Poema Dormido

Encostou a cabeça no travesseiro:
O verso veio como um relampejo

As pálpebras, preguiça de sono,
Não se levantaram...

Ciclo em Círculos


Quando estou triste, fico alegre;
quando alegre começo a entristecer
É o círculo da alma que acompanha
o ciclo da vida de viver e morrer

Discurso de Lula neste 7 de Setembro de 2020

"Minhas amigas e meus amigos.

Nos últimos meses uma tristeza infinita vem apertando meu coração. O Brasil está vivendo um dos piores períodos de sua história.

Com 130 mil mortos e quatro milhões de pessoas contaminadas, estamos despencando em uma crise sanitária, social, econômica e ambiental nunca vista.

Mais de duzentos milhões de brasileiras e brasileiros acordam, todos os dias, sem saber se seus parentes, amigos ou eles próprios estarão saudáveis e vivos à noite.

A esmagadora maioria dos mortos pelo Coronavírus é de pobres, pretos, pessoas vulneráveis que o Estado abandonou.

Na maior e mais rica cidade do país, as mortes pelo Covid-19 são 60% mais altas entre pretos e pardos da periferia, segundo os dados das autoridades sanitárias.

Cada um desses mortos que o governo federal trata com desdém tinha nome, sobrenome, endereço. Tinha pai, mãe, irmão, filho, marido, esposa, amigos. Dói saber que dezenas de milhares de brasileiras e brasileiros não puderam se despedir de seus entes queridos. Eu sei o que é essa dor.

Teria sido possível, sim, evitar tantas mortes.

A vida não é um desconcerto


Nem tudo é um desconcerto... A vida é um pássaro de asas abertas, planando acima da montanha, acima das nuvens brancas e mal seguram os raios de sol, ou das nuvens cinza e escuras de chuva

A chuva quando no meio da tarde, com muita ameaça (entre trovões e relâmpagos) de tempestade, não assimila, não ensina assimilar o destino das coisas, mas demonstram as mudanças, as alterações de paisagens

A vida é mudança, transformações: Algumas a nosso pedido, sob o nosso querer, mas o mais das vezes contra a nossa vontade, como por exemplo, a nossa pele que envelhece e se enruga toda

12. história tonta

junice, não fiques despenteada,
toda suja, toda imunda
roupa - fantasia rasgada,
que parece vagabunda

não, junice, não me abrace
que assim você me suja
junice, não me embarace
com esses olhos de lua

oh!, junice, porque fizeste assim?
agora vou ter que por um fim
nesta história meio tonta...
- ainda bem que te amo, guria sonsa.

Imemoriais


Nos tempos imemoriais
lembrava-nos do tempo
- doutros tempos –
de memória
sem razão de lembrar
no templo da história

A poética sem dó, ré


Ela disse,
Sem metáfora:
Tô fora.

Sem dó
D’eu
Adeus.

Velha Catedral de Barro


Quem cismou de derrubar a velha catedral de barro?
Ninguém mais sabe. Os cuiabanos morreram,
os livros de histórias apodreceram nas estantes
e ninguém mais tem coragem de comentar

Dom Orlando Chaves, quando se aposentou,
foi embora (um dia tinha de ir) pra cidade natal
Luiz-Felipe Pereira Leite ainda tentou
remediar e contar das paredes adernando...

Os Paraplégicos

Os paraplégicos vão voltar,
atravessarão o rio à nado
Diante do nosso espanto
irão se erguer do chão

Os paraplégicos vão nadar
pelos mesmos caminhos
que um dia foram juntos
solidários com os peixes

Sobreviventes

meu coração sobrevive
nestas esquinas
ruas sem estrelas
de antigos casarões
de velhos senhores
mandantes que mandavam
e desmandavam em tudo

- os müller desintegrarão!

meu coração chora
nas ruínas de igrejas
na paredes que caem
continuamente
e não poderemos soerguer
à posteriori

Procuram e me acham


Dedicado ao ex-presidente Lula da Silva
 
No fim vão me encontrar.
Posso estar nu, vestido,
Não importa, se num caixão,
Hão de me encontrar...

Não sei se estarei rindo
Achando graça da caçada
Do ilícito de estar vivo
A procura da felicidade

Soneto Militétrico

Gostaria de ser sintético
pouco mais hermético
pouco menos patético
mais ou menos hético

Ter amigos incertos
pouco mais dialéticos
poder ser supra direto
e menos pós-poético