Pescuma começou fazendo samba

MÚSICA

O artista paulista se aventurou em Cuiabá e estourou em Mato Grosso, depois de um convite singelo do então sindicalista Chico Daltro

Um bate papo, pra lá de ótimo, com o cantor, compositor, produtor e agora também apresentador de TV, Pescuma, do trio Pescuma, Henrique &Claudinho; do programa Bem Mato Grosso, das parcerias de sucesso com Bolinha, do sax cuiabano, e com o poeta Moisés Martins e autor de memoráveis sambas enredos que animaram os carnavais de rua, quando Cuiabá tinha carnaval de rua, abre um leque de alternativas para o repórter abrir o seu texto. 

Poderia iniciar falando da fé e devoção do "bandeirante cuiabanizado" – no dizer de Moisés Martins – por São Benedito. Abrir com os memoráveis versos proféticos de seu primeiro samba enredo composto para o bloco e depois escola de samba "Beleza Pura", ou ainda, quando se iniciou na música, na mais tenra infância... enfim. Vamos iniciar pelo fim. 

Pescuma está em tratamento de bursite no ombro esquerdo. Só quem já teve bursite sabe do que estamos falando. É uma inflamação da bolsa sinovial. Essa bolsa repleta de fluido, que fica entre as articulações do ombro, tem a função de um amortecedor entre os tendões, os ossos e a pele. Quando inflama, sai de perto. 

Devido a essa bursite, para se ter ideia, com o braço direito ele consegue levantar até 9 quilos enquanto com o esquerdo mal chega a 3 kl. O médico – não poderia ser diferente – recomendou repouso absoluto. Embora consciente disso, dessa necessidade, Pescuma, ao empunhar a viola de cocho (Ah!, outra paixão por qual poderíamos optar) para a sessão de fotos, ele começa a dedilhar o instrumento e a tirar alguns acordes lembrando o rasqueado cuiabano. Risos. 

Ao devolver a viola de cocho, que fica numa espécie de nicho em seu escritório na produtora Betacine, ele conta que os santos ali guardados, são dois: São Benedito e Santo Antônio do Categeró, também preto, como o nosso santo negro, presente de sua irmã quando de uma de suas visitas à Taubaté, e pensou se tratar de Benedito, o santo de devoção de Pescuma. As duas imagens convivem juntas sob o olhar de N. Sra. de Aparecida. "Também adotei como meu protetor, Santo Antônio de Categeró", explica. 

Pescuma é uma das nossas principais referências quando se fala da música regional. Embora seja uma criança em termos de cuiabanidade. Tem apenas 30 anos, quando Cuiabá está prestes a completar os 300 anos de fundação. Benedito Donizete de Moraes, o Pescuma, chegou aqui, de mala e cuia, em junho de 1984, praticamente recém-formado em Comunicação, na área de Jornalismo, pela faculdade de Taubaté, no Vale do Paraíba. Essa curiosidade por Mato Grosso, pelo Centro-Oeste brasileiro teve início assim que entrou na faculdade. Todos eram unânimes quando ao fato de que o futuro do Brasil está aqui. 

E Pescuma começou, ao pesquisar por meio da literatura, a se apaixonar um pouco por Mato Grosso, pelos ecossistemas do Pantanal, Cerrado, Amazônia e Araguaia. Depois de formado, o convite do amigo José Carlos Ribeiro (que já morava em Cuiabá) foi decisivo quando disse: 'Pescuma, Cuiabá tem uma vida noturna intensa e seu violão vai dar certo lá'. 

"Larguei tudo e vim. Se não desse certo aqui em Cuiabá, ia subir pro Amazonas. Voltar, não". Aqui aportou em 1984. 

Vamos explicar; ainda estudante, Pescuma já trabalhava na noite, como músico e cantor – voz e violão em bares. E como tal, percorreu algum trecho entre São Paulo e Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro, em plena juventude, formou a sua primeira parceria, com Jaú, integrante da ala de compositores da Escola de Samba "Império do Morro", uma afiliada da Verde e Rosa. 

Foi com Jaú que Pescuma aprendeu tudo que sabe em termos de composição de samba-enredo e chegou a disputar vários concursos e a integrar a ala de cavaquinho. Aquela que fica na área de aquecimento antes da escola entrar na avenida. Foi essa experiência que o aproximou de Chico Daltro. 

Um belo dia, no bar Tucanos, na avenida do CPA, tocando o seu violão, numa mesa, e Chico Daltro, então no Sindicato dos Bancários, depois mais tarde político, deputado e vice-governador, pede licença pra sentar e papear. 

É Chico quem o leva para a Unidos do Coxipó, uma escola do segundo grupo, que tinha como tema naquele ano, "Aurora da Liberdade". Fez o samba e tem os seguintes versos iniciais "Abrindo a cortina da alegria", falando da efervescência política que o Brasil vivia, sob o espírito das Diretas-Já. 

Chico Daltro também o leva para o bloco Beleza Pura e Pescuma compõe o seu segundo samba-enredo, com os versos "proféticos": "Este ano ninguém me segura/ Que este ano vou sair no Beleza Pura// Beleza Pura é o Mixto campeão/ É Tancredo no Planalto/ Governando esta nação/ Beleza Pura é o nosso Pantanal/ É a nossa bateria em tempo de Carnaval". Unidos do Coxipó tirou o primeiro lugar e subiu para o primeiro grupo, enquanto o Beleza Pura venceu o primeiro carnaval na avenida. 

Foram homenagens inúmeras em mais de 40 sambas enredo, mas é bom destacar o de Jejé de Oiyá, para o Imprensando Bebum, em parceria com Waldemir Félix, de Malik Didier, e Joãozinho Trinta. Pescuma conta que foi ao Rio para mostrar ao carnavalesco: "Caiu do céu feito uma estrela/ Cheio de luz e esplendor/ No dorso da razão da vida/ Fez do mundo uma avenida/Empolgante e colorida/ onde o samba é o senhor". (Edição: Enock Cavalcanti)

Mais Pescuma no link:

Pequeno Perfil Cultural 

Cantor regional:(Sem resposta) 

Cantor Nacional: A dupla Zezé di Camargo e Luciano e Rolando Boldrin, que faz um trabalho maravilhoso de divulgação da musica brasileira. 

Legado: Pixé, com Moisés Martins, e É Bem Mato Grosso, com Ulisses Serotini. 

Música que gostaria ter composta: "Casinha Branca" de Elpídio dos Santos. 

Compositor: Renato Teixeira e Chico Buarque. 

Poeta: Moisés Martins. 

Cidade:Deus me deu três amores em forma de cidades: São Luís do Paraitinga, onde nasci, Taubaté, onde me criei e Cuiabá, onde me realizei. 

O melhor de Cuiabá: Sem dúvida nenhuma, o bondoso e hospitaleiro povo cuiabano. 

O que precisa melhorar: Cuidar de suas raízes, cuidando de suas futuras gerações. 

PS: Quanto ao cantor regional, Pescuma pediu um tempo pra pensar. E acabou não citando ninguém. 

02.04.2015

Fonte: Diário de Cuiabá

http://diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=469423

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