Aurélio

Lucas bebia muito
Todo mundo falava,
aconselhava Lucas
a não beber

Mas qual!
Conselhos entravam
por um ouvido,
saiam por outro
até que um dia
o filho mais velho
morreu de leucemia

Águas de Cuiabá

Quem sai na chuva é pra se molhar, diz o dito sabido
Molhado, reparo, esqueci o guarda chuva
esqueci o chuveiro ligado
esqueci de pagar a conta da Sanecap

Despedidas

Os poetas estão indo embora,
Enquanto isso chegam os chatos
De galocha com seus sapatos
Engraxados, mas sem brilho
                              nem lustre.

Negócio de Ocasião

Vendo ou alugo um poema recém-refeito
Reformado para grandes eventos
Um poema para todos os sentimentos

O poema original estava esquecido
Com termos e rimas, hoje em desuso,
Parecia arcaico, um tanto esquisito

O poema agora tem feições contemporâneas
Sob a nova ótica da crítica pós-moderna
Pode, entre seus pares, ser compreendido
Citado em tertúlias e conferências literárias

Prêmio Paraná de Literatura 2018 anuncia vencedores: Lourenço Cazarré (DF), Raimundo Neto (SP) e Daniel Arelli (MG)

Vencedores_Prêmio Paraná 2018

Da Assessoria | A Biblioteca Pública do Paraná (BPP) divulgou os títulos dos livros vencedores do Prêmio Paraná de Literatura 2018. Em sua quinta edição, o concurso da Secretaria de Estado da Cultura selecionou obras inéditas, de autores de todo o País, em três categorias que homenageiam figuras importantes da literatura paranaense. O júri apontou Kzar Alexander, o louco de Pelotas, de Lourenço Cazarré (DF), como o melhor romance (prêmio Manoel Carlos Karam). Todo esse amor que inventamos para nós, de Raimundo Neto (SP), venceu a categoria contos (prêmio Newton Sampaio). E Lição da matéria, de Daniel Arelli (MG), foi o destaque entre as obras de poesia (prêmio Helena Kolody).

Poeminha


Tenho um amigo demente
que faz poesia
com cocô de passarinho
na cabeça do vizinho
que se irrita
com tanta poesia assim.

Reposição

Repor o verso,
dentro do cosmo
(sem musa),
com palavras solidárias
às manifestações
do homem oprimido
no momento,
contra as ações
dos impérios,
é obrigação.

Vamos

“Vamos para praça
juntar uma leia de gente
para poder gritar mais duro

Não houve enfrenta cão
que nós temêssemos

Tática

A Eunice Campos

Pra te amar
Armei uma tática
(Aritmética de amador)
 
De espreitar emprestei
Tanto olhar
Que seu olhar machuca

Tédio

Morrerei de cachaça
nesta carcaça!

O tédio me mata
na angustiante noite
longa e silenciosa

Longe de meu dia,
no qual vivo baratinado
sem o grito eufórico
da liberdademocrática

Morrerei um dia,
para sua alegria!,
de tédio e cachaça
lágrimas nos óleos
em perder a vida.

Minha Poesia

Falando francamente:
sou um fraco trovador
             franco atirador
cuja troca tem um quê
de métrica desmedida
e diz e nem a fala
se manifesta na língua

Minha poesia não usa símbolos
metáforas, anáforas
Minha poesia é sem vestidos
segredos, medos, enredos
Minha poesia não tem presas
preconceituais ou amarras...

Versões

Existe verdade
na mentira muda

Existe um pranto
no eco do sorriso

Existe uma graça
em todo acalanto

Existe uma criança
em cada menino grande

Em cada verdade
há uma mentira

Em cada mentira
há uma lógica