Nada
Depois
Do nada
Nada mesmo
O nada
É como
Uma escada
Bicentenários de consumo
Naqueles
velhos tempos tinha um bicentenário para cuidar. Era um bicentenário
moderno, não tão avançado assim, mas que podia ser confundido com
os artefatos mais modernos, daí a necessidade de atenção
redobrada.
Precisava ler qualquer coisa sobre segurança de bicentenários. Busquei na biblioteca mais recheada da cidade, da nossa cidade, os manuais, as ilustrações e indicações bibliográficas confiáveis…
Ninguém prestava ajuda ou atenção. Tudo estava de acordo, segundo as normas mais elegantes, editadas pelos poetas monarcas e transvestis severos que se faziam passar por policiais do convescote suburbano
Em Defesa de Todos os Povos do Iraque (2)
Os
mísseis Tomahawks cortam os céus de Bagdá
e
explodem nas ruas e mercados
matando
civis inocentes
-
Qual foi o pecado dessa gente iraquiana
à
margem do rio Eufrates?
O
pecado, senhores, é Saddan Hussein se recusar
A
aceitar dólares americanos
para
vender seu petróleo ao inimigo
As
forças invasoras
penetram
como lagartas
pelos
desertos do Iraque
Para
chegar a Bagdá
matando
inocentes crianças...
-
Qual o pecado desses infantes?
O
pecado, senhores,
é
Saddan Hussein se recusar a
doar
petróleo em troca de dólares
e
manter a mais poderosa economia do mundo
e
poderosa indústria da guerra
que
mata inocentes
Os
aviões americanos
-
verdadeiras obras de arte -
são
máquinas de extermínio,
que
aniquilam alvos imprecisos
com
suas bombas
e
em meio a eles matam
velhos,
jovens e crianças
As
carnes das crianças são tão frágeis,
as
bombas dilaceram em questão de segundos...
Contudo,
o preparo anterior foi longo,
pesquisas
foram feitas, soldados treinados
e
bilhões e bilhões de dólares investidos
A
guerra, senhores, é cara,
mas
a regra é explorar
os
povos do Iraque.
Arrancar-lhes
a autonomia
porque
Saddan Hussein
se
nega a se curvar ao Império.
Os
mísseis Tomahawks
já
não causam medo
As
sirenes tocam
mas
os povos do Iraque
permanecem
entrincheirados
à
espera do inimigo invasor
Os
jovens soldados americanos
não
sabem da verdadeira causa da guerra
e
acreditam que Saddan Hussein é inumano
Por
conta isso matam velhos,
jovens
crianças inocentes
com
seus fuzis com lunetas infravermelhas
e
miras de raio laser...
Em Defesa de Todos os Povos do Iraque (1)
"As
cidades podem vencer, Stalingrado!"
Carlos
Drummond de Andrade
Eu
não sou pela paz, simplesmente pela paz
Sou
pela justiça que traz a paz forjada
Os
homens que praticam genocídios
devem
ser julgados ao fim da guerra
para
que não paire no mundo o medo
O
massacre contra os povos do Iraque
não
pode ficar no "ora veja"
As
crianças mortas sob as bombas Tomahawks
não
podem ser esquecidas
A
destruição dos prédios históricos
não
poderão ser reconstruídos
Os
crimes, portanto,
não
podem ficar impunes
Alguém
deve ir aos Tribunais
Os
criminosos da guerra,
os
chefes das forças invasoras,
os
mandantes dos ataques
não
podem escapar ilesos
A
paz pela paz
não
pode acontecer,
se
crianças foram mortas,
se
jovens adultos foram massacrados,
se
velhos doentes foram humilhados
A
paz pela paz
não
deve ser o fim
Os
vitoriosos...
(não
podem existir vitoriosos
nesta
guerra tão desigual, tão desumana)
Os
vitoriosos devem ser julgados,
o
perdão deve ser riscado do dicionário
pois
os mortos,
principalmente
as crianças inocentes,
não
podem agora dizer
se
perdoam ou não seus algozes
Sentimentalmente
O
sentimento mente
para
nós mesmo
com
o propósito
de
nos deixar
menos
vulnerável
O
coração recusa
se
mostrar pronto
para
o amor
Faz de Conta, de José Serra, candidato 2010
"Faz
de conta que eu não vim"
diz
Serra à entrevistadora.
Faz
de conta que eu fui pra Brasília
Que
deixei o governo de São Paulo
Tentei
pegar o bonde,
montar
no cavalo arreado
Faz
de conta que a eleição terminou.
"Faz
de conta que eu não vim"
Diz
que estou noutro departamento
encontrei
outra saída de incêndio
outro
trem, agora de volta
para
a dura realidade dos fatos
do
eleitorado cansado de mudança
de
promessas desprovidas de fundamentos
de
programa de governo de faz de conta
Faz
de conta que era uma vez
uma
eleição em dois mil e dez
na
qual eram tantos, sobraram três
mas
ficaram as entrevistas
as
perguntas inconvenientes
as
pesquisas e por fim a própria eleição
da
qual não tinha como escapar
Um Ponto
Um
ponto qualquer
no
rumo de uma linha
que
segue paralela
a
outra linha
invisível
de nosso ser
Uma
sequência de pontos
forma
esta linha
e
paro em todos
para
olhar
Saudade é o bicho
Saudade
é um bicho danado
Mexe com a cabeça e coração
A gente quer esquecer
Mas o peito salta saltitante
O coração no céu da boca
Quando estrelas deveriam brilhar
Mexe com a cabeça e coração
A gente quer esquecer
Mas o peito salta saltitante
O coração no céu da boca
Quando estrelas deveriam brilhar
Tudo já foi Dito!
Tudo
já foi dito!
Onde,
contudo,
está
a prova
de
tudo que já foi dito?
Onde
está escrito
tudo
que está dito,
dito
em um segundo,
num
segundo plano...
Não
importa, quero prova
Quero
a trova, só pra
ter
certeza que este poema
já
foi publicitado decerto
em
algum século vindouro
por
alguém e não outro
Antigamente
Não se veem mais poetas como de antigamente
Os poetas de antigamente escreviam à mão
em brancos papéis suas diletas poesias...
Bem antes, porém, os poetas cantavam musas
intrusas, em métricas precisas e de cabeça
guardavam na memória e iam aos recitais
Depois chegaram as máquinas Remington
os poemas surgiam datilografados
até convivermos com o modernismo
e desaguar no concretismo...
Os poetas de antigamente escreviam à mão
em brancos papéis suas diletas poesias...
Bem antes, porém, os poetas cantavam musas
intrusas, em métricas precisas e de cabeça
guardavam na memória e iam aos recitais
Depois chegaram as máquinas Remington
os poemas surgiam datilografados
até convivermos com o modernismo
e desaguar no concretismo...
Prazo
Não
cabe mais reclamação
O
prazo de validade expirou
Não
dá mais pra devolver
O
amor foi pro fundo do baú.
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