Sutilmente

Espero que tudo acabe sutilmente:

Que o céu desabe sobre a terra

E o planeta caia no vão do universo infinito.





Desculpa, amigo

Desculpa, amigo,
mil perdões, humildemente peço
pelas desavenças e mal-entendidos
no passado longínquo ou recente

Peço, por bondade, esqueça
como devo esquecer o “o quê”,
do “por quê” de andarmos assim
sem um olhar para o outro

Sem um olhar pelo outro
sem compaixão, sem indulgência
e estamos ficando velhos
a hora e de pedir clemência ao Pai

Toco de Amarra Onça

Os tocos de amarra onça
não têm jeito. De longe
se vê quão são baixinhos,
mas, por favor, não espalha
senão é uma encrenca só
pois os tocos de amarra onça
não se acham, digamos, baixinhos

Baixinho, segundo eles,
é o outro, é o seu salário
em último caso, é a mãe...
Os baixinhos, quando dão
pra ser inteligentes...

Sobre o Bicho da Goiaba

Estou com saudades do bicho da goiaba...

Ando de ônibus, às vezes, olhando pela janela
vejo uma goiabeira aqui, outra acolá,
por estes tempos, até na tampa de goiaba
e me vem uma saliva na boca...

Painel


Não vi Marionita
Entrar no consultório médico,
Mas sei que estava lá.

Neblina de Curitiba

Essa neblina
que hoje amanhece
cobre leve, levemente
os prédios de concretos
e casas de madeiras

Esse neblina
leva de levinho
os edifícios
à transparência

Essa neblina
cobre suavemente
as varandas das casas
de mistério

Essa neblina
que hoje amanhece
torna as pessoas
mas frias e mais distantes.

1977

Arthur ligou!


Arthur ligou o fio na tomada
deu curto-circuito, a TV pifou
o técnico não veio, o jogo acabou

Arthur ligou do orelhão pra
quem precisava ligar: contudo,
o ensaio adiado e o pátio vazio

Arthur ligou a tomada no fio
o câmera man velou o filme
o script está nu, mãos no bolso

Primeiro de Janeiro (de 2021)

Anteriormente, anos atrás
Todo primeiro de janeiro
Provocava um novo poema
Agora nem tanto

A juventude via o ano novo
Com alegria, sem fastio
Com uma certa ansiedade
Um certo querer em consertar o mundo

O mundo, de lá pra cá, continuou o mesmo
Mas com mais gentes e superpopulações de famintos

Com o passar do tempo acabei por descobrir 
Que não posso mudar muita coisa
– Quase nada – 
Apenas, com muito esforço, o meu interior
E as sequências das palavras no poema.

Estação


No desembarque
da estação final
todos acabam se reconhecendo
lembrando
do plano de fundo
sem contudo poder
frear ou retroceder…

Certo ou Errado

Tanto amor, tanto ódio
Não consigo separar o certo do errado
Enquanto o joio domina a grande área

Nesse jogo, sempre de 90 minutos,
Uma hora e meia depois o vencedor
Sobressai e canta vitória serpente

Sei, o amor é mais forte
O ódio, contudo, é mais rápido, ligeiro
Ao manifestar-se como mensageiro

#Poema


Tudo que tenho
de mais íntimo
está num ponto final qualquer.