duras
A Cemat está à venda.


Os disjuntores estão a postos
os lacaios dos poderosos
dão amém, dão curto-circuito
de vergonha baixam a cara


Meus olhos são lágrimas duras
Agora é hora
A Cemat está à venda
não importa o valor
não tem preço o amor
quem se vendeu não fui eu.


Obs.: O ágio de apenas de 20% sobre o valor mínimo de R$ 323,3 milhões no leilão da Cemat, no último dia 27/11/1997, na Bolsa de Valores, frustrou, deixou cabisbaixos os integrantes do governo que esperavam muito mais. Afinal, 50% da grana já estão separados para amortizar a dívida do Estado.


Do Livro "Seleta Cuiabana - Cinquenta Poemas que Falam Cuiabá" página 58
#SeletaCuiabana

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