Quadrinistas mato-grossenses apoiam Edital HQ

Desenhistas e roteiristas elogiam a iniciativa do secretário de Cultura Leandro Carvalho

O Prêmio Quadrinhos MT, lançado pela secretaria estadual de Cultura, que vai financiar quatro projetos no valor de R$ 20 mil cada um, está sendo acompanhado atentamente pelos quadrinistas regionais e deve contar com um grande número de participantes. Pelo menos é essa a expectativa. 

Gabriel de Matos, arquiteto, professor da UFMT, atualmente fazendo Doutorado sobre imaginário e quadrinhos, com visão regional, tem oito livros publicados, sendo três sobre ou de quadrinhos, um em parceria com Ric Milk, entre os quais "A Geringonça", aprovado em 2006 no Programa Nacional de Bibliotecas de Escolas do MEC. Ele garante que o edital é válido até por falta de alternativas. 

Segundo Gabriel, Mato Grosso não tem um mercado estruturado para livros de um modo geral. Em 2003, a Associação dos Amigos do Livro Mato-Grossense expôe essa questão. Que ficou em aberto principalmente porque existia uma lei estadual que obrigava escolas a trabalharem com Literatura, História e Geografia de Mato Grosso. "O Enem nivelou por baixo e acabou com uma vantagem dos estados: hoje trabalhamos com uma simplificação da História, literatura e Geografia do Brasil", afirma. 

"Mato Grosso tem uma capacidade muito grande de criar desenhistas. Algo de visualidade, para citar Aline Figueiredo. Acho que o governo deveria investir em apoio de gráfica. Os R$ 20 mil dá só pra imprimir os 1.000 exemplares do edital e talvez um projeto de formação de produção até de animação. Os softwares e mesmo as máquinas para isso são muito caros. A gente cria os personagens e histórias, ou seja, o conceito a ser desenvolvido", analisa. 

Gabriel de Matos disse que não sabe, não decidiu ainda se faz o projeto este ano. "Tenho o doutorado como prioridade. Eu e o Ric temos uma HQ de ficção científica que está pronta. E tenho uma HQ histórica com 50 páginas rafeadas, ou seja, já está desenhada no lápis, falta passar a tinta e letreirar", encerra. 

Célio Maximiano, 34 anos, desde os 14 anos fazendo seus desenhos, criador do Repórter Índio, hoje trabalhando também com desenho animado, sendo um de seus últimos trabalhos na área, o comercial para o lançamento do Renault Logan, diz que vê o lançamento do edital como uma iniciativa positiva, até como uma forma de reconhecer a qualidade da produção local, que não era enxergada pelo poder publico, mas que esta viva. Como exemplo cita a realização do Rush United XP, que aconteceu nos dias 15 e 16 próximos passados. 

Célio Maximiano acredita que o lançamento do edital é até uma forma de reconhecer o erro cometido pela Secretaria de Cultura do Estado ao contratar o Estúdio Maurício de Souza – criador de Mônica – para fazer os quadrinhos da história de Rondon. "Foi um grande erro. Um erro grotesco. Não é por que é Maurício de Souza, poderia ser de Hollywood, não importa, o desenhista tinha que ser de Mato Grosso", afirma. Segundo ele, o dinheiro daqui tem que ser consumido aqui. 

Ricardo Leite, conhecido como Ric Milk, 36 anos, 20 anos como desenhista e artista gráfico, trabalhando atualmente como ilustrador de livros, na publicidade e desenho de animação, embora seja um quadrinista por paixão, diz que o edital é superpositivo e poderá, inclusive, dar um ânimo na produção local. Segundo ele, os desenhistas produziam na raça suas tiras e agora por falta de mercado alguns estão trabalhando fora. Como exemplo cita Wander Antunes, criador da revista "Vôte!", hoje em São Paulo. 

"Não temos editora", comenta e o edital é uma oportunidade para se fazer um livro e não apenas tiras. "O quadrinho é paixão, mas não temos mercado consumidor". Ele, contudo, está bastante confiante que possa ter um grande número de participantes que 'obrigue' o governo a ampliar o número de projetos contemplados. 

O quadrinista, cartunista, chargista, ilustrador, roteirista e designer gráfico Generino Rocha, aos 44 anos, criador da Garota Pantanal, por seu turno, se confessa desanimado. "Olha, vou dar uma estudada no edital, mas não sei se vou participar". Generino foi o único a se mostrar pouco entusiasmado com o apoio governamental. 

Fred, o criador do Peru, neste Diário de Cuiabá, atualmente na assessoria de imprensa em Primavera do Leste, disse que já leu o Edital sobre Quadrinhos e achou válida a iniciativa da Secretaria de Cultura em criar um Edital específico para HQ. "Os quadrinhos também são uma forma de comunicação artística e os produtores desta modalidade literária também tem que ser valorizados. Já participei do programa de apoio do governo e tive meu projeto aprovado, publiquei um livro e já estudo a publicação de outro. A classe deve torcer para que o processo de julgamento e escolha dos projetos contemplados seja transparente e sem irregularidades". 

O quadrinista paranaense Enéas Ribeiro, que já morou em Cuiabá e aqui iniciou sua carreira, quando publicou seu primeiro trabalho no extinto "O Estado de Mato Grosso", em 1993, disse que tem muitos projetos, que acredita serem relevantes, mas que acabaram engavetados por ser um período onde as coisas aconteciam de forma mais lenta dentro do Mato Grosso. Artista e palestrante convidado em três Festivais internacionais de quadrinhos - Brasil, Portugal e Angola, no ano passado fez a HQ do aniversário de Várzea Grande, e esta semana encerra a participação como artista convidado no Luanda Cartoon, o mais importante festival de quadrinhos da África. 

"Creio que toda iniciativa de fomento à arte é sempre bem vinda, ainda mais remunerada. Outro ponto positivo que vejo é o fato do prêmio estar dividido entre Capital e interior, o que ajuda a fugir da fórmula fácil do 'mais do mesmo'", disse. 

Segundo a assessoria da Secel, a iniciativa do Governo de Mato Grosso visa democratizar o acesso à arte e à cultura, promovendo o fomento e a descentralização da produção das HQs e o fortalecimento da literatura no Estado. Busca ainda incentivar novas ideias, a circulação e a produção literária de artistas radicados em Mato Grosso. 

Dos quatro projetos selecionados pelo Prêmio, no mínimo dois devem ser oriundos de municípios do interior. O projeto inscrito deve prever a publicação de uma história em quadrinhos em todas as suas etapas, incluindo desenvolvimento, edição e finalização. Serão aceitas criações de material anteriormente publicado em periódicos no formato de tiras ou aquelas produzidas especificamente para a publicação em livro (brochura impressa com, no mínimo, 40 páginas e tiragem mínima de mil exemplares). 

O Prêmio tem por finalidade apoiar a publicação das HQs, que deve ocorrer até o dia 30 de junho de 2016. O proponente deve descrever detalhadamente o formato gráfico da publicação e justifica-lo para fins de avaliação pela Comissão Técnica de Seleção. A inscrição no prêmio Quadrinhos MT é feita mediante o preenchimento do protocolo, entregue ou enviado pelos Correios à Secel, localizada na Avenida José Monteiro de Figueiredo, 510, bairro Duque de Caxias, até 14 de setembro, das 8h às 12h e das 14h às 18h. Mais informações podem ser obtidas pelo site www.cultura.mt.gov.br, pelos telefones (65) 3613-0207 e 3613-0231 ou via e-mail conselhodecultura@secel.mt.gov.br

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