0.prefácio contraditório

tenho sentido - como é difícil sentir -
que o amor - um dia - fabricado dentro de mim,
foi de pouco apuro, passível de riso,
sem preocupação com o possível fim

essa contradição, junice1, não se percebe,
a não ser com uma enorme força de vontade,
em querer ver que o amor assim esculpido,
sem mãos artistas, logo, logo se acaba

se transforma em cinzas em outro território,
sem êxtase, adoração; enfim, sem a fúria inicial
e fazia-me perdulário, mesmo sem ter níquel
de qualquer valor. mas, ah! tinha o amor real

possuía o mundo - imaginava - e nada, nada podia
conter a alegria, verdadeira folia, em existir,
sem bens materiais, com apenas minha matéria
cheia de vida, desapegada dos deuses e demônios

hoje, em que pese tudo, leio em livros antigos
quais falam de amores autênticos como o meu,
e devem ter existidos, e igualmente morreram;
e foram raros os rastros, vestígios deixados

junice, tudo dentro do coração do serumano,
por mais puro, lindo, límpido, no fim fenece
não há, portanto, o amor infinito imaginado,
pelas teses felizes e românticas teorias.

1 O autor, não o eu-lírico, optou pela redação do nome da musa como Junice e não Jounice ou Jonice, como mais provável deveria ser. Junice é citada 86 vezes, cinco como Téca e 11 vezes como Têca .
* O livro Romanceiro do Amor em Contradições, escrito à moda antiga, contém 101 poemas numerados de 0. a 100, que passeiam por vários momentos de vida do autor.

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