Faça!

Quando não puder fazer bem feito, com carinho, esmero; faça sem cerimônia, nas coxas, empurrando com a barriga, mas não deixe de fazer. O malfeito pode ser consertado, arrumado, até mesmo ser refeito. Mas se aquilo que sabíamos que tinha que ser feito e deixamos para trás, por falsas alegações; esperar as condições ideais (que no íntimo sabíamos que nunca chegariam) é imperdoável. Pois ninguém, alguém ou qualquer pessoa, jamais irá consertar, arrumar ou fazer melhorar.

Posso perder tudo

Posso perder tudo, perder tempo,
Conversar fiado, entrar na fila e esperar
Esperar o autoatendimento
Posso sair da livraria sem levar
Nenhum livro debaixo da camisa

Posso perder um ou dois amigos
Posso perder o bonde da história,
Que vem de Marraquexe e vai pra Montevidéu
Posso passar apertado dentro do elevador
Posso ler de trás pra frente sem entender tudo

Posso fazer de conta, ficar de papo pro ar,
E, assim como quem não quer nada,
Enganar a Arena Pantanal dia de Mixto e Operário
Posso piscar o olho, usar tapa-olho
E em alto mar ser pirata de madrugada

Posso perder o jogo, perder a aposta
Perder a anotação do jogo do bicho
Posso ensinar o padre rezar a missa
No sétimo dia iniciar o luto fechado
E ficar esperando, quem espera alcança

Posso perder a cabeça, ficar sem gravata
Preso no trânsito, sentir medo de voar
Ficar totalmente sem noção durante o dia
Posso querer me apaixonar pela mulher
Que sempre me amou, mesmo odiando

Poeta Preguiçoso

O poema esquecido
Por falta de papel e lápis
Encontra-se no labirinto
Do subconsciente literário

No subconsciente do poeta
Trafegam versos, rimas
Verdadeiras epopeias
A procura de papel e lápis.


​​ Negociação

A poesia aceita cartão de crédito,
cartão de débito, de preferência,
e, se conversar, até nota promissória
sem avalista

Semijoia

Talentoso
Sabia escrever
os pronomes
nos lugares corretos, certo,
mas o assunto, valha nos Deus!,
era pra lá de ordinário.

#Despedidas
#PoemasDeVolta

No Meio do Livro

No meio do livro
encontrei o poema lido
O poema lido no meio do livro...

Não consigo lembrar os versos
mas não posso esquecer esse fato
que alterou meu ponto de vista.

Divórcio não!

Largo tudo
A chave na ignição
esqueço o livro no banco de ônibus
rezo a missa apenas um terço
e saio da catedral
Vou sem bússolas
seguindo estradas pés descalços

Abro portas arrombadas
por ladrões noturnos
ligo a eletrola
e deixo o disco de Ivan Lins tocar sem parar

Falar de Morte ou na Morte...

A morte chega. Foi o tropeção sem graça,
no meio da praça; foi o erro médico
o estiramento muscular, o remédio vencido
o tiro, a bala perdida, a falta de raça

A morte chega sem pressa, sempre na hora
Uma hora depois do almoço, um infarto
Um acidente vascular grave, com SUS tô
Com meio pé, ou pé inteiro, na cova

​​Fim de Tarde

A van escolar desce a ladeira
acima da velocidade permitida.
O gato aperta o passo
para atravessar a rua
e não ser atropelado.

Ônibus

Depois de um
vem outro,
mesmo atrasado.

Explicação

Não fui capaz de fazer poemas românticos
quando na tenra idade me apaixonava
com uma facilidade incomum por coisas,
paisagens, bichos e gentes, em especial moças


Os poemas românticos ficaram trancados
a sete chaves. Meu coração amadurecia
ou amolecia, não sei, quando via a miséria
a fome, o abandono, a falta de carinho

O Céu em Chamas

O céu em chamas
no fim de tarde
é retrato pregado
na parede lateral

O céu em chamas
é pintura de artista
visionário que um dia
acordou antes da hora

Sobre Gato e Onça Pintada

O gato circula tranquilo pela casa
como se estivesse em paz
consigo mesmo

Ontem, talvez o gato não se lembre,
ele matou uma lagartixa
de forma demorada, quase uma tortura,
para satisfazer seu instinto felino

Que fazemos nós para satisfazer
nossos instintos mais primitivos?

Será que o gato imagina
que é primo da onça pintada?