A saga musical de Edmilson Maciel

Cantor e compositor da Banda Terra ajudou a firmar o sucesso do rasqueado e do lambadão

POR JOÃO BOSQUO | Edmilson Maciel Terra, cantor e compositor, como está no nome, é das terras de Mato Grosso. Mato-grossense, natural de Nortelândia, em 1963, aos cinco pra seis anos a família muda-se para o recém-criado distrito de Tangará da Serra, que viria a se emancipar em 1976, e lá começou a sua trajetória na música e artes cênicas. Mesmo criança registra na memória toda a luta para e emancipação e depois o desenvolvimento que o município iria vivenciar. “Sou de Nortelândia, mas a minha base familiar, de amizades é de Tangará da Serra”, afirma.

Os irmãos Maciel tinham uma banda de música, dessas de tocar e animar bailes e, criança, Edmilson via toda aquela agitação e na adolescência começa a participar também do conjunto, primeiro, claro, como cantor, pois a voz é o único instrumento musical que todos possuem – uns usam, outros não. Além disso, começou a participar dos festivais de calouros – promovidos e organizados pela família Maciel, sempre esteve envolvida com a música. O último a entrar, Edmilson Maciel, é, atualmente, o único que continua na música.

Na fase inicial, com cara de guri ainda, a banda vai tocar em Barra do Bugres. Eis que está na plateia, o juiz de direito que também cumpria o papel de juiz de Menores (cuja nomenclatura virá mudar com o Estatuto da Criança, da Infância e Adolescência), brecou a participação de Edmilson. O repertório – grande parte dele já contava com Edmilson como crooner principal. Até o juizinho entender que sem o jovenzinho não iria ter show e ao constatar que a banda era familiar, enfim, o garoto foi liberado para mostrar o seu talento.

Outro fato decisivo acontece dois anos depois, quando estava com 16 anos, durante o período de carnaval, com contrato assinado e o baixista da banda deixa o grupo. “Resolver como o problema?” – era a pergunta de todos reunidos em uma mesa e, como por numa trama combinada, todos se voltam para Edmilson e ele estava eleito o novo baixista da banda e o carnaval aconteceu e ele não parou mais.

Mesmo participando, a família manda o jovem estudar na Escola Agrícola de São Vicente (depois Escola Técnica e agora Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – Campus São Vicente). Em menos de seis meses monta uma banda e um grupo de teatro, que foram aceitos pela diretoria da unidade escolar. Sobre o teatro, é bom explicar: Edmilson, ainda em Tangará, participava do grupo de Amaury Tangará, a quem considera o seu professor na dramaturgia e além de conselheiro, como veremos ainda.

Retorna para Tangará e reingressa na banda que já se chamava Banda Som da Terra – antes, porém, foi “Tangará Som 7”, “Grupo Natureza”, mas que não pegava até que chegou a Skorpion, que se descobriu logo em seguida que já existia outra com o mesmo nome e fez, então, um concurso para escolher o novo nome é a sugestão vencedora foi “Banda Som da Terra” e, em 1988, participa da campanha eleitoral ao governo de Rondônia. Lá em Rondônia começa uma confusão. As pessoas quando ouviam o nome da banda pensam que a mesma era “som da terra” de Rondônia e simplificou-se e o som sumiu do nome e ficou “Banda Terra”. Pois bem, a ideia era ficar apenas três meses, cumprindo o calendário eleitoral. Só que, ao apresentar-se nos municípios, foi se fechando contratos para depois das eleições e acabaram ficando três anos.

Depois que volta de Rondônia vai para o Rio a convite de Amaury Tangará e lá grava o primeiro LP “América 500 anos”. A ideia era ficar um mês e acabaram ficando um ano, quando um dia, o mesmo Amaury Tangará, num bate-papo de mesa de ‘buteco’ questiona Maciel: “Você prefere ser a ponta do rabo do leão ou a cabeça do gato?” Segundo ele, essa indagação o fez refletir bastante e – apesar de já estar enturmado, um pouco por conta do Dengue da Xuxa (irmão de Amaury), frequentava os bastidores do programa da loura, bem como criou amizade com craques do Flamengo, como Renato Gaúcho, enfim vivia um pouco aquele glamour carioca (o leão), mas ele era a ponta, o fiapo da ponta do rabo.

“Amaury via um potencial em mim, de sermos mais, de brigarmos para ser a cabeça do gato, aqui em Mato Grosso” – e a decisão de voltar foi tomada. Arruma-se tudo, equipamentos, malas, na Veraneio e ruma para Cuiabá. Ele tem um magnífico contato com Deus. Depois de passar a marginal do Tietê, na Rodovia Castelo Branco, acontece um grave acidente. A Veraneio, na qual estava ele e o irmão, é atropelada por um caminhão de verduras, ficando toda amassada, com os equipamentos todos espalhados pela pista molhada.

Nesse momento, Edmilson ao ver todo seu material de trabalho – instrumentos e equipamentos quebrados enquanto outros eram saqueados (nós, brasileiros, em maioria, temos ainda essa feia mania de pegar o que não é nosso. Repara, basta um caminhão virar – não importa a mercadoria – que, em fração de minutos, aparece uma multidão para ‘juntar’ o que está esparramado e depois falamos dos políticos), Edmilson começa a questionar Deus: “Por que, Senhor?” – e chora. Sentado no meio fio, com lágrimas nos olhos pelos ‘bens’ perdidos, um senhor pergunta se pode sentar ao seu lado, e começar a conversar e fala para ele: “Filho, presta atenção, olha pra você” e nota que não tinha acontecido absolutamente nada com ele e o irmão e eles continuavam de posse do bem maior, que é a vida. Concorda, levanta a cabeça para agradecer aquelas palavras e não vê mais o homem. “Aquilo mexeu muito comigo”, confessa.

Nesse retorno para Cuiabá, com o LP debaixo do braço, sente que existe um ‘bairrismo’ e tiveram dificuldade para encontrar um local para trabalhar, a tal ponto que chegou a tocar a troco de comida, até que chega no Terraçus, que estava praticamente falido. Na primeira noite, tinha lá três pessoas, para não dizer que tocaram para as moscas. No outro dia, aquelas pessoas voltaram e trouxeram outras e, em 30 dias, a casa já estava com 40% de lotação. “Aí as pessoas começaram a nos enxergar”, diz.

Começam as ser convidados para eventos, inaugurações de estabelecimentos comerciais, por exemplo, e nesses espaços a Banda Terra começa a apresentar as músicas do LP. E toca por quatro meses no Bataclan. A Bataclan, boate que ficava na saída pra Rondonópolis, tinha como frequentadores políticos – muitos – como prefeitos de cidades do interior. Esses prefeitos, ao ouvir a banda, acabavam contratando-a para shows em suas cidades e essa agenda interiorana forçou a banda a deixar a boate. Registro: foi na Bataclan, que o nome da banda apareceu pela primeira vez num outdoor, num pequeno espaço de 30 cm por 1m. Edmilson afirma que foi a Banda Terra que introduziu o axé no repertório cuiabano e introduziu também dançarinos nos palcos.

Fonte: Diário de Cuiabá / DC Ilustrato

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