Muito mais que onça e caju

ARTES PLÁSTICAS


Artista João Sebastião, agora Barros, aprende a lidar com smartphone para incrementar produção artística

João Sebastião de Barros definitivamente está aprendendo a lidar com as ferramentas da pós-modernidade. Aos 66 anos, se viu obrigado a aceitar o smartphone. O aparelho, contudo, é bom que se diga, vai virar prancheta. Melhor dizendo, substituirá a prancheta, aquela que todo artista usa para elaborar seus esboços. Com o tempo corrido, essa atividade preliminar da realização das obras de artes toma o tempo e o tempo está cada vez mais curto. O aparelhinho, com suas lentes, servirá para fazer os registros in loco com um nível fidelidade, quiçá, melhor. 

"Estou aprendendo. Quando não sei, minha sobrinha vem e me socorre", conta. "As crianças de hoje parecem que já nascem sabendo lidar com esses 'brinquedos', enquanto nós pelejamos" - o artista esclarece. É uma ferramenta que será utilizada na construção de um texto ou uma pintura. 

A primeira missão já está definida: será fotografar a região do Coxipó da Ponte, onde ficava o casarão de seu avô paterno, Alexandre de Barros, naquele entroncamento de quem vai para o bairro São Gonçalo Beira-Rio e Parque Cuiabá. O Coxipó, bom esclarecer, será o próximo talismã do artista que será visto em suas cores e interpretação. 

O casarão não existe mais, deu lugar para a modernidade. A árvore, porém, teve mais sorte e continua frondosa. Essas referências serão registradas para a próxima leva de quadros que serão pintados por João Sebastião. A casa, construída em 1903 pelo avô, voltará como elemento de ficção nas próximas criações. 

Cuiabá aparece mais interna na pintura joãosebastiana, cujos traços de estilo se consolidaram na década de 70 do século passado, com dois elementos fundamentais, a onça pintada e o caju. Essas linhas na pintura de João Sebastião vão estar de forma consolidada na tela que faz parte do acervo da Universidade Federal de Mato Grosso e fica à mostra ao público na Reitoria. "Essa é uma obra síntese", avalia o próprio artista. 

As fases variam, mas a temática é a mesma e ela não finda, ou melhor, cada vez mais amplia os olhares do artista para dentro e fora de si mesmo. A exposição atual, que está na Galeria Casa do Parque, leva o nome "Água da Bica". O correto – se existisse correto – seria "água de bica", mas nós cuiabanos de todas as gerações sabemos que é água da bica. "Vamos tomar água da bica", remonta às nossas infâncias. A exposição com olhares de peixinhos na Casa do Parque, fica aberta ao público até o dia 25 deste. 

O artista, nesse ponto, não abre mão. A imagem, o sentir é da gente cuiabana, que nasceu em Cuiabá, mas registrado no cartório do Distrito do Coxipó da Ponte. Esse artista é o interprete da cultura, da raiz cuiabana. "Não faço uma pintura conotativa, denotativa, pintar uma casinha aqui e ali. Isso eu não faço. Minha pintura busca o encantamento". E o encantamento está nas cores, na temática e busca desse sentimento de cuiabanidade que faz com que a obra seja admirada aqui e lá fora. 

João é um artista formado na escola de Aline Figueiredo e Humberto Spíndola. Ele saiu de Cuiabá, concluiu o segundo grau, hoje conhecido como ensino médio, mas não se tinha faculdades de artes. Belas Artes chegou a estar em seus planos. Ao chegar lá, levado pelo amigo Fábio Ineco, um dos instrutores ao ver os rabiscos de João Sebastião disse que ele não precisava aprender mais nada. No retorno à terra natal entra em contato com o casal Aline e Humberto. 

Segundo João Sebastião, Aline e Humberto investiram muito na formação do jovem artista. "Aprendi com eles a intelectualizar, pensar, filosofar a obra de arte", conta. 

João Sebastião de Barros não gosta de falar de política, não discute futebol, tem a sua religiosidade, embora não frequente igrejas e alguns canais de TV não assiste mais. Sabe que algumas novelas atuais não tem enredo, apenas lugares comuns. Além de ficar divulgando só coisa ruim, coisas pesadas, a TV hoje não é capaz de nada educativo, segundo avalia. Assim como também detesta quem faz uso de palavrões. "A língua portuguesa é tão rica de adjetivos". Isso sem falar na falta de principios da prática política atual. "Estão sumindo as excelências". 

Embora queira ficar de bem com todo mundo e o mundo como um todo, o artista fica indignado com algumas situações, que se pode considerar esdrúxulas. Uma dessas incoerências é o monumento Maria Taquara, localizada na Prainha, esquina com a rua Clóvis Huguenei. João Sebastião diz que "canharam" pedestal para estatua da mulher-mito. Ela era alta e o pedestal deveria ser mais alto. E desse ponto, onde está localizado esse monumento, na opinião do artista, vê-se outra barbaridade que é o mato tapando a lateral da Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho. A igreja, lembra ele, foi construída no alto justamente para ser vista. Mas isso não acontece por conta do abandono que a cidade de certa forma vem vivendo. 

Atualmente os quadros, em geral, são de 70x94cm, considerados de tamanho médio. Os grandes quadros, tipo painéis, são raros. A idade e o mercado não ajudam mais. 

O artista mora em uma casa no bairro Consil, em Cuiabá. O leitor interessado pode localizar pelo GPS ou pelo Google Maps – Rua P, Quadra 7. Por que isso? Porque o artista quer abrir uma linha direta com o consumidor. Abrir a sua casa ao público, para visitação de interessados em sua obra e para poder comercializar a preço de ateliê, sem intermediários. Segundo ele, essa necessidade é real, precisa desaguar a produção atual para produzir mais. Ah, sim, o wattsapps +55 65.9294-5915. 

Ele acredita que Cuiabá está bem servida em termos de galerias, o que precisa é de mais mecenas. 

João Sebastião da Cos..., ops, de Barros. Desde quando sua mãe, ceramista Alexandra Pinto de Barros, sua primeira mestra nas artes, desencarnou, ele passou a assinar João Sebastião de Barros.
(Edição: Enock Cavalcanti)

Fonte: Diário de Cuiabá 

15.04.2015 http://diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=469917

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