Decisão do Governo revolta artistas

André D`Lucca, Vital Siqueira, Nestor Defletas e Carlão dos Bonecos criticam falta de continuidade do projeto 

Os artistas ouvidos pelo DC Ilustrado lamentam o fim do "Auto da Paixão de Cristo", de Cuiabá, considerado o segundo maior espetáculo a céu aberto do Brasil, perdendo apenas para a "Paixão de Cristo", de Nova Jerusalém, Pernambuco. O lamento refere-se a todos os aspectos envolvidos – cultural e de mercado de trabalho, já que é um campo que se fecha. 

A torcida da maioria dos artista é para que o Governo do Estado, ou o próprio Grupo Cena 11, possa retomar o projeto no ano que vem. Difícil, porém não impossível. A nova gestão de Mato Grosso nas áreas de Cultura e da Assistência Social (à qual o projeto estava veiculado diretamente) anunciou o cancelamento do espetáculo teatral e religioso por falta de recursos. 

Carlos Gattass, o Carlão dos Bonecos - que, como ator, integrava o elenco da peça teatral "Auto da Paixão de Cristo", quanto incorporava o papel de Caifás, o sumo sacerdote que condenou Jesus Cristo - é um dos que lamenta bastante o cancelamento. Não só pelo aspecto profissional, pelo cachê que recebia, mas também pela questão artística, já que o exercício, a preparação e apresentação são importantes para o ator. "Todo ano, este espetáculo mobiliza a classe artística", resumiu. 

André D'Lucca, que também integrou o elenco do "Auto da Paixão de Cristo", como ator e um dos diretores da peça, e só deixou a mesma por uma desavença com a ex-primeira dama, Roseli Arruda, poderia dizer: 'bem-feito'", mas não. 

O ator lamenta profundamente o cancelamento, não só por conta da admiração pelo 'irmão' Flávio Ferreira, diretor do Cena 11, mas porque já integrava o calendário cultural e turístico de Cuiabá. 

- É uma grande perda. Isso não deveria acontecer – disse o ator, famoso por sua caracterização como a dondoca Almerinda. 

Vital Siqueira, que há muitos anos faz sucesso encarnando a Comadre Pitu, acredita que tem coisas que são decididas de forma equivocadas, sob o argumento de falta de recursos. Para ele, o cancelamento da realização do "Auto da Paixão de Cristo", este ano, é, certamente, uma dessas decisões equivocadas. 

- Esse é um evento que beneficia diretamente o povo nosso povo, não pode ser extinto desta forma – protesta. 

Segundo Vital, além do aspecto artístico essa peça promove na plateia uma reflexão sobre a vida de Jesus, uma referência religiosa permanente. E isso é importante, enfatiza, neste momento, "quando o Brasil passa por uma crise terrível". 

Vital entende que nós vivemos uma 'crise de referência' e a figura de Cristo, por meio da arte, é um belo exemplo de amor e solidariedade. 

Vital acrescenta que não tem "nada, absolutamente nada", contra o secretário de Cultura do Estado, Leandro Carvalho, mas vê uma falta de empenho quando o trabalho é menos elitista, de cunho mais popular, como no caso da "Auto da Paixão de Cristo". 

O ator e diretor Eduardo Butaka, do Grupo Ânima, diz que a justificativa do governo para o cancelamento – falta de recursos – é pertinente se os cursos de realização do espetáculo forem exorbitantes. Segundo ele, é importante haver transparência na questão dos investimentos na área cultural. "A falta de investimento por parte do Governo é histórica", afirma. 

Carlão dos Bonecos, além de tudo que já foi falado, lembra que a encenação, em Cuiabá, já conseguira se firmar como um referência nacional. Duas vezes, em anos diferentes, teve citação ao vivo no Jornal Nacional, da Rede Globo, que proporciona uma grande divulgação, positiva, para Cuiabá e Mato Grosso. 

Nestor Defletas, ator, diretor e presidente do Sated/MT, também integrante do elenco do "Auto da Paixão de Cristo", também faz coro quanto ao retorno de mídia positiva para Mato Grosso. 

"O retorno midiático do 'Auto da Paixão de Cristo' é infinitamente superior aos custos de produção", avalia Nestor, e o atual governo e sua equipe de auxiliares não tiveram sensibilidade suficiente para avaliar isso. 

"Apesar de toda estratégia de marketing burra do governo anterior a peça tinha público, com gente vindo de fora de Cuiabá e de Mato Grosso para assisti-la", defendeu. 

Defletas lembra que são três os referencias para uma boa divulgação do Estado: o político, o esportivo e o artístico. "O futebol, como se vê pela TV, se juntar todas as torcidas organizadas não enche um lance de arquibancada; o Cuiabá Arsenal mal consegue lotar o Dutrinha, enquanto o "Auto da Paixão", quando se apresentou na Acrimat, parecia um mar de gente, com caravanas do interior." 

Foi essa falta de visão por parte dos auxiliares do governador Pedro Taques que vinha trazendo a questão da produção do espetáculo em banho-maria para dizer agora, a 30 dias antes da possível estreia, que "não há recursos para custear a produção. Uma lástica", finaliza Defletas. 

A reportagem mais uma vez tentou contato com a Setas, mas não retornou as ligações. A assessoria da Setas, que ficara de distribuir comunicado na quarta-feira, mais uma vez não se pronunciou. 


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