Mostrando postagens com marcador Poéticas Menores e Poemas Controversos (1981-1990). Mostrar todas as postagens
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Demais de Bom

Tudo isso é demais de bom...
Ficar pertinho de você
assim bem descontraído
- Nós somos tão parecidos

Tudo isso se parece mais
paixão acontecida anos atrás
quando era um vulgar rapaz
que sonhava a semana voraz

Mãe e Filha

in Maria Hosana, uma amiga

Veja a menina
     com saudades
     doutra menina
     nesta tarde de sábado

Ela só pensa
     como pensa
     outra menina
     nesta tarde de sábado

Olho no espelho

Olho no espelho
me vejo como
em um porta-retrato
e indago
- por que esses óculos
essas rugas
esses cabelos grisalhos?
Mas não obtenho respostas
mesmo assim continuo indagando:
- por que esses óculos
essas rugas?...

Por minhas mãos

Por minhas mãos
na noite escura e sem lua
passam tuas peles
de não deixar esquecer
que te amo tanto

Minhas mãos navegam
puras, sensitivas
não perdem nunca
nos teus infinitos
e te amo tanto

Amanda Mayra

Amanda larida
Não perdoa nada
­- Na volta, ou na ida -
Do que vê pela frente
Não perdoa o bifinho,
A bolachinha,
O danoninho,
Nem a coxinha

Amanda larida
Larida igual a avó
Qual o tio, Thiago
Quando vê manga
Amanda arregala os olhos
Laridos como os olhos dela

"Não é comilona,
Tem olhos grandes,
Maior que o apetite"
Justifica a avó

Amanda larida
não é apenas a mamadeira
Mama até entalar
Entaladinha a danada quer mais

Amanda larida
pensa no caju
no caju que não há mais
mesmo que a noite venha

Pelos mortos de uma cidade em guerra

Não ergam monumentos
Os mortos devem permanecer vivos
Como viva foi a dor de sua morte

Não profanem seus nomes
Que serão esquecidas em lápides frias
Como frios foram os seus executores.

Chega

A impunidade está matando
Mais que balas, mais que as guerras...

A impunidade está roubando
Mais que os ladrões profissionais

A impunidade está acabando
Com a autoestima da nossa gente

A impunidade está por todos os cantos,
Todos os níveis e escalões da sociedade

A impunidade está presente
Todos pressentem e querem o seu fim

Mas a síndrome da impunidade leva
Ao descaminho
E levou a gente ser assim
Dizer que todos somos iguais
Bobo é quem não leva vantagem
Perder a vergonha e não ficar vermelho
Quando pego em flagrante perante os filhos
Dos amigos, do vizinho e acreditar
Que não precisamos explicar nada pra ninguém

Ventos da paz*

 Que os bons ventos nos tragam a paz das aves mutantes, das aves errantes, das aves voantes, das aves infantes, das aves sonantes, das aves diamantes, das aves irradiantes, das aves gigantes vigilantes da paz

Que os bons ventos nos tragam a paz das aves vadias, das aves ar-de-dia, das aves cotovias, das aves ecologias, das aves mês-marias, das aves ferrovias, das aves rodovias, das aves hidrovias, das aves caminhas a caminho da paz

Que os bons ventos nos tragam a paz das aves da vida, das aves partidas, das aves prometidas, das aves paridas, das aves surtidas,
das aves torcidas, das aves vencidas, das aves abatidas, das aves feridas, das aves atrevidas, das aves benzidas num bando em paz

Que os bons ventos nos tragam a paz das naves Chapadas, das naves Guimarães, das naves chegadas, das naves de mães, das naves amadas, das naves delgadas, das naves pousadas num pouso de paz

Que os bons ventos nos tragam a paz das aves brancas, das naves mansas, das nuvens alvas, das asas crianças, das aves folias, das naves gurias em busca da paz

Que os bons ventos nos tragam a paz das belonaves, das cosmonaves, das astronaves, das aves amáveis, das aves saudáveis...

Que aves intermináveis nos tragam a paz.

*Com Beto Velosa

Sem-terras

Os sem-terras estão de olhos abertos
Mato Grosso tão distante
Tantos acres especulativos
Precisam ser plantados

As terras quase virgens
São tão férteis como céu
Azul a banhar a terra
E os sem-terras a cobiçar

As terras deste solo
Mato grosso tão fáceis
De plantar, sêmen no colo
E os sem-terras ao abandono

As terras latifundiárias
De aspectos incendiárias
Em mãos estéreis
Acontecem de repartir

Traves e trevas

Das trevas
Descrevo
Os sonhos
Das estrelas

Das estrelas
Desatrelo
Dos medos
Das trevas

Viajo, e elas
As estrelas
Montarias
Dos sonhos.


Não podes me ouvir

Não podes meu ouvir, Menina
Se mudo estou de meu lado
E intenção nenhuma tenho
Em falar algo sobre esse fato

Não podes ser mística como eu
Se místico nunca estou dado
Para falar em mitos militares
Que saem pra golpes de Estados

Não podes, Menina, nem tentar
Plantar bananeiras nas praças
Transeuntes indiferentes não veem
Os seus olhos jogados pras traças

O Amor Nasce

O amor nasce
no instante inesperado
quase inacabado

O coração voltar viver
a liberdade
massacrada pelos opressores
digressão dos brutos
de estúpidos ditames

Tuim não sabia

Tuim não sabia
Pensava que era raso
o lago que foi nadar

Tuim não era bamba
morreu depois de três
braçadas no lago
que acreditava raso.


Proálcool

Os alcoólicos anônimos
intensificam suas campanhas
- Devemos beber menos
para sobrar mais álcool
para o Proálcool!

O alcoolismo é uma doença, claro,
afirmam os alcoólicos anônimos
mas não tem consciência
da verdadeira doença
que assola este país
que sangra nossas terras
embebeda os poderosos
em litro lucro fácil

Meu pai em silêncio

Meu pai está morto dentro do armário,
que nunca existiu em nossa casa.
Por estar lá, calado como um bule,
causa surpresa e ninguém sabe
a metáfora desse estar em silêncio.

Meu pai está morto dentro do armário
escuro pelo tempo que a tudo escurece.
Poucas pessoas sabem disso, mas as madeiras,
que guardam livros, louças e defuntos,
nada esquecem e registram na sua memória.

E de memória a madeira lembra
que meu pai não foi santo de pau-oco,
nem santo, nem pau-oco, apenas um comerciante
e se julgava esperto, entretanto foi enganado
pelo sócio padeiro que roubava trigo...

O armazém entrou em concordata
fechou as portas, foi à falência e meu pai
morreu do coração, pobre e desgraçado.

Hoje, ele se encontra no armário
e ninguém lembra de lhe perguntar
sobre seus amores idos, filhos
e o motivo de se encontrar quieto,
silencioso como um relógio
estragado que não faz mais tic-tac…

Firmamento

O céu arruma as nuvens
que apronta os temporais

A gente apronta a casa
que arruma o casamento

João, desista desse matrimônio,
nesse time não tem entrosamento.


Merda (segundo capítulo)

A Merda de Caetano
não é a mesma merda
que entra pelo cano

A Merda do artista
simboliza outra fala
A fala de artista

A Merda de Caetano
transcende a palavra
escrita em um plano

A Merda do artista
pode ser manchete e
não machuca a vista.

A Praça

Para cada verso escrito
existe toda uma vida
com fôlego suficiente
para despertar uma praça

Praça cheia de gente
         cheia de vida
A praça inteira é nossa
A praça é um poema completo.