Mostrando postagens com marcador Poéticas Menores e Poemas Controversos (1981-1990). Mostrar todas as postagens
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Eu Vi Um Sapo Cantando

Eu ouvi um sapo
cantando a rã
naquele doce papo
pra faturar galã

eu ouvi um fiapo
de voz sabichã
imitando jenipapo
uma vez manhã

O Sapo Filósofo

Sonhei que tinha um sapo na barriga...
Era um sapo grande, enorme, imenso
Um sapo de olhos de ver verdilhosos

Dizia-me coisas antigas em cuiabanês
e muito das vezes não condizia com o dia
Só sabia que o sapo fazia filosofia
e estacionava na minha barriga

No Precipício

Não me molhe com sais de lágrimas.
Me lambuze com mel
doce, doce, doce de amor

Faça comigo gostosa esquisitice
na vértice da noite
escondidos nos lençóis
laços de sexos sedentos

Interurbanos



Os telefonemas de Cessa Lenine
são razoavelmente intermitentes
São para lembrar que sou pai, ela filha
que devo sentir saudades pátria dela

Que deve pedir notícias missivistas
falar das esperanças de viagens
e em, apesar da crise, visitá-la

Teu Beijo


Teu beijo tinha um efeito emético,

Provocava em mim certa embriaguez,

certo azedume, certo desconexo


Teu beijo tinha um ranço esquisito,
estranhos contornos no céu da boca,
loucas esperanças em dentes espetos

Teu beijo despontava melancólico,
fazia risos na extinta plateia,
na distinta sintaxe em cuiabanês

Como Nava *

Cansado de ir ao banheiro
como se fosse simples contorno
e tentar contornar as coisas
da mão em torno do pênis

Cansado de ir ao estádio
e gritar, como se esse grito
fosse aquele guardado a tempos
à espera de novos sentidos

Chapada tem um Menino


Em Chapada, chamada dos Guimarães,
tem um menino que olha pro céu.
De dia vê nuvens - conforme forma
na sua imaginação - de estranhas formas.
De noite, esse menino sonha
estrelas e passeia por entre elas
em naves de nautas de outros astros.

Em Chapada, chamada dos Guimarães,
tem um menino que, quando é domingo,
inventa que é navegador-pirilampo
e sai  pelos rios e cachoeiras
brincando com os peixes brilhantes,
até chegar no sol, no sal do mar
e ficar só, sozinho em Salgadeira.
ou
e ficar nu, nuzinho em Salgadeira.

Poema musicado por Joãozinho do Cavaco e Jú Baiana, gravada no CD Jú Baiana Canta Mato Grosso, de 1997.

Milena

Assusta, Milena
O novo ano
O novo século
O novo milênio
Chamam por você

Está tão criança
E ainda bem separou
Do cordão umbilical materno
E és chamada à nova aurora

Assusta, Milena
Abre os olhinhos
Veja teu avô criança (caduco)
Meio negro, meio índio
Que não aprendeu polonês
E aparece no gen de tua mãe

Milena, recorda
O ano 2 mil inicia
E assim começa o fim
De nosso século
- Nosso não... o seu