Quando Escrevo

Quando escrevo poemas sem sentido
Estou sem sentido,
Embora todo sentimento
Esteja aflorado no testamento

Quando escrevo coisas como anjos alados
Os anjos estão embaraçados
Em abraços e me guiam
Pelos caminhos de menos penar

Quando escrevo emoções sentidas
De uma dor qual nunca senti
Como ser de um poeta
Que escreve a dor que deveras sente

Interrogações

Quem escolhe nossas roupas?
Quem determina a hora de começar o dia
Às seis horas e não às oito, às onze?
Quem vai ao volante do planeta terra?
Quem escreve cartas além dos presos injustamente?
Quem carrega comigo a culpa de não sermos pós
Tudo além do conhecimento?

Quem deu a ordem pro tempo parar
Antes do próximo segundo?
Quem segurou o ponteiro do relógio
Pro tempo dar tempo pro suspiro terminal?
Quem escolhe as cores da camisa
Que fazem a próxima estação final?

Quem mergulha de ponta cabeça
No poema intrépido
Do poeta esquecido na prateleira vazia?

Quem?

Correr Riscos

Para não correr riscos,
de apaixonar-me
por olhar eletrizante,
não saio mais a passear
sem para-raios.

Poesia em Liquidação

Vende-se poesia barata. Não precisa de cartão de crédito,
nem saldo bancário estimado, ou subestimado, saldo nenhum
Vende-se poesia sem domicílio, sem grandes pretensões literárias
com guard rail para segurar quaisquer devaneios

Minha poesia não busca os grandes leitores,
os iniciados na poética do século 21, ou do século passado
Minha poesia não irá, garanto, para as antologias,
pros gabinetes literários ou para estantes das bibliotecas seculares

Entrevista

Quando conheci o poeta, estava sozinho,
observava pela janela a jovem filha da vizinho

- Que estaria o poeta imaginando?

Quando nota minha presença, se volta
e conversamos. Falamos de artes,
pinturas, quadros roubados,
livros emprestados de amigos distantes
e esquecemos em devolver

Haicai???

Do que tenho medo?
É da diferença
entre sinapse e sinopse.

Faça!

Quando não puder fazer bem feito, com carinho, esmero; faça sem cerimônia, nas coxas, empurrando com a barriga, mas não deixe de fazer. O malfeito pode ser consertado, arrumado, até mesmo ser refeito. Mas se aquilo que sabíamos que tinha que ser feito e deixamos para trás, por falsas alegações; esperar as condições ideais (que no íntimo sabíamos que nunca chegariam) é imperdoável. Pois ninguém, alguém ou qualquer pessoa, jamais irá consertar, arrumar ou fazer melhorar.

Posso perder tudo

Posso perder tudo, perder tempo,
Conversar fiado, entrar na fila e esperar
Esperar o autoatendimento
Posso sair da livraria sem levar
Nenhum livro debaixo da camisa

Posso perder um ou dois amigos
Posso perder o bonde da história,
Que vem de Marraquexe e vai pra Montevidéu
Posso passar apertado dentro do elevador
Posso ler de trás pra frente sem entender tudo

Posso fazer de conta, ficar de papo pro ar,
E, assim como quem não quer nada,
Enganar a Arena Pantanal dia de Mixto e Operário
Posso piscar o olho, usar tapa-olho
E em alto mar ser pirata de madrugada

Posso perder o jogo, perder a aposta
Perder a anotação do jogo do bicho
Posso ensinar o padre rezar a missa
No sétimo dia iniciar o luto fechado
E ficar esperando, quem espera alcança

Posso perder a cabeça, ficar sem gravata
Preso no trânsito, sentir medo de voar
Ficar totalmente sem noção durante o dia
Posso querer me apaixonar pela mulher
Que sempre me amou, mesmo odiando

Poeta Preguiçoso

O poema esquecido
Por falta de papel e lápis
Encontra-se no labirinto
Do subconsciente literário

No subconsciente do poeta
Trafegam versos, rimas
Verdadeiras epopeias
A procura de papel e lápis.


​​ Negociação

A poesia aceita cartão de crédito,
cartão de débito, de preferência,
e, se conversar, até nota promissória
sem avalista

Semijoia

Talentoso
Sabia escrever
os pronomes
nos lugares corretos, certo,
mas o assunto, valha nos Deus!,
era pra lá de ordinário.

#Despedidas
#PoemasDeVolta

No Meio do Livro

No meio do livro
encontrei o poema lido
O poema lido no meio do livro...

Não consigo lembrar os versos
mas não posso esquecer esse fato
que alterou meu ponto de vista.

Divórcio não!

Largo tudo
A chave na ignição
esqueço o livro no banco de ônibus
rezo a missa apenas um terço
e saio da catedral
Vou sem bússolas
seguindo estradas pés descalços

Abro portas arrombadas
por ladrões noturnos
ligo a eletrola
e deixo o disco de Ivan Lins tocar sem parar

Falar de Morte ou na Morte...

A morte chega. Foi o tropeção sem graça,
no meio da praça; foi o erro médico
o estiramento muscular, o remédio vencido
o tiro, a bala perdida, a falta de raça

A morte chega sem pressa, sempre na hora
Uma hora depois do almoço, um infarto
Um acidente vascular grave, com SUS tô
Com meio pé, ou pé inteiro, na cova