Sem-terras

Os sem-terras estão de olhos abertos
Mato Grosso tão distante
Tantos acres especulativos
Precisam ser plantados

As terras quase virgens
São tão férteis como céu
Azul a banhar a terra
E os sem-terras a cobiçar

As terras deste solo
Mato grosso tão fáceis
De plantar, sêmen no colo
E os sem-terras ao abandono

As terras latifundiárias
De aspectos incendiárias
Em mãos estéreis
Acontecem de repartir


Os sem-terras prometem
Suor ao regar o chão
Do ventre seco e fazer
Brotar a flor do alimento

As terras para o agrário
Trabalho das famílias
Levantar o sol, deitar a lua
De compromisso diário

Os sem-terras estão acesos
Se movimentam pelo interior
Deste País, despertando medos
ódios dos poderosos
e solidariedade dos deserdados

As terras estão prontas
Milenarmente para o plantio
Os sem terras sedentos para roçar
Amar na casa e as crianças no quintal.

Do livro Poéticas Menores & Poemas Controversos (1981-1990)

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