Mostrando postagens com marcador #BiografiaDoPoema. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador #BiografiaDoPoema. Mostrar todas as postagens

Leito hospitalar

A poesia, mesmo com febre,
quando infectocontagiosa,  
embora sem determinismo,
sai do leito e vai embora
a cativar os incautos
leitores sem previdência
ou meros consulentes

numa tarde, final de domingo.

Questão 2


Na narrativa de nossas vidas sabemos
(ou imaginamos saber) para onde vamos
e no sentido de nosso caminhar
não entendemos por que as pessoas
– tanta gente –
caminham contrárias à nós...

Questão 1


A poesia, nem todas às vezes, se questiona,
quando caminha nas calçadas das grandes cidades:
“Por que as pessoas, pedestres,
não seguem todos a mesma estrada?”

Privativo


Com o tempo – pois o tempo
é o velho senhor de todos –
o poeta descobre que não existe
assunto privado pra poesia
senão a própria poesia. 


Poesia Urbana

A poesia tem um quotidiano
fora de si
Quando a poesia vai ao shopping
se urbaniza ainda mais
e fala a linguagem sem significados puros
metafóricos ou confessadamente líricos.


De Ver e Envelhecer


Existem momentos
que meus olhos se voltam
para o edifício da Receita Federal
na Avenida do CPA
e não vejo nada 
O prédio, embora imóvel,
envelhece como tudo
que nasce sob a face da terra...
Envelhece, inclusive,
como a própria terra.

Parada Obrigatória


Chegamos antes, bem antes,
do ônibus passar
ou minutos depois...

Para, espera e pensa:
Nunca chegamos na hora
para pensar e esperar.

Óbito

A espera por inspiração
tem apenas uma estratégia: esperar

O poeta crê, quando crê,
numa esperança infinita,
que a poesia não irá a óbito
dentro de seu peito.

Transvio

No transcurso do tempo...
Ao fim do dia, do nosso dia,
quando um de nós se perde,
perdidos um do outro,
num segundo,
num piscar de olhos
perde-se quase tudo
de quase perder a vida

No transcorrer do poema
a poesia que se tem de achar
encontro-a simples, desnuda
viajando ao lado no ônibus
rumo ao centro da cidade.

Viagem sem Bagagem: Volta

O bom de viajar
sem bagagem é que,
no transcurso da viagem,
vai se pensando
em milhões de coisas
que se tem pra pensar
pra dizer pro amor
que partiu sem se despedir
e um dia achou de voltar.

Viagem sem Bagagem: Ida

O bom de viajar
sem bagagem é que
– durante a viagem –
vai se pensando
em tudo, quase tudo,
em até fazer poesia 
macia
sobre a paisagem
(nem tão estética)
cheia de moças
vista da janela do ônibus
rumo à universidade.

Descaminhos

O poema feito com precisão
de um segundo,
quando embargava no ônibus,
não explodiu
e se perdeu na trilha
entre a intuição e o papel.

Troça

– "A poesia, por menor que seja, é imodesta!"
Poderia dizer Mário de Andrade
parodiando Caetano Veloso.

Mapa Guia

A poesia é calma
Embora sem valor
tem sentido, rumo
e guia o poeta
de mãos dadas
neste e noutros poemas.

Bolsa de Valores

O Pantanal da poesia
de Manuel de Barros
tem outro valor – valor literário –
e não se negocia nas bolsas de valores...

– Ainda assim não despenca.

Inverno


A poesia mesmo com frio
sente calma ao exalar do vento
por entre trilhas do rio Pantanal.

O frio em Mato Grosso
não vence as queimadas...

Do Entardecer


Ao entardecer de nossa lida
A poesia assume um novo tom
Às vezes nem tão poético
Esquecida de novos
E velhos compromissos.




Do Ar e da Terra

Do ar, sabe-se, respira a poesia
Não a poesia concreta
que salta do asfalto
porém a tênue poesia
que muito das vezes se perde
em teorias tolas que provocam
mas não provam da essência...