Meu pai está morto dentro do armário,
que nunca existiu em minha casa
Por que está lá, calado como um bule,
causa surpresa e ninguém sabe
a metáfora desse ficar em silêncio
Meu pai está morto dentro do armário
escuro pelo tempo que tudo escurece
Poucas pessoas sabem disso, mas as madeiras,
que guardam livros, louças e defuntos
nada esquecem e registram na memória
E de memória a madeira lembra
que meu pai era apenas um comerciante
e se julgava esperto, entretanto foi enganado
pelo sócio-padeiro que lhe roubava trigo...
O Armazém Mercado em concordata
fechou, foi à falência e João Sabino
morreu do coração em tarde abandonada
Hoje, ele se encontra no armário
e ninguém lembra de lhe perguntar
sobre seus amores idos, filhos
e o motivo de se encontrar
quieto, silencioso como um relógio
estragado que não mais faz: tic-tac...
Meu Pai em Silêncio
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