Não Escrevo Mais

Não escrevo mais
Não sou mais
Nem menos poeta

Passei dos quarenta
Minha lira
Meu repertório
Meu dicionário
Minha musa
Meu estilo
Estão gastos
Precisam de reformas...

A poesia
Não se reforma,
João!
Diz uma das vozes
Da gramática drama
Escondida no ego d’alma

Não escrevo mais
Não é mais possível
Sentar-me à máquina
E me datilografar poema...
Cadê a Olivetti Lettera?


A poesia foi pro Baú Sereno
Agora é uma caixa-preta
Perdida nas águas
Do mar profundo Pantanal

A poesia desceu a níveis
Nunca antes imaginados
E não consegue voltar à tona
E se fazer presente
Mesmo nos momentos
Mais singelos do poeta.

21/03/2001

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