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Meu Pai em Silêncio

Meu pai está morto dentro do armário,
que nunca existiu em minha casa
Por que está lá, calado como um bule,
causa surpresa e ninguém sabe
a metáfora desse ficar em silêncio

Meu pai está morto dentro do armário
escuro pelo tempo que tudo escurece
Poucas pessoas sabem disso, mas as madeiras,
que guardam livros, louças e defuntos
nada esquecem e registram na memória

E de memória a madeira lembra
que meu pai era apenas um comerciante
e se julgava esperto, entretanto foi enganado
pelo sócio-padeiro que lhe roubava trigo...

O Armazém Mercado em concordata
fechou, foi à falência e João Sabino
morreu do coração em tarde abandonada

Hoje, ele se encontra no armário
e ninguém lembra de lhe perguntar

sobre seus amores idos, filhos
e o motivo de se encontrar
quieto, silencioso como um relógio
estragado que não mais faz: tic-tac...

Mãe e Filha


in Maria Hosana, uma amiga

Veja a menina
     com saudades
     doutra menina
     nesta tarde de sábado
Ela só pensa
    como pensa
    outra menina
    nesta tarde de sábado
Ah!, se pudesse
     essa menina
     nesta hora de sábado
     estava ao lado doutra menina.
1984

Ricardo Guilherme Dicke está morto?

Ricardo Guilherme Dicke está morto?
Não, Ricardo Guilherme Dicke é perene
como suas letras encadeadas em palavras
palavras em frases, frases em longos,
longuíssimos parágrafos
intermináveis parágrafos em romances
contos... Os poemas são justos
O corpo que agora vai é apenas um corpo
Ricardo Guilherme Dicke permanece
em mim, no meu sentimento de gostar de um amigo,
na lembrança de ficar em companhia
conversando conversa fora por horas
e a certeza de que, o que deveria ficar,
está nas letras, frases que formam histórias
impresas em livros, depois de lidos,
impregnam as memórias: minha, sua, leitor.