Querida,
não posso pensar em você
como
imagino que possa
Meu
coração parece menino
dispara
numa ciranda louca
e
não deseja voltar em forma
Imaginei
que meu coração
não
fosse jamais capaz
de
coisas tão desorientadas,
antigas,
até, direi
À
noite quando a insônia chega
fico
inventando estratégias
para
sair ileso, sem cicatrizes
sem
derramamento de sangue
O
desejo é tanto que lembro
dos
deuses no Olimpo
Chamo-os
para uma conversa
pedir
conselhos, fórmulas ou maldições
para
por fim à esta tragicomédia
O
tempo passa
meu
coração permanece, Querida
Ele
não consegue conceber
um
remédio para si mesmo
Quando
à vi pela primeira vez
recebi
um recado, aviso, alarme
mas
não dei importância
Às
vésperas do novo milênio
é
impossível uma reprise
depois
de décadas, pensei
Ledo
engano!
O
coração não tem idade
para
as coisas do coração
Chega
a ser engraçado
a
gente mesmo fala
aconselha
e mostra o racional
mas
qual, cadê ele dar ouvidos
Ao
contrário,
fica
ligando as tomadas
de
todos os neurônios
(Querida,
Trindade nunca existiu
Os
mapas-múndi não mostram
não
localizam o norte de Minas
em
destino ao Centro-Oeste)
O
coração nesses movimentos
de
translação, parece um bumerangue
um
yo-yo, ping-pong
quando
vê seus olhos Capitu
e
põe tudo a perder
os
achados, os disfarces mirabolantes
criados
para te esquecer
Querida,
o coração pára
Uma
hora, qualquer hora
ele
pára de saltitar, taquicardia
e
volta ao normal...
Mas
quem disse
que
eu quero voltar ao normal?
Cuiabá, janeiro, 1997, publicado no jornal Gazeta.
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