VÊNDESSE PARTIDOS


Vêndesse
Partidos e políticos!
O preço? é uma pechincha
Um ministério, uma rodovia
ou 200 milhões de reais
da Caixa Econômica Federal

Vêndesse...
A reeleição precisa ser ganha
Os partidos e políticos,
não importa o perfil,
têm um preço
avisam os mercadores

Vêndesse
pás e picaretas
Pás, pra enterrar
as ideologias e ética
Picaretas para cavar
uns carguinhos
na administração indireta

Vêndesse
biografias inteiras!
Para permanecer no cargo,
no poder real ou não,
homens se desdizem
fazem-se de surdos
lerdos, esquecidos
de suas ações passadas
de forma sumária

Qual a Serventia do Poema?


Qual a serventia de um poema
De um poema equidistante
Da realidade quotidiana?

Qual o valor de um poema
Sem compromisso com a realidade
Do homem que trabalha o dia-a-dia?

Ausências

A poesia ausente na aula de literatura
só foi sentida pelo poeta presente,
sem convite ou crédito de participação,
quando dispôs a pedir uma informação
ao professor palestrante loquaz

Bula Poética

Atenção! Ao ler o poema, não se distraia
Fixe nas figuras de linguagens
no ritmo canoro dos versos
se é trote ou galope, boi ou de cavalo

Os poemas reflexivos meio que combinam
Com os momentos de solidão do leitor
Ou consolo para quem perdeu o ser amado

A cadência sonora nos ajuda na memória
No andar de andar e enfrentar a vida
Enquanto outros - sei lá - nos fazem rir
E alegra a alma como um banho de rio

A lágrima cristalina


Tirem as crianças da sala
Para que não vejam na cara
Do poeta esquecido
A lágrima cristalina

A lágrima mais legítima
Dos olhos de dor, Dora
Dura, veja, uma eternidade
Para nascer, viver, morrer...

A lágrima que legitima
A dor real é velha conhecida
Do poeta desacreditado...

14. a sonhar

porque, com que sonha, menina?
- não sabe?!
não tem cabimento,
uma coisa dessa, menina

se soubesse
sonhava mais mangas nos quintais,
doce de caju, melado e caldo de cana;
crianças brincando de esconde-esconde,
parentes nas redes e juras de amor
roubadas sem contemplação por menino vadio
como num sítio cheio de pomar, laranja
verde, madura, doce acre de dar arrepio,
beijo vermelho melado de beija-flor à vera...

- o sonho, menina, ninguém pode podar.

Conversas

Uma palavra puxa outra palavra
Até formar uma frase completa
Enquanto um poema inspira outro poema

Embora os olhos de quem vê uma clareira
Não sejam os mesmos de quem olha o pantanal

O Tempo Não Para

Logo depois de despertar,
Com a cabeça fresquinha,
Bate uma vontade de escrever

As escrituras, dessa hora,
Sai aos borbotões,
Uma frase atrás da outra
Até que a tosse,

A Morte Segue uma Lógica Eterna

Em algum momento da vida deixarei de escrever
Agora não sei se antes ou depois de morrer

A morte segue uma lógica eterna,
não temos como escapar:
Escrever ou não o poema segue um sistema
Às vezes não compreendemos muito bem

A lógica desse destino:
Ser livre ou ser preso sem razão
não tem o mesmo sentido

A Pantaneira Azul

Ninguém é mais linda que a pantaneira vestida azul.
A pantaneira é filha duma linhagem que começa antes do império.
A pantaneira de traje azul, no dorso do cavalo pantaneiro,
se confunde com o celeste azul do céu da manhã...
O amanhecer no Pantanal também é lindo

Cantoria


Não canto nenhum canto
que comece com o pôr do sol.

O canto como o canto dos galos
deve ser ao amanhecer.

Nenhum canto grita mais
que a luz do sol despertando.