Déjà Vu

É golpe? Não, é farsa
É farsa? Não, é golpe
Farsa e golpe
Golpe e farsa
Faces duma única moeda
De farsa e golpe...
O que é pior
Acreditar na farsa
Ou se ver no golpe?

​Falar Nero, JK e de sem tetos

Não existe a menor possibilidade do fogo,
do fogo que queima, acabar com os sem-tetos
Nero em Roma, bem que tentou. Destruiu a urbe,
mas o povo, teimoso, sobreviveu e Roma se refez

Juscelino Kubitschek construiu Brasília
no meio do cerrado em brasa, sem o Lago Paranoá...
O brasiliense poeta Nicolas Behr, bandas de rock
e sem-tetos vieram depois de outros tantos
brasilianos trabalhadores que ergueram a cidade...

Canto Pantaneiro


O canto vivo do pantanal
É o som do rio corrente
Que corre como um signo
Entre peixes e aquário

O canto pantaneiro, amor
Tem xis, chiados e pipios
Entre a luz e o entardecer
De todos os voos singulares...

Desescrever

Escrevo porque sou disléxico
Não sei o que leio no correr
dos dias por entre luzes
e becos de fora escondidos

Escrevo, talvez por sina,
mesmo sem entender
tudo aquilo que escrito
a letra transmite ao léu

Escrevo e todos os medos
da extrema escuridão
permanecem para sempre...

Escrevo e, reconheço, soletro
cada fonema brincando
dentro de mim feito menino.

Depois do Temporal

Tudo volta ao normal
Depois do temporal
Jogo de bola, areia
grito de gol, ponto final

Novo endereço
Pra uns; enquanto nós
Gotas de lágrimas
Caem dos céus

Delay

Acordei de um sonho e me vi acordando
No sonho eu me via sonhando
Que acordava de um sonho no qual
Me via acordando – cheguei pensar: não é sonho.

Bulas e Receitas

Li todas as bulas dos barbitúricos
Anotei os sintomas colaterais
Analisei os prós e contras
Antes de postar a carta no correio

A Vida Continua

Uns são corruptos e democratas
Outros corruptos e golpistas
No meio disso tudo
Tem os usuários de drogas,
Sonegadores de impostos,
Pessoas que vão a missa aos domingos,
Outros que gostam de caipirinha,
Sem falar naqueles que tomam aspirinas,
Quando sentem dor de cabeça,
Enquanto outros cedem e a corrupção perpetua…

Sessenta e Um Canalhas


Sabia, não tinha certeza, somos um bando de canalhas...
Canalhas, canalhas, canalhas! Vociferou Tancredo Neves
Naquele remoto ano de 1964 apontando o dedo
Para o canalha presidente da câmara dos deputados

Sabia, não tinha certeza, o congresso é caro aos canalhas
Canalhas deputados obedientes a um canalha maior
Que coloca outro, igual ou maior, na presidência da república
A face da nação se transmuta em pátria canalha...

Aurélio

Lucas bebia muito
Todo mundo falava,
aconselhava Lucas
a não beber

Mas qual!
Conselhos entravam
por um ouvido,
saiam por outro
até que um dia
o filho mais velho
morreu de leucemia

Águas de Cuiabá

Quem sai na chuva é pra se molhar, diz o dito sabido
Molhado, reparo, esqueci o guarda chuva
esqueci o chuveiro ligado
esqueci de pagar a conta da Sanecap

Despedidas

Os poetas estão indo embora,
Enquanto isso chegam os chatos
De galocha com seus sapatos
Engraxados, mas sem brilho
                              nem lustre.

Negócio de Ocasião

Vendo ou alugo um poema recém-refeito
Reformado para grandes eventos
Um poema para todos os sentimentos

O poema original estava esquecido
Com termos e rimas, hoje em desuso,
Parecia arcaico, um tanto esquisito

O poema agora tem feições contemporâneas
Sob a nova ótica da crítica pós-moderna
Pode, entre seus pares, ser compreendido
Citado em tertúlias e conferências literárias

Prêmio Paraná de Literatura 2018 anuncia vencedores: Lourenço Cazarré (DF), Raimundo Neto (SP) e Daniel Arelli (MG)

Vencedores_Prêmio Paraná 2018

Da Assessoria | A Biblioteca Pública do Paraná (BPP) divulgou os títulos dos livros vencedores do Prêmio Paraná de Literatura 2018. Em sua quinta edição, o concurso da Secretaria de Estado da Cultura selecionou obras inéditas, de autores de todo o País, em três categorias que homenageiam figuras importantes da literatura paranaense. O júri apontou Kzar Alexander, o louco de Pelotas, de Lourenço Cazarré (DF), como o melhor romance (prêmio Manoel Carlos Karam). Todo esse amor que inventamos para nós, de Raimundo Neto (SP), venceu a categoria contos (prêmio Newton Sampaio). E Lição da matéria, de Daniel Arelli (MG), foi o destaque entre as obras de poesia (prêmio Helena Kolody).