João Bosquo lança “Imitações de Soneto”

Na próxima sexta-feira, noitada literária terá poemas e canções, com participação de Neneto Sá e Beto Vellosa


ENOCK CAVALCANTI
Da Editoria

Uns imaginam que o domingo é bom para subverter o calendário eleitoral, apoiar o golpe e tentar derrubar a presidenta. Nós preferimos falar de poesia. João Bosquo, o nosso repórter – que todos amam (ou odeiam), também tem seu lado voltado pra lua, sonhador e por isso mesmo é poeta. Um poeta cuiabano, curtido no dia a dia das reportagens. E que nesse domingo, ao invés de participar da manifestação dos coxinhas, estará em casa cuidando dos preparativos para o lançamento de um novo livro. Um parto poético, que costuma ser o parto mais bonito.



O que vem a ser um poeta, afinal? Na definição simplória do Google, poeta “é o escritor que compõe poesia”. Legal. Agora saber o que poesia. Na minha tenra mocidade, lá no Rio de Janeiro, este editor do Ilustrado também cometeu suas imprudências poéticas, como o ministro Fachin, que agora se dedica a trocar pernas lá no STF.



Poesia é a dura sina de fazer poesia. “O destino da poesia é falar da poesia”, diz o poeta João Bosquo que, por outro lado, não comete imprudências. Lembro desde os tempos que trabalhamos juntos no Caderno Vida, de A Gazeta, ele volta e meia publicava alguns de seus poemas, mesmo tendo que desafiar a vontade da resistente editora Rita Comini.



Na próxima sexta-feira, 18, no Museu de Arte de Mato Grosso, aquela antiga Casa dos Governadores, Bosquo vai lançar a sua quinta obra, um livro de bolso, reunião de 106 poemas – todos com catorze versos, daí a razão do título “Imitações de Soneto” que tem o sub-título “Ou de Falar Pantanal”, por conta de sua referência à sua terra. O livro, como a recente biografia de Zulmira Canavarros, do Professor Dorileo, vem todo bancado pelo autor, que além de escrever o poema, tratou da edição da obra e da organização do lançamento. Todos verão que o livro do Bosquo, se comparado com a obra do Professor Dorileo, é proletário, nos remetendo àquela poesia de mimeógrafo, que nos encantou tanto na resistência poética dos tempos da ditadura. O conteúdo, todavia, vem com jeito de encantamento.



Se o poeta João Bosquo “acredita que o destino da poesia é falar da poesia”, ele fala muito de poetas, poemas e musas. Ele abre este novo trabalho com uma seleção poemas, ou meta-poemas, como gostam de dizer os críticos literários, e fala de João Cabral de Melo Neto, Fernando Pessoa e do também pantaneiro Manoel de Barros. O poema sobre Manoel de Barros – pelo meu modo de entender – é uma suave ironia, pois ele, o poeta, diz que nunca leu o reverenciado poeta cuiabano:



Nunca Li Manuel de Barros



Depois da partida, sempre depois,

Podemos confessar e eu confesso

Que nunca li Manuel de Barros

Nunca entrei em seus livros



Sempre fiquei preambulando

Em volta dos versos e dos pós

E nunca, jamais, nas pré-coisas

Imersas nas metáforas pantaneiras...



Quando o mar Pantanal se criou

O poeta já estava de butuca

Lápis de graveto e papel borboleta...



O livro, depois, passeia pela paisagem

E a poética, sem retórica universalista,

Nada, feito peixinha, nas águas nuas.





Claro que o João Bosquo leu muito Manoel de Barros, mas é o destino da poesia que se cumpre e ei-lo falando delicadamente de poetas, talvez para aproximar as pessoas desse ambiente tão delicado que é o ambiente da poesia.



João Bosquo já publicou “Abaixo-Assinado”, poesias, em parceria com Luiz Edson Fachin, em edição bancada pelos próprios autores, lançado em 1977, em Curitiba. Depois vieram “Sinais Antigos” (1984) e “Outros Poemas” (1985), ambos pela Edições Namarra, e exatamente há 10 anos atrás, 2006, publicou o que ficou, até aqui, como a sua mais significativa obra, “Sonho de Menino é Piraputanga no Anzol”, com posfácio de mestre Ricardo Guilherme Dicke.



Nesse posfácio (que, na verdade, deveria ser prefácio), Ricardo Guilherme Dicke – o escritor maior de todos os tempos por essas bandas de Cuiabá – escreveu: “João Bosquo é um poeta que enxerga e busca estudar o mundo com olhos de filósofo, senão ele não teria feito poemas como “Ninguém” ou “A cidade” ou “Das pessoas nos bares”, sendo que neste último poema o poeta se transfigura e mostra o irreal de todos os dias (ou noites) que acontece nos bares da cidade (onde o poeta observa do seu posto de observação com seus telescópios ou microscópios telúricos) e vê estranhas coisas que ele procura contar racionalmente”.



Dicke disse ainda, sobre a poesia do Bosquo, que “são mistérios o que o poeta vê... Mistérios pode-se contar, por acaso? O poeta inventa sua língua, subliminar aos arcanos, e procura explicar os segredos, raros são os verdadeiros iniciados, entre os quais se contam aqueles que sabem ter olhos luminescentes e enxergar na vasta escuridão onde tudo desafia ao idioma do poeta...”



Sobre seu primeiro trabalho, “Abaixo-Assinado”, Bosquo nos mostra as referências que recebeu, como a reprodução de seus poemas nos Estados Unidos da América, por iniciativa da professora Terezinka Pereira. O poeta Moacyr Félix, em carta, no tempo que se usava cartas para se corresponder, disse a Fachin, parceiro do Bosquo, no livro que “gostei do jeitão do João Bosquo. Acho um cara autêntico e que vai acertar muitas setas no alvo, se não se perder-se nas ‘frescuras formalistas’ ou na fácil gritaria ‘esquerdizante’”.



Bosquo – fora alguns exercícios - não enveredou pelo ‘formalismo’, tampouco se tornou panfletário. Este novo livro, “Imitações de Soneto” testemunha isso.



Lembre-se que João Bosquo participou ainda do Programa Poetas Vivos, da Casa da Cultura de Cuiabá, do qual era coordenador. Integra a seguintes antologias: “Abertura”, – Edição da UPES – Curitiba – 1976 (sendo esta sua estreia em livro); “A Nova Poesia de Mato Grosso” – Edição do jornal “Fim de Semana” e da UFMT – Cuiabá – 1986; “Panorama da Atual Poesia Cuiabana”– Edição do Departamento de Letras da UFMT (CLCH) – Cuiabá – 1986, e da “Primeira Antologia dos Poetas Livres nas Praças Cuiabanas”, – Edição patrocinada pelo Fundo Estadual de Fomento à Cultura de Mato Grosso – 2005.



O evento de lançamento acontece no Museu de Arte de Mato Grosso, a partir das 19 horas. Durante o evento Neneto Sá, do grupo Poetas Livres, fará leitura de diversos poemas do Bosquo. O cantor e compositor Beto Vellosa vai cantar suas notáveis composições, algumas em parceria com o João Bosquo. Estão sendo esperadas outras adesões. O livrinho será vendido a R$ 10,00.


Fonte: Diário de Cuiabá/DC Ilustrado

http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=488401



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