O Propósito da Poesia

Qual o propósito da poesia???
O propósito da poesia
é amolecer o coração do poeta

O poeta de coração mole
tem empatia com a dor
do homem com fome

O poeta de coração mole
sente a dor do pai de família
oprimido e desempregado...

A poesia, fora da poesia,
não tem propósito algum.

Tudo que Tenho

Tenho tudo que tenho
Procuro, não me encontro
E não tenho pra onde ir

Tudo que tenho é meu destino
Nado como peixe só
Mas não sei pra onde ir

Desconforto Instantâneo

Sempre andei desconjuntado
camisa desabotoada,
combinando o despenteado,
sapatênis desbotado
e salário amarrotado

Nem tudo é poesia:
os preços nas gôndolas
estão pela hora da morte
o superavit inflacionário
nos obriga a economizar conforto

Curta Viagem

A poesia quando sai a passear,
o passeio é uma curta viagem,
vai de ônibus do bairro
até o coração da cidade
e demora, quando demora,
igual a espera no ponto de ônibus,
menos de uma hora

(Volte-se ao poeta...)

Tem uma Fotografia Grudada em Minhas Retinas

Quando olho Cuiabá, como um mosaico,
Vejo sempre a mesma paisagem
E essa paisagem não se dissolve
Mesmo que os anos e anos se passem
E, embora velhinho, essa fotografia
Permanece grudada em minhas retinas

Cuiabá, grudada
Feito foto nas minhas retinas,
Não se dissolve.

Aqui no Escritório


Estou aqui, neste escritório,
em frente ao computador
escrevendo este poema
e logo estará publicado na internet

Aquele outro, que seria escrito
para a posse de Luís Inácio Lula da Silva,
em primeiro de janeiro, ficou na vontade
não se realizou, não madurou, se perdeu, enfim...

Destruição


Destruirei aquele edifício
com minhas forças simples
Destruirei tudo que for possível
destruir numa destruição...

Vamos voltar à primitividade.

Cinco de Fevereiro


É vero, estou ficando velho, reconheço
Estou deixando a mocidade para traz
Os nervos não estão à flor da pele
Como antes, nem no endereço prometido

Estou ficando plenamente velho…
Amanhã ou depois de amanhã
Vai se confirmar, conforme combinado,
A certeza de ser mais velho ainda

De Alianças e Vaias


A João Negrão

Vejo alianças nas mãos das jovens médicas que vaiam
Velhos médicos cubanos pretos como nós brasileiros
Netos dos exilados da África em navios através dos mares
Rumo aos berços de todas as nações das quais pertencemos...

Não quero, porém, falar de negros, navios ou exílios tristes
Mas, sim das alianças nas mãos das médicas que vaiam colegas:
Ao ver as fotos, que prenunciam que as jovens podem ser mães,
E me pergunto, pois perguntar é meu ofício: que sentimentos,

#Poema


Tudo é poesia.
O resto é li
                  te
                     ra
                         tu
                            ra.

Pétala e Jéssica


Pétala e Jéssica
não se conhecem,
nunca se viram,
mas fazem parte
da mesma família
das proparoxítonas.

De Volta ao Inferno

Pobre não poupa,
pobre sai pela culatra
Pobre que é pobre,
Sem pressa, se merece

Bolacha na cara
de pobre é um tapa
Um tapa na cara
é Paulo Guedes

Café, Leite e Lembranças

Quando peço um café com leite,
Não peço apenas um café com leite,
Está incluso uma xícara de lembranças

A medida exata dessas lembranças
Ninguém sabe precisar, aqui ou amanhã
Nas manhãs que se repetem matinais

Café com leite é uma receita perfeita!
O preto café se mistura ao branco leite
E forma essa tonalidade brasileira...

Ano Novo se Repete, também se Renova

O ano novo começa em primeiro de janeiro
E os anos, desde antes de nós, tem doze meses...
Os meses são os mesmos, os eventos reprisam
Em primaveras, verões, outonos e invernos...

Tudo se repete... Mas, repara, nada é igual
A vida é um ciclo, círculo, só que em espiral
Tudo muda, tudo se transforma, tudo melhora
Com o passar dos anos, dos dias, das horas


Esconde-Esconde

A poesia esconde-esconde
entre o poeta e leitor
e a tudo responde

A poesia apronta, aponta
em terços de rimas
e não desaponta

Jesus Nazareno me disse ao pé da orelha

Jesus, meu bom Jesus, me disse no meu ouvido
de forma carinhosa, sussurrando para que sou eu escutasse:
– Não se renda, Poeta, não esqueça de seus sentimentos,
por favor não se renda à grande máquina 
e, fundamental, não esqueça de seus irmãos abandonados
à própria sorte, sem teto, nas calçadas, 
sem uma mão amiga pra prestar o mais simples dos mais simples
consolos que é o homem poder dar mão a outro homem.

A Palavra Dita, Bendita

A palavra submersa, guardada,
entranhada entrelinhas no léxico
sabe-se lá sua verdade e expressão

A palavra para ser sentida,
só quando viva, quando dita
em meio a um sentimento novo
(talvez antigo, que renasce)