De Poetas Tortos e Anjos Manés


Vi o poeta saindo de mãos dadas

com um anjo torto

Nem o poeta e assim também o anjo

são capazes de engrenar um poema

de contramão para levantar a musa

madrugada manhã junto com o sol



O poeta – não apenas ele – só conhece

os tortos, os avessos, os diferentes

os Manés, os Garrinchas

os sem sentidos que embarcam, sim,

em canoas furadas



A poesia, meio que afoga, mas

mesmo sem saber nadar, se salva

segurando o rabo do sarã...



O poeta, coitado, sem rimas, remos

sem timoneiro, sem asas despedaçadas

volta ao velho cais do bairro do Porto,

Cuiabá, Mato Grosso, Brasil...



A paisagem, assim como o rio,

não é a mesma depois de cada pôr do sol

a se concretizar dia a dia

além do grande mar Pantanal.

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