Manhã
clara...
De
manhã José vê
roupas
brancas
de
esperança no varal
Hairton
Xevrolé
espreguiçou
a alma
bocejou
sem desespero
chegou
mais pra perto
da
mulher
Olha
quanto vento
arrastando
folhas secas
limpando
o piso
para
serem pisados
por
pés molhados
Olha
quanto pranto
quanta
carne podre
estendida
nas calçadas
quantos
gritos, soluços
e
gemidos nas calçadas
Quanto?
Quantos?
Hairton
Xevrolé
vem
sem desespero
Hairton
Xevrolé
esperou
que todos chegassem
habituassem
com o assunto
assim
conversou... lento
dando
pausas
dando
tempo pras perguntas
deu
armas
e
despedidas
-
quem sabem não se veriam mais -
Mataram
o cão policial
assim
começou
a
revolução dos mendigos
A
bala firme
na
sua resolução
faz
buraco
faz
escorrer sangue
da
carne podre
Volta
debruça
nos braços
os
olhos se fecham na escuridão
com
a certeza
que
amanhã
vai
ser profundamente clara
II
Vamos
José
é
manhã
é
luta
é
dia claro
José,
vamos
Hairton
Xevrolé
nos
espera
III
Hairton
Xevrolé
dia-a-dia
espera
compromisso
é compromisso
José
não deve
ficar
omisso
Bandeira!
Bandeiras!
Hairton
Xevrolé
espera
atrás do dia
o
sol e a sombra
do
amigo José
IV
Olha
quanto pranto
derramando
sem consentimento
dores
rasgadas
sem
sentenças
justas
ou condenadas
olhares
vedados
com
lenços sujos
Olha
quanto pranto
V
Hairton
Xevrolé
espera
atrás
do dia
diante
da noite
sem
desespero
Hairton
Xevrolé
é
sem desespero
VI
Nada,
nada mesmo...
Hairton
Xevrolé...
Este
dia promete...
Cometem
crimes
Hairton
Xevrolé
Neste
dia de promessa
Profanam
as horas
Hairton
Xevrolé
Neste
dia de chegança
VII
Dentro
da casa verde
a
mulher de Hairton Xevrolé
está
na cozinha
esperando
com o almoço pronto
A
mulher de Hairton Xevrolé
é
negra e carinhosa
esperando
para almoçar
dentro
da casa verde
VIII
Lençóis
brancos
lenços
brancos
esparramados
no varal
Hairton
Xevrolé não tem medo
Vá
com ele, José
Será
teu guia na vida e na morte
será
teu fruto e tua cachaça
teu
fio e teu telefone
Hairton
Xevrolé é um homem
que
luta por nós, José
nos
diz coisas tristes
para
sermos crentes
na
tua palavra e condição
Ah,
dia medroso
ah,
homens de poder
medrosos
da fala de Hairton Xevrolé
(Os
inimigos sabem
da
força de persuasão de Hairton Xevrolé;
por
isso tentam mata-lo)
A
vida de Hairton Xevrolé continua. O leitor pode concluir os poemas a
seu gosto e vontade. Não esquecendo, porém, de sua cor, estado
civil e condição social.
><>Do livro "Abaixo-Assinado" (1977)
Nenhum comentário:
Postar um comentário