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O Artilheiro

Bife não entra
na área do gol
e é goal

Corre da bola
a bola no pé
Bola pra fora

Na ante sala
um drible
pra galera

Na zona do gol
retarda o chute
mas nunca o grito.

Acordes

de violão
e despertes
esta serenata.

Lembranças II

Correr por caminhos
desconhecidos
e descobrir
todos os meandros
secos, becos
das torturas
e desmanchar
as manchas
do despotismo
que assolou
o país.

O Engenheiro

A Lúcio Roberto de Almeida

O engenheiro traça
O esquadro, a régua
O ângulo propício

O engenheiro calcula
Os medos de Pedro
As vigas ao pôr do sol...

O engenheiro visa
A distância de uma légua
Do alto do edifício

Lembranças I

O nada é terrível!
Março não voltará

Nada, nada, Antônio
será como antes

Precisamos de tudo
novo
         velho
                   antigo
com criatividade
para suportar as lembranças.

Última sessão do Cine Tropical

É bem distinta
essa música
(prefixo, lembra)
esta casa
(de jogos)

Nas paredes espelhos inteiros...
- O dono vai ganhar
rios de dinheiro
com este cinema, diziam
Não ganhou

Vieram figuras
ilustres, lustrosas
como os lustres
do cinema

Vieram filmes...
Jacildo e seus Rapazes
namorados, amantes
e, um dia, Roberto Carlos

Tudo passou tão depressa
a gurizada
a matinê
o troca-troca de gibis...

A cidade


Sono, dorme, sonha
seus mentais, a cidade
Monótona, calma
lava a alma
alva com alvejante

Amazonita

Ri com seus duzentos dentes
Ri que não cansa de rir

Fala coisas tão bonitas
Fala que não cansam de ouvir

Amazonita faz ginástica
Diz que é pra ficar levinha
E não cansa de fazer

Brinca com sua boneca
E não cansa de brincar

Anda, anda na calçada
Reza pra não cansar

Outro poeta

Lá vem o poeta
38 na cintura
historiando
a cidade

Pra cada estrofe
uma palavra
sobre o mesmo

O poeta não sabe
do outro poeta
continua indo
e rimando

Procura ao Poema

Maria, veja que coisa linda
Essa flor, esse riso, esse mar
Essa ternura que resta ainda
Em quem olha o pássaro voar

Maria, que coisa linda, veja
Esse silêncio de noite escura
Essa mão enamorada que deseja
Todavia tateia na procura

Passado imperfeito

Não te amo mais
como te amava

Amávamos pássaros
segredos de mãos
medos de laços
(opressores)

Dedos solidários
nos mantinham
dentro da noite
coerentes

Não te amo mais
como amava

Amávamos peixes
dançarinos alegres
em bordéis escondidos
nas ondas entre ondas
da república do mar

Não te amo mais
como te amava

Amávamos copos
bares de esquinas
conversas subversivas
planos futurológicos
em cervejas lúcidas

Estragos

Me dou por vencido
quando não seguro
minhas mãos cortadas
por duros golpes de facão
                                         afiado
com essa finalidade
Me dou por vencido
quando atiras seis vezes
estraçalhas meus movimentos
gestos e opções de ações

Me dou por vencido
quando matas meus filhos
em obscuras salas
sem luz e ar-condicionado

Me dou por vencido
quando cortas
meus vasos sanguíneos
para exaurir lentamente
meu sangue de revolta

Me dou por vencido
quando me vences
traiçoeiramente em confusos
lances de cartas marcadas

Atrás dos muros

Amar sempre
                       na rede/com sede
                       na areia/sereia
ante o possível
de amar sem polícia
Amar, por favor
atrás dos muros...
- Grite: amooor!

Saracumim

É um bicho que nem cobra
Com cabeça de boi
Fica zangado quando ouve
Criança chorar
Vem fazendo vento
Quebrando árvores
Até onde a criança tá

Saracumim
É um bicho
Que nem cobra passagem.

À mão

Ao alcance da mão
a própria mão
no gesto de amar

Ao alcance da mão
a enzima atômica
no medo de amar

Ao alcance da mão
o coração humano
feito para amar

Amor no duro

Amei-te duras vezes
no porão
escondido das bruscas
buscas
dos policiais

Amei-te duras horas
no porão
escondido das buscas
civis dos bacharéis

Amei-te puro demais
no asfalto
brilhante de medo
dos dedos dos fiscais

Poema só

Pela porta
saiu o homem
da casa

Pela boca
saiu a solidão
do homem

A casa
sem o homem
ficou mais solitária

Belezas do mundo

Menina, menininha
Veja que bonito que é
Essa flor no altar da Virgem Maria
Esse menino doente
De doença cardíaca.