João Bosquo Cartola
poeta e jornalista, além de versos, poemas, eventualmente posta outros pitacos
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Leito hospitalar
A poesia, mesmo com febre,
quando infectocontagiosa,
embora sem determinismo,
sai do leito e vai embora
a cativar os incautos
leitores sem previdência
ou meros consulentes
numa tarde, final de domingo.
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Questão 2
Na narrativa de nossas vidas sabemos
(ou imaginamos saber) para onde vamos
e no sentido de nosso caminhar
não entendemos por que as pessoas
– tanta gente –
caminham contrárias à nós...
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Questão 1
A poesia, nem todas às vezes, se questiona,
quando caminha nas calçadas das grandes cidades:
“Por que as pessoas, pedestres,
não seguem todos a mesma estrada?”
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Privativo
Com o tempo – pois o tempo
é o velho senhor de todos –
o poeta descobre que não existe
assunto privado pra poesia
senão a própria poesia.
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Poesia Urbana
A poesia tem um quotidiano
fora de si
Quando a poesia vai ao shopping
se urbaniza ainda mais
e fala a linguagem sem significados puros
metafóricos ou confessadamente líricos.
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De Olhar e Renovar
“A poesia não envelhece,
apenas se renova”,
tenta contrapor o velho poeta
de cabelos brancos...
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De Ver e Envelhecer
Existem momentos
que meus olhos se voltam
para o edifício da Receita Federal
na Avenida do CPA
e não vejo nada
O prédio, embora imóvel,
envelhece como tudo
que nasce sob a face da terra...
Envelhece, inclusive,
como a própria terra.
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Parada Obrigatória
Chegamos antes, bem antes,
do ônibus passar
ou minutos depois...
Para, espera e pensa:
Nunca chegamos na hora
para pensar e esperar.
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Óbito
A espera por inspiração
tem apenas uma estratégia: esperar
O poeta crê, quando crê,
numa esperança infinita,
que a poesia não irá a óbito
dentro de seu peito.
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Transvio
No transcurso do tempo...
Ao fim do dia, do nosso dia,
quando um de nós se perde,
perdidos um do outro,
num segundo,
num piscar de olhos
perde-se quase tudo
de quase perder a vida
No transcorrer do poema
a poesia que se tem de achar
encontro-a simples, desnuda
viajando ao lado no ônibus
rumo ao centro da cidade.
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Viagem sem Bagagem: Volta
O bom de viajar
sem bagagem é que,
no transcurso da viagem,
vai se pensando
em milhões de coisas
que se tem pra pensar
pra dizer pro amor
que partiu sem se despedir
e um dia achou de voltar.
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Viagem sem Bagagem: Ida
O bom de viajar
sem bagagem é que
– durante a viagem –
vai se pensando
em tudo, quase tudo,
em até fazer poesia
macia
sobre a paisagem
(nem tão estética)
cheia de moças
vista da janela do ônibus
rumo à universidade.
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Descaminhos
O poema feito com precisão
de um segundo,
quando embargava no ônibus,
não explodiu
e se perdeu na trilha
entre a intuição e o papel.
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Constatação
A poesia não precisa de editais
Ela navega sozinha rio abaixo
Rumo ao oriente Pantanal.
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Troça
– "A poesia, por menor que seja, é imodesta!"
Poderia dizer Mário de Andrade
parodiando Caetano Veloso.
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Mapa Guia
A poesia é calma
Embora sem valor
tem sentido, rumo
e guia o poeta
de mãos dadas
neste e noutros poemas.
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Bolsa de Valores
O Pantanal da poesia
de Manuel de Barros
tem outro valor – valor literário –
e não se negocia nas bolsas de valores...
– Ainda assim não despenca.
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Inverno
A poesia mesmo com frio
sente calma ao exalar do vento
por entre trilhas do rio Pantanal.
O frio em Mato Grosso
não vence as queimadas...
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Do Entardecer
Ao entardecer de nossa lida
A poesia assume um novo tom
Às vezes nem tão poético
Esquecida de novos
E velhos compromissos.
Do Ar e da Terra
Do ar, sabe-se, respira a poesia
Não a poesia concreta
que salta do asfalto
porém a tênue poesia
que muito das vezes se perde
em teorias tolas que provocam
mas não provam da essência...
Continua>>>
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