Artistas cuiabanos comentam sua relação com a figura materna e demonstram seu amor
Dia das Mães: mesmo os corações mais ‘realistas’ uma hora, no segundo domingo de maio, para (verbo) um momento, um instantezinho de nada, para (preposição) lembrar-se da mamãe.
Mãe é – não tenho como avaliar – um tema recorrente à poesia, a poesia discursiva, bem entendido, pois na poesia concretista não lembro de nada. Para o nosso poeta maior (por conta das avaliações antigas, do século passado) Carlos Drummond de Andrade, “mãe não morreria nunca”, como declara no poema “Para Sempre”.
Para nós, cristãos ocidentais, hoje é o dia da Nossa Mãe Santíssima, Maria de Nazaré, com bem o Cristo declarou, lá em João, capítulo 19: “Ora, Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E, desde aquela hora, o discípulo a recebeu em sua casa”. (João 19: 26,27). Que não paire dúvidas.
Dia das Mães. Peço aos artistas que nos conte um pouco de sua relação com sua mãe. Sandro Lucose, o dono do palco com a peça “Peer Gynt”, que recentemente encerrou uma temporada de seis apresentações, no Teatro Zulmira Canavarros, diz que “não venho de uma família de artistas. Mas o capricho e cuidado com que minha mãe, Terezinha, faz seus trabalhos manuais, com certeza me influenciaram em ser perfeccionista quando construo uma cena no teatro”.
O compositor, pesquisador e cantor Milton Pereira de Pinho, o nosso Guapo, assim proclama a sua relação filial com dona Maria de Lima Pinho, que, no próximo dia 14, irá festejar os 85 anos. “Foi lavadeira ribeirinha do Rio Paraguai, mascava fumo de corda, filha de poaieiro, cururueiro. Me ensinou a escrever e ler com o pouco que sabia, cantava pra mim dormir, passava saliva de fumo de corda quando eu me queixava de ferroada de mosquito na beira do rio. Quando aparecia um arco- íris no céu ela dizia que logo ele ia mijar para chover em nós. Meu pai, físico, matemático, de outro lado, dizia que era deflação da luz decodificada por Isaac Newton”. Guapo ri quando conta isso.
Habel Dy Anjos, professor e músico mineiro acuiabanado pelo som da viola de cocho, conta que sua mãe, Maria Hussar, filha de austríaco com uma Iugoslava, casou-se ainda jovem com um português artista, cantor de tangos, gaitista, engenheiro de som e proprietário de uma agência de publicidades, a ASA, de Abel Santos Anjo. O destino lhe roubaria muito cedo o esposo, mas não antes de, por predestinação, deixarem o Abel filho vir ao mundo para seguir na arte, os caminhos do pai.
“Assim, órfão e com o dom da música desenvolvido com influência paterna, lá estava eu, mais uma vez a preencher os silêncios da nossa casa com violões, cantorias, gravações e dando continuidade ao Museu Dy Anjos iniciado pelo velho Abel. Hoje, mãe, agradeço por ter me incentivado a ser, ainda que tanto precisássemos do ter. No mundo da arte, graças à senhora, eu prossegui, ainda que muitos parentes e amigos pedissem para que eu mudasse meu intento e fizesse uma carreira mais “lucrativa”. Como nada se leva de material dessa vida, fiz o que meu destino quis. Hoje sou feliz” – resume Habel.
A blogueira e artista plástica, Rosylene Pinto assim escreveu o seu depoimento: “Entre os avanços e os recuos da vida, as curvas, pinturas, desenhos, massa barro e os obstáculos, nos caminhos em linha reta ou tortuosos com as inesperadas mudanças de direção, sempre foi maravilhoso saber que sempre existe sua presença constante em minha vida, minha querida mãe! Você é o alento nos dias de sofrimento, o riso da minha alegria, o conforto da minha ansiedade e a sabedoria da minha inexperiência.”
“Te amo muito, minha querida mãe! Chamar Ana Maria de mamãe é um orgulho e um privilégio sem igual. Mãe completa, que gerou e me criou com amor, paciência, retidão e sabedoria, sempre grande incentivadora na Arte e na vida. Um exemplo de mãe, de mulher, de pessoa. Uma inspiração, não apenas para mim como para todos os que a conhecem, homenagear você com total correção será sempre impossível, pois nada haverá nunca que eu possa fazer para lhe retribuir tudo o que você já fez por mim. desejo a você mamãe e a todas as mães um Feliz Dia das Mães”.
Por essas contas do calendário, quando o mês de maio começa numa terça-feira, segundo domingo será no dia 13 de maio. Pois foi num desses domingos, no longínquo ano de 1979, que publiquei um longo poema dedicado às mães, com o título de “Nossa Senhora de Nossas Mães”, nas páginas do jornal Equipe, dedicado não só à minha mãe, Dona Josefa, como a mãe de meus filhos.
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João Bosquo Cartola e sua mãe, dona Josefa |
NOSSA SENHORA DE NOSSAS MÃES
JOÃO BOSQUO
Nossa Senhora de Nossas Mães
olhai por Dona Josefa
que toda vida me teve
sempre, com bons olhos
boa intenção e boa comida
Nossa Senhora de Nossas Mães
olhai por Eunice Aparecida
que é mãe e filha
só não sei ao momento
se é mais mãe ou mais filha
Nossa Senhora de Nossas Mães
olhai por todas as mães do mundo
pelas mães escondidas
nos gestos mais duros
Olhai assim, pela mãe
de Tereza, Ninha e Dôra
embora minhas irmãs
nossa mãe em nós
não é a mesma
Olhai também, pelo vosso amor
pela mãe de Cessa Lenine: Geni Slompo,
de José, Ziadir, Francisco
de Maria, Ana, Antônio
de Nhô, Raimundo, Júlio
de César, Carlos, Débora
de Cristina, Beni, Álvaro
de Ender, Sílvia e Jobim
de Patrícia, Elber, Adélia
de Henrique, Paulo, Marcos
de Aroldo, Marlene, Sabrina
de Helena, Delma, Nádia
de Fátima, Lúcio, Roberto
de Élson, Márcio, Vânia
de Luiz, Rosana, Camila
de Edson, Gilvan, Mauro
de Marcelo, Oscar, Fernando
de Célio, Monte, Cruz
de Iris, Bruna, Malu
de Beca, Ângela, Junice
de Lira, Danilo, Lauro
(__________________) espaço reservado para
o nome a quem se está lendo agora este poema
Dessa maneira
pelas mães de todos meus inimigos
próximos e amigos
Pelas mães esquecidas
pelas mães de filhos mortos
em águas de rios
guerras distantes
pelas mães de filhos
calcinados, leucêmicos
tuberculosos, aidéticos
Pelas mães de filhos loucos
que partiram em busca da graça
pelas mães de bons filhos
sentados sozinhos na praça
pelas mães de filhos sem pais
homens que partiram por força
da guerra, da fome
do êxodo rural
da falta de emprego
falta de força no coração
Pelas mães discriminadas
de filhos desgraçados
pelas mães de filhos abandonados
em orfanatos, calçadas…
pelas mães de filhos natimortos
Nossa Senhora de Nossas Mães
olhai por todas elas
e, principalmente, em atenção
a mulher de ventre vazio
que nunca pode/rá ser mãe.
olhai por Dona Josefa
que toda vida me teve
sempre, com bons olhos
boa intenção e boa comida
Nossa Senhora de Nossas Mães
olhai por Eunice Aparecida
que é mãe e filha
só não sei ao momento
se é mais mãe ou mais filha
Nossa Senhora de Nossas Mães
olhai por todas as mães do mundo
pelas mães escondidas
nos gestos mais duros
Olhai assim, pela mãe
de Tereza, Ninha e Dôra
embora minhas irmãs
nossa mãe em nós
não é a mesma
Olhai também, pelo vosso amor
pela mãe de Cessa Lenine: Geni Slompo,
de José, Ziadir, Francisco
de Maria, Ana, Antônio
de Nhô, Raimundo, Júlio
de César, Carlos, Débora
de Cristina, Beni, Álvaro
de Ender, Sílvia e Jobim
de Patrícia, Elber, Adélia
de Henrique, Paulo, Marcos
de Aroldo, Marlene, Sabrina
de Helena, Delma, Nádia
de Fátima, Lúcio, Roberto
de Élson, Márcio, Vânia
de Luiz, Rosana, Camila
de Edson, Gilvan, Mauro
de Marcelo, Oscar, Fernando
de Célio, Monte, Cruz
de Iris, Bruna, Malu
de Beca, Ângela, Junice
de Lira, Danilo, Lauro
(__________________) espaço reservado para
o nome a quem se está lendo agora este poema
Dessa maneira
pelas mães de todos meus inimigos
próximos e amigos
Pelas mães esquecidas
pelas mães de filhos mortos
em águas de rios
guerras distantes
pelas mães de filhos
calcinados, leucêmicos
tuberculosos, aidéticos
Pelas mães de filhos loucos
que partiram em busca da graça
pelas mães de bons filhos
sentados sozinhos na praça
pelas mães de filhos sem pais
homens que partiram por força
da guerra, da fome
do êxodo rural
da falta de emprego
falta de força no coração
Pelas mães discriminadas
de filhos desgraçados
pelas mães de filhos abandonados
em orfanatos, calçadas…
pelas mães de filhos natimortos
Nossa Senhora de Nossas Mães
olhai por todas elas
e, principalmente, em atenção
a mulher de ventre vazio
que nunca pode/rá ser mãe.
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Sandro Lucose com sua mãe, dona Terezinha |
Fonte: Diário de Cuiabá/DC Ilustrado
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