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Vamos Por Aí


Nice, vamos por aí
ensinando coisas
causas e consequências

Vamos pegar o lápis
desenhar rosas
rostos e risos

Montar uma escola
de ensinar o sabido
só que de uma forma
sã e verdadeira

Nice, vamos com fé
depressa, mais que depressa,
antes que nossas cabeças
percam o juízo.

Fora da grande área do poema

Eu nunca quis ser volante, cabeça de área
não desejei, jamais, jogar na defensiva
como um beque desajeitado. Exclamação.
Nunca me vi, sonhei ou cogitei ser Beckenbauer.

Em minhas visões no Dutrinha fui Bife,
artilheiro, goleador, driblador até a meta,
função maior de todos os centroavantes,
em resquício de pena ou dó do zagueiro.

Mas, sem talento, não cheguei a gandula
fiquei na arquibancada arquitetando rimas
e nunca se cumpriram em nenhum verso

Faltou o ritmo, junto com a musa, a poesia,
o equilíbrio nas metáforas de querer ser
jogador, sem precisar edificar o poema.

Saudade é uma coisa esquisita

Saudade é uma coisa esquisita.
A gente que sente, sabe que sente
Mas não está escrita na cara
E não tem outra identificação.

Às vezes, muito das vezes, dói
Uma dorzinha gostosa de sentir
De saber que a qualquer momento
Vai matar aquela doutora saudade.

Porém há casos, cruzes, perdoe-nos,
Senhor, a saudade é uma dor cruel,
Quase infinita, de alguém que parte...

- Partiu tão de repente, imagina,
Sem dizer: tchau!, até manhã!,
Ou, pior, adeus!, até nunca mais.

Aquilo Qu'está Dentro de Nós e Não se Quer Ver

Não é possível agora, neste exato instante,
Criar outra realidade, sem esta estar presente
Sem que se esqueça – lembrança permanente
Da mesma realidade que nós vivemos semente

Viver outra realidade é sonho de todos tolos
E esquecer que a realidade permanece sempre
Em todos os momentos da mesma eco realidade
Da qual fugimos e para a qual queremos ser

Juntar as Partes


Vou me buscar, mas pouco sei,
Não me localizo, sou sem paradeiro
Sem rumo certo, sem bússola

O pouco que sei: estou perdido
Dentro de umas interrogações
Que persistem em se perguntar
Como se fosse encontrar as soluções

Cala Boca, Dunga

Cala boca já morreu, Dunga
Quem manda na nossa boca
Somos nós, brasileiros verdes
Amarelos, alvipretos, rubro-negros
De todas as cores, Brasil afora

O Brasil, repara, Dunga
Não concorda em calar a boca
E deixar de escalar o seu time
- o time do coração -
Que mexe com todas as torcidas

Cala boca, Dunga, quem fala
Muito dá bom dia à cavalo...
Sejamos coerentes, basta
De patadas dentro e fora do campo.
2010

O soneto

Ai, que vontade de
Voltar atrás. Dar um
Tiro bem na tua
Cabeça. Estraça-

Lhar as tuas mãos bo-
bas; ai, que vontade
De cometer um cri-
Me. Quebrar as tuas

Costelas no chute,
Amassar teu na-
Riz. Arrancar teus

Dentes, inchar teus
Olhos no murro. Que
Vontade eu tenho.

O Quintal na Memória

De onde me encontro,
no banco do ônibus em trânsito,
vejo a manga madura no quintal...
Perpitola na mangueira do quintal
Da casa de minha vó Mariana...

A casa já não existe, o espaço do terreno,
pra horta, galinheiro e chiqueiro;
tudo que fazia um quintal ser quintal
sucumbiu à especulação imobiliária
A casa, o quintal agora resistem
apenas no resquício de memória...

De onde estou, meus olhos desfocados
olham para trás e veem as mangas
como numa pintura de Gervane de Paula.

O Superávit Primário

O superávit primário, sem querer implicar,
Venceu a todos nós, sem nos convencer...

O superávit, por ser primário, é o primeiro
Que entra na fila e diz “bom dia, ‘fessora”
E o mendigo na porta da igreja, responde:
“dá uma esmola pelo vosso amor, ministro”

O ministro – sem ser Ministro – ri tolerante
Com nossa ignorância, refletida em tais palavras,
E sai de fininho pelas portas dos fundos,
A macroeconomia não sente vergonha na cara

O superávit... Ah! O superávit primário,
Tão necessário, segundo o ministro, provoca
Déficits em nossas contas debilitadas alegrias
Mas quanto a isso ninguém mais se choca.

2005

#ImitaçõesDeSoneto