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Quadrinistas mato-grossenses apoiam Edital HQ

Desenhistas e roteiristas elogiam a iniciativa do secretário de Cultura Leandro Carvalho

O Prêmio Quadrinhos MT, lançado pela secretaria estadual de Cultura, que vai financiar quatro projetos no valor de R$ 20 mil cada um, está sendo acompanhado atentamente pelos quadrinistas regionais e deve contar com um grande número de participantes. Pelo menos é essa a expectativa. 

Gabriel de Matos, arquiteto, professor da UFMT, atualmente fazendo Doutorado sobre imaginário e quadrinhos, com visão regional, tem oito livros publicados, sendo três sobre ou de quadrinhos, um em parceria com Ric Milk, entre os quais "A Geringonça", aprovado em 2006 no Programa Nacional de Bibliotecas de Escolas do MEC. Ele garante que o edital é válido até por falta de alternativas. 

Segundo Gabriel, Mato Grosso não tem um mercado estruturado para livros de um modo geral. Em 2003, a Associação dos Amigos do Livro Mato-Grossense expôe essa questão. Que ficou em aberto principalmente porque existia uma lei estadual que obrigava escolas a trabalharem com Literatura, História e Geografia de Mato Grosso. "O Enem nivelou por baixo e acabou com uma vantagem dos estados: hoje trabalhamos com uma simplificação da História, literatura e Geografia do Brasil", afirma. 

"Mato Grosso tem uma capacidade muito grande de criar desenhistas. Algo de visualidade, para citar Aline Figueiredo. Acho que o governo deveria investir em apoio de gráfica. Os R$ 20 mil dá só pra imprimir os 1.000 exemplares do edital e talvez um projeto de formação de produção até de animação. Os softwares e mesmo as máquinas para isso são muito caros. A gente cria os personagens e histórias, ou seja, o conceito a ser desenvolvido", analisa. 

Gabriel de Matos disse que não sabe, não decidiu ainda se faz o projeto este ano. "Tenho o doutorado como prioridade. Eu e o Ric temos uma HQ de ficção científica que está pronta. E tenho uma HQ histórica com 50 páginas rafeadas, ou seja, já está desenhada no lápis, falta passar a tinta e letreirar", encerra. 

Célio Maximiano, 34 anos, desde os 14 anos fazendo seus desenhos, criador do Repórter Índio, hoje trabalhando também com desenho animado, sendo um de seus últimos trabalhos na área, o comercial para o lançamento do Renault Logan, diz que vê o lançamento do edital como uma iniciativa positiva, até como uma forma de reconhecer a qualidade da produção local, que não era enxergada pelo poder publico, mas que esta viva. Como exemplo cita a realização do Rush United XP, que aconteceu nos dias 15 e 16 próximos passados. 

Célio Maximiano acredita que o lançamento do edital é até uma forma de reconhecer o erro cometido pela Secretaria de Cultura do Estado ao contratar o Estúdio Maurício de Souza – criador de Mônica – para fazer os quadrinhos da história de Rondon. "Foi um grande erro. Um erro grotesco. Não é por que é Maurício de Souza, poderia ser de Hollywood, não importa, o desenhista tinha que ser de Mato Grosso", afirma. Segundo ele, o dinheiro daqui tem que ser consumido aqui. 

Ricardo Leite, conhecido como Ric Milk, 36 anos, 20 anos como desenhista e artista gráfico, trabalhando atualmente como ilustrador de livros, na publicidade e desenho de animação, embora seja um quadrinista por paixão, diz que o edital é superpositivo e poderá, inclusive, dar um ânimo na produção local. Segundo ele, os desenhistas produziam na raça suas tiras e agora por falta de mercado alguns estão trabalhando fora. Como exemplo cita Wander Antunes, criador da revista "Vôte!", hoje em São Paulo. 

"Não temos editora", comenta e o edital é uma oportunidade para se fazer um livro e não apenas tiras. "O quadrinho é paixão, mas não temos mercado consumidor". Ele, contudo, está bastante confiante que possa ter um grande número de participantes que 'obrigue' o governo a ampliar o número de projetos contemplados. 

O quadrinista, cartunista, chargista, ilustrador, roteirista e designer gráfico Generino Rocha, aos 44 anos, criador da Garota Pantanal, por seu turno, se confessa desanimado. "Olha, vou dar uma estudada no edital, mas não sei se vou participar". Generino foi o único a se mostrar pouco entusiasmado com o apoio governamental. 

Fred, o criador do Peru, neste Diário de Cuiabá, atualmente na assessoria de imprensa em Primavera do Leste, disse que já leu o Edital sobre Quadrinhos e achou válida a iniciativa da Secretaria de Cultura em criar um Edital específico para HQ. "Os quadrinhos também são uma forma de comunicação artística e os produtores desta modalidade literária também tem que ser valorizados. Já participei do programa de apoio do governo e tive meu projeto aprovado, publiquei um livro e já estudo a publicação de outro. A classe deve torcer para que o processo de julgamento e escolha dos projetos contemplados seja transparente e sem irregularidades". 

O quadrinista paranaense Enéas Ribeiro, que já morou em Cuiabá e aqui iniciou sua carreira, quando publicou seu primeiro trabalho no extinto "O Estado de Mato Grosso", em 1993, disse que tem muitos projetos, que acredita serem relevantes, mas que acabaram engavetados por ser um período onde as coisas aconteciam de forma mais lenta dentro do Mato Grosso. Artista e palestrante convidado em três Festivais internacionais de quadrinhos - Brasil, Portugal e Angola, no ano passado fez a HQ do aniversário de Várzea Grande, e esta semana encerra a participação como artista convidado no Luanda Cartoon, o mais importante festival de quadrinhos da África. 

"Creio que toda iniciativa de fomento à arte é sempre bem vinda, ainda mais remunerada. Outro ponto positivo que vejo é o fato do prêmio estar dividido entre Capital e interior, o que ajuda a fugir da fórmula fácil do 'mais do mesmo'", disse. 

Segundo a assessoria da Secel, a iniciativa do Governo de Mato Grosso visa democratizar o acesso à arte e à cultura, promovendo o fomento e a descentralização da produção das HQs e o fortalecimento da literatura no Estado. Busca ainda incentivar novas ideias, a circulação e a produção literária de artistas radicados em Mato Grosso. 

Dos quatro projetos selecionados pelo Prêmio, no mínimo dois devem ser oriundos de municípios do interior. O projeto inscrito deve prever a publicação de uma história em quadrinhos em todas as suas etapas, incluindo desenvolvimento, edição e finalização. Serão aceitas criações de material anteriormente publicado em periódicos no formato de tiras ou aquelas produzidas especificamente para a publicação em livro (brochura impressa com, no mínimo, 40 páginas e tiragem mínima de mil exemplares). 

O Prêmio tem por finalidade apoiar a publicação das HQs, que deve ocorrer até o dia 30 de junho de 2016. O proponente deve descrever detalhadamente o formato gráfico da publicação e justifica-lo para fins de avaliação pela Comissão Técnica de Seleção. A inscrição no prêmio Quadrinhos MT é feita mediante o preenchimento do protocolo, entregue ou enviado pelos Correios à Secel, localizada na Avenida José Monteiro de Figueiredo, 510, bairro Duque de Caxias, até 14 de setembro, das 8h às 12h e das 14h às 18h. Mais informações podem ser obtidas pelo site www.cultura.mt.gov.br, pelos telefones (65) 3613-0207 e 3613-0231 ou via e-mail conselhodecultura@secel.mt.gov.br

Como dei um anzol para Silva Freire

Conheci Silva Freire num principio de noite no jornal Equipe, nos anos 80, quando estava querendo entrar no jornalismo. 

Silva Freire estava debruçado sobre a enorme prancheta na qual se fazia o past-up e o poeta estava ele mesmo montando um poema no diagrama da página para ser publicado no domingo. Então deveria ser uma sexta-feira. Aproximei e fiquei lendo alguma coisa, quando ele vira para mim e diz: 

– Não estou gostando dessa palavra, mas não consigo achar outra. 

A palavra era SOL, o poema falava de peixe e de estalo sugeri: 

– Porque não põe ANZOL? 

Ele correu para a sala de digitação para pedir a palavra, que dali a 10 minutos estaria no papel para ser colado e exclamou: 

– Como que não pensei nessa palavra antes?! - e olhou para minha cara, talvez para guardar. 

A certeza que ficara marcado na memória, quando o poeta, assim que me via, me agraciava com um dos seus Cadernos de Cultura, recebi uns cinco de suas mãos. Um dia, na Praça da República, ao longe grita me chamando e ali mesmo, depois de autografar, me entrega o livro "Águas de Visitação", edições do Meio e passei a frequentar seu escritório na Cândido Mariano, com certa frequência, quando me mostrava alguns de seus poemas e que me inspirou a escrever o poema "Do Poeta", que está lá no volume dos "Poetas Vivos". 

Quando, no início da década de 90, repórter do caderno Vida, da Gazeta, faço um perfil de Silva Freire, essa vem ser a sua última entrevista. Coisas da vida.

JOÃO BOSQUO, jornalista e poeta, é autor de "Abaixo Assinado", com Luiz Edison Fachin. 
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=477106

Médium lança livro de cartas cuiabanas

O livro "Eles Vivem – O presente dos sonhos", resultado das cartas psicografadas aqui em Cuiabá pelo médium Alaor Borges Júnior nos últimos cinco anos, será lançado neste dia 14 de agosto, sexta-feira, na Livraria da Associação Espírita Wantuil de Freitas no período noturno, após sessão de novas psicografias do médium de Uberaba que vem cumprindo essa rotina de visitar Cuiabá todos os anos e proporcionar, por meio das mensagens recebidas, um consolo para as pessoas que perderam um ente querido. 

Celso Anselmo Bicudo Paula Souza, um dos editores do livro, conta que a ideia do livro aconteceu naturalmente. O outro parceiro na edição das cartas é Cláudio Vittorazi, que inclusive foi quem conheceu primeiro o médium Alaor Borges em Uberaba, Minas. Cinco anos atrás, numa dessas viagens em caravana para conhecer a cidade mineira onde está a Casa Memória de Chico Xavier, Vittorazi se separa da excursão e por conta própria visita outras casas espíritas e acaba conhecendo o médium Alaor Borges. 

Dali, a partir desse encontro, acontece o convite para conhecer Cuiabá. Convite aceito e desde 2011 Cuiabá faz parte de seu roteiro de visitas às cidades. Na primeira viagem tem importância fundamental o trabalho empreendido pelo diretor do Wantuil de Freitas, Dr. Márcio Monteiro, que garantiu a logística. 

O livro "Eles Vivem" é resultado das cartas recebidas aqui em Cuiabá. Celso Bicudo conta que em suas visitas a Cuiabá, Alaor geralmente realiza três sessões de psicografias, e diversas casas de Cuiabá, sendo que Wantuil de Freitas todas às vezes, e mais a Paulo de Tarso e Seara de Luz, isso na primeira viagem. 

Nessas sessões, são atendidas de 150 a 250 pessoas, dependendo da casa, e começa geralmente às 14 horas. Às 13 horas são distribuídas as senhas, depois o médium recebe cada um para uma rápida conversa fraterna e após essa conversa, chega-se o momento da psicografia. 

A pessoa ao receber a senha recebe também uma ficha, que deve ser preenchida, aos moldes de Chico Xavier – a maior referência do Espiritismo no Brasil – com o nome do solicitante e nome dos desencarnados, com datas nascimento e falecimento. De posse disso é que a pessoa vai conversar com Alaor Borges. Na rápida entrevista, eventualmente, muito eventualmente, pode acontecer casos de vidências por parte do médium e aí a entrevista pode demorar um pouquinho mais. 

Desse número de pessoas, vamos explicar bem, apenas 10 a 15 pessoas recebem as cartas. Desse universo de 30 cartas por ano, somando esses anos todos, em Cuiabá foram psicografadas em torno de 150 cartas endereçadas a pais, mães e avós, que de alguma forma estavam inconsoláveis com a perda do filho, filha ou netos. 

Bicudo e Vittorazi enfim propõe a reunião de parte dessas cartas em livro. Alaor Borges autoriza a realização do trabalho e dois amigos vão contatar os destinatários das cartas e fazer o que se denomina de "autenticação das mensagens recebidas". Checar com a família se a carta realmente foi ditada pelo espírito que assina a carta. 

O livro então consta, além da carta, uma reportagem com a pessoa que recebeu a mensagem que comenta os elementos que dizem que a mesma foi 'escrita' pela pessoa que assina. O livro contém 25 cartas consoladoras. 

Peço ao organizador que cite uma ou duas cartas e conta o caso de Luiz Gustavo. A autenticidade é comprovada a partir de uma 'traquinagem'. A criança estava escrevendo nome na parede Luiz Gus... quando chega o pai e para. Pai, feliz com o avanço da caligrafia do filho registra com uma foto. Assinatura posta na carta é a mesma. 

A outra é de um drama incrível. A mãe, que perde o filho, vinha num processo de depressão intenso, e ao encontrar com Alaor esperava que ele perguntasse alguma coisa sobre o filho e foi apenas a saudação habitual "Vamos aguardar, que Jesus nos abençoe" e ao final a carta do filho, que trouxe um conforto pela perda. 

Alaor Borges Júnior é natural de Bebedouro (SP) e radicado em Uberaba (MG) há mais de 40 anos, enfermeiro de profissão, é médium psicógrafo, orador espírita, coordenador de grupos de estudos doutrinários e fundador do Lar Espírita Irmã Valquíria, pelo qual desenvolve o trabalho social em sua cidade. 

Celso Bicudo é cuiabano, gestor empresarial imobiliário, filho de família espírita e trabalha como voluntário em diversas frentes e atua como palestrante espírita. 

Dia 14, sexta-feira, repetimos, Alaor Borges vai psicografar. Os portões do Wantuil de Freitas vão abrir às 13 horas. O primeiro que chega, geralmente é quem organiza a fila e em seguida serão distribuídas as senhas com as fichas. Aos a sessão de psicografia Alaor Borges estará autografando o livro. A renda da edição será revestida ao Lar Irmão Antônio. 

A eterna reinvenção do jornalismo

Onofre Ribeiro, que chegou na pré-divisão, é figura emblemática do jornalismo de MT

“Jovens não veem TV aberta, não leem jornais, essas mídias terão que ser reinventar”. A constatação quem faz é o jornalista Onofre Ribeiro que, desde que chegou a Mato Grosso, na época do governo de Garcia Neto, vive se reinventando. Começou por aqui como um dos inventores da assessoria de imprensa governamental, hoje se divide entre o rádio, a internet e as palestras em que procura firmar sua particularíssima visão de mundo.

O jornalista Onofre Ribeiro é um contador de causos. E ele conta melhor que ninguém a sua própria história, ou os causos de sua vida. Aos 71 anos, com aparência de um jovem de 60, tem quilômetros e quilômetros de histórias para contar, sem pecha ou qualquer condicionante. “Eu não vou de falar disso” ou coisa do gênero. Pode-se dizer, sem hesitação, que é um homem realizado – com as marcas que vida (de certo modo) tem obrigação de nos proporcionar, porém sem que isso transpareça nas conversas e longos bate-papos, regados a um cafezinho que jamais consegue recusar.

Onofre Ribeiro é mineiro de uma cidade com o singelo nome de Cantos Altos, entre as serras frias de Minas, perto de Araxá que, por sua vez, é pertinho de Uberlândia. Filho de caipiras, Sebastião Felisberto e de dona Julieta, depois que completou o ensino fundamental – que, naqueles tempos, tinha outro termo – e para fazer o segundo grau, hoje conhecido também como EM (ensino médio) mudou-se para Brasília. Motivo: em Montes Altos não tinha escola além do primeiro grau e a família não tinha dinheiro para pagar um internato, por exemplo, em Uberaba, que era muito caro.

Em Brasília, além de ser perto de Montes Altos, tinha parentes e para lá foi e acabou se formando em Jornalismo, da segunda turma da Universidade de Brasília, em 1968.

O ano de 1968 foi o ano que o regime militar se fechou ainda mais, com o general-ditador Arthur da Costa e Silva editando o Ato Institucional nº 5 (AI-5), depois de bombas explodirem nas portas do jornal “O Estado de S. Paulo” (abril) e da Bolsa de Valores de São Paulo (maio).

Onofre Ribeiro trabalhava na editoria de política do “Jornal de Brasília”, que na época era o top, desde 1973. Já casado com Carmelita e pai de três filhos: André, Fábio e Marcelo (Tiago ainda não fazia parte) quando um dia o editor disse a ele: “Olha, o Governo de Mato Grosso está contratando jornalista e quer um profissional com seu perfil, mais conceitual”. Onofre diz que aceitou no ato a proposta sem consultar a mulher.

O ato de aceitar tinha também uma questão doméstica. As famílias de origem dele e da esposa eram enooormes. “Eu era prepotente e independente e as duas famílias, em Brasília, era uma muvuca danada”, ri. Mato Grosso vivia a crise da divisão, daí a busca de jornalista com mais experiência. Onofre lembra que a crise era triangular: Governo de Mato Grosso (sede em Cuiabá), sul de Mato Grosso (Campo Grande) e o governo federal que já tinha endossado a tese da divisão.

O governador José Garcia Neto era contra, “muito contra a divisão de Mato Grosso”, nas palavras de Onofre Ribeiro e, por isso, sofria ataques dos dois lados, tantos dos mato-grossenses do sul e do governo federal. Onofre conta sem nenhuma falsa modéstia, que Garcia Neto precisava de um jornalista mais maduro. Se junta a isso o fato do governador conhecer a reputação da UnB, já que dois filhos dele, Berinho e José Luiz, se formaram pela mesma, portanto tinha um apreço por ela.

“Eu já tinha sido credenciado na Câmara dos Deputados, no Ministério da Justiça, enquanto o pessoal local era muito da casa, muito inexperiente e o fato de ser da UnB também meu ajudou muito”, conta.

Onofre Ribeiro trabalhou no Governo do Estado de 1976 até 1979, e ocupou o cargo de Diretor do Departamento de Divulgação, embrião da Secom de Mato Grosso. Quando Garcia deixa o governo, em 1978, para disputar o Senado – numa das eleições mais disputadas, da história recente de Mato Grosso (quem fala isso é este repórter). Era apenas uma vaga em todo o Brasil, mas em Mato Grosso, por causa da divisão, duas.

O MDB concorria com Padre Pombo enquanto a Arena, na vaga o mandato de oito anos tinha dois candidatos: Arena 1, Garcia Neto, e Arena 2, Benedito Canelas. Canelas é eleito e Garcia suplente. Vicente Vuolo é eleito senador com mandato de quatro anos, por conta que Mendes Canale passou a representar Mato Grosso do Sul. O terceiro senador, Gastão Muller era eleito senador biônico junto com Frederico Campos, governador, pela ALMT.

Onofre Ribeiro narra que – apesar da amizade com Garcia – Frederico assumiu o governo com a recomendação de ‘ferrar’ Garcia Neto e seu grupo. “Todos que eram próximos do Garcia Neto apanharam muito, inclusive eu, que era da comunicação”. Deixa o governo em desgraça e assume o jornalismo da TV Centro América, ainda bem incipiente, quase primitivo. Lá na TVCA conhece e fica amigo de Eugênio de Carvalho que com outros três (Vilson Vicossi, Roberto de Francesco e José Pedro de Freitas) tocava a emissora.

A revista Contato era resultado de um sonho grande. Mato Grosso saiu da divisão com a autoestima em baixa, desacreditado. Onofre foi contratado a partir do número três e chegou mudando tudo. Saindo para rua, percorrendo o estado de Kombi, Brasília, de Fusca, descendo o Pantanal de barco para saber da viabilidade da navegação. Ao mesmo tempo em que se fazia pesquisa para conhecer o novo perfil do mato-grossense. Enfim, a revista virou a militância de Mato Grosso, otimista. Cresceu, virou um grupo com duas emissoras de rádio, a Vila Real, que se desdobrava na AM 590 e FM 99,9.

Durante toda a fase da revista, enquanto esteve afastado do governo, manteve-se firme. No governo de Júlio Campos, por causa de Mauro Cid, secretário de Comunicação, a Contato cai na vala comum. O PMDB compra as rádios e as emissoras passam de mão em mão até virarem a atual Gazeta, de João Dorileo Leal.

Fechado o ciclo Contato, Onofre cria o Sistema 2000 de Rádio. Ele partiu do entendimento de que Mato Grosso não falava com Mato Grosso. Rosário Oeste, cita como exemplo, não conversava com Cuiabá. Cuiabá e Várzea Grande e cada região eram ilhas isoladas em si mesmo. Onofre diz que, na companhia do filho André, numa camionete D10, percorreu cada cidade do interior e acertou com as rádios uma franquia de um jornal diário de uma hora, “Mato Grosso de Ponta a Ponta”, transmitido via Embratel para as 28 emissoras de rádio.

Esse programa inovador, produzido e gerado em Cuiabá, a partir de uma base montada com estúdios de gravação, ilhas de edição, em um prédio na Jessé Pinto Freire, durou cinco anos até ser “detonado”, pelo que protesta Onofre, pelo secretário de Comunicação Paulo Leite (que Deus o tenha), sob a orientação do governador Jaime Campos.

O “Mato Grosso de Ponta a Ponta” tinha um patrocínio forte da Assembleia Legislativa, pois era um canal de comunicação dos deputados com as suas bases. Paulo Leite chama Onofre e propõe mais uma hora de jornal voltado para o Executivo. No início ainda resiste, argumentando que os custos de transmissão da Embratel eram caros. Paulo Leite empenha a palavra, de que não haveria atrasos e é justamente isso que acontece. Onofre Ribeiro recorre aos bancos, na época dos juros estratosféricos, e três ou quatro meses depois quebra. Tira o jornal do ar, vende tudo para pagar as dívidas e fica na lona. “O governo Jaime Campos me quebrou deliberadamente”.

O futuro do rádio? O jornalista, radialista e professor afirma que o rádio atual tem dois ouvintes. O primeiro são os motoristas, nos carros durante o trânsito e o segundo é o ouvinte de fone de ouvido, ouvindo internet. “O ouvinte de casa não existe mais”, afirma.

Para que não se tenha ilusões. A internet será a base para as plataformas das mais diversas mídias. Rádio, TV e, claro, jornais e revistas vão migrar ou serão engolidos pela internet e o celular como o principal ‘receptor’ do rádio. E alerta que essas mídias terão que encontrar uma nova linguagem para esse público novo que está chegando e não aceita mais as mídias tradicionais. “Jovens não veem TV aberta, não leem jornais, essas mídias terão que ser reinventar”.

Nos anos 90, Onofre Ribeiro já escrevia artigos para o jornal A Gazeta, onde ficou até 2004. Passa a escrever neste Diário de Cuiabá e fica como colunista por seis anos. Em 2009 vai para o governo e em 2012, depois de deixar o governo, volta a escrever artigos, novamente n’a Gazeta. Somando tudo tem 23 anos de artigos. Além do jornal, faz conferências, ministra aulas e mantém um site que reúne todos os seus artigos, agenda e uma rápida biografia.

Todas as manhãs, bem cedo, Onofre Ribeiro é um dos comentaristas do jornalístico matutino da Rádio Mix FM, que anima as manhãs de Cuiabá e duela pela primazia de pautar as reportagens do dia com as atrações comandadas por Lino Rossi, na Mega FM, Alfredo Menezes, na Centro América FM e Edivaldo Ribeiro, na CBN.

 


E1A - ONOFRE RIBEIRO

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PEQUENO PERFIL CULTURAL DO ONOFRE

RELIGIÃO: Espiritualista ecumênico. Por que não aceito dogmas.

DIVERSÃO: Filmes, ouço músicas e ouço mesmo, e fazenda.

MÚSICA: Gosto de músicas clássicas, MPB e a música caipira, caipira mesmo. Para escutar, vale tudo: YouTube, o rádio do carro e aparelho de som.

CANTOR: Gosto dos tenores, Plácido Domingos e Pavarotti.

NA MPB: Gosto muuuuiito da Maria Bethânia e Gal Costa.

NA CAIPIRA: Tonico e Tinoco.

LEITURA: Acabei de ler um livro “Os Nefilins”. É uma literatura espiritualista pós-espiritismo que trata da ocupação e da formação da raça humana no planeta. A minha leitura agora está nessa linha. Já li uns 15 livros.

TIME DE FUTEBOL: Não gosto de futebol. Odeio futebol, porque antigamente se dizia que a religião era o ópio do povo e hoje o futebol tornou-se o ópio do povo. O futebol alienou a sociedade da discussão, assim como as novelas e a cerveja. Hoje as pessoas bebem pra esquecer.

O QUE CUIABÁ TEM DE MELHOR: O povo e depois o clima. Quem conhece o frio, como eu, que nasci numa cidade gelada, que para tomar banho tinha que pensar uma semana. O frio entristece as pessoas enquanto o calor é exuberante.

Fonte: DC ILUSTRADO – DIÁRIO DE CUIABÁ


Aline Figueiredo não tem sossego e luta por anexo do MACP

A construção do anexo do MACP da UFMT irá revitalizar o acervo do museu e melhorar a animação cultural

JOÃO BOSQUO E ENOCK CAVALCANTI
DIÁRIO DE CUIABÁ – DC Ilustrado

“Pensa numa pessoa que não tem sossego”. Assim começa o nosso diálogo com ela que é a maior referência em crítica das artes plásticas contemporâneas no Centro Oeste brasileiro, conceituada no cenário nacional, animadora cultural e escritora Aline Figueiredo. Poderia responder: quem quer sossego não deve trabalhar. Aline Figueiredo, ao contrário, parece não uma formiga mas um formigueiro em intensa atividade nas 24 horas do dia.
A partir da acolhedora casa sombreada por plantas diversas, esculturas ao redor, rodeada de livros sobre artes, uma pinacoteca particular, na rua Sírio Libaneza, no Bairro Popular – que outros gostam de chamar de Goiabeiras – e que resiste de edifícios que se multiplicam em derredor, Aline Figueiredo escreve seus textos, livros, resenhas, faz suas leituras com a dificuldade que a visão lhe impõe, precisando de uma pequena lupa para ler… Imagina.
Essa mulher, às vésperas de comemorar os 70 anos, desassossegada, que há 40 anos atrás criou o Museu de Arte e de Cultura Popular da nossa Universidade Federal de Mato Grosso, está agora à frente de uma nova batalha: pela construção do anexo do MACP, para que o acervo possa ganhar vida, ao ficar exposto permanentemente.
Aline explica, mostrando a foto da maquete realizada por Rubens Florêncio, a partir do projeto arquitetônico de José Afonso Botura Portocarrero, a localização pretendida para integrar inclusive a praça que hoje, segundo a sua avaliação, está muito mal resolvida. O anexo terá perto de 300 metros quadrados para abrigar tudo que o acervo reúne, ate agora.
“Hoje temos um espaço muito bom, com 300 m² para grandes exposições, mostra transitórias mas não temos um espaço para mostrar o acervo ao público de forma permanente. Do jeito que tá hoje, ou se coloca uma exposição ou se coloca o acervo e assim não tem animação que sobreviva”, diz.
O acervo do MACP, digamos, tem uma importância estratégica no panorama das artes e da cultura popular de Mato Grosso. Lembrando, o museu foi criado em 1974, quatro anos após a fundação da UFMT, e ele, segundo Aline, “foi o ativador principal que acionou uma alavanca de animação cultural em Mato Grosso”.
Ela destaca ainda que foi a partir do MACP que se começou a constituir a Fundação Cultural de Mato Grosso, extinta para dar lugar a secretaria de Estado de Cultura, em suas diversas formas, hoje coligada com a antiga secretaria de Esportes e Lazer.
Aline Figueiredo meio que se revolta, mas reconhece essa nossa fraqueza de acabar com o que existe para começar tudo do zero. Ela lembra que, no Paraná e Santa Catarina, por exemplo, existem salões de arte desde a década de 30 e quanto mais antigo o salão, maior referência histórica e credibilidade.
Abre-se um parêntese, por conta deste jornalista: Mato Grosso tem o feio hábito de exterminar o que foi criado no passado para que o exterminador possa se proclamar como criador do novo. Foi isso que aconteceu com o Salão Jovem de Arte Mato-grossense de importância fundamental para o desenvolvimento das artes plásticas. Cito o SJAM, como poderia citar tantos e tantos outros projetos interrompidos ao longo da nossa trajetória, sendo o mais recente deles o Festival de Pesca de Cáceres, ano passado, e o Auto da Paixão de Cristo, este ano. Fecha-se o parêntese. Voltemos à Aline.
Ela conta que o MACP surgiu com a proposta de ser multidisciplinar, com cinco pontos: a atualização da arte brasileira, apoio ao artista mato-grossense, o estudo do Centro-Oeste, a valorização da cultura popular e o estudo do indigenismo, tudo de forma integrada, nenhuma dessas áreas sendo estudada de forma paralela ou estanque.
Como resultado dessa ação multidisciplinar, de interação com a sociedade, lembra a enchente de 1974, quando a região do Porto ficou submersa, desabrigando milhares de cuiabanos, principalmente moradores dos bairros do Terceiro, Terceiro de Dentro e São Gonçalo. Em São Gonçalo a enchente destruiu grande parte dos fornos dos artesãos, que foram recuperados por iniciativa do MACP. Na parte do Centro-Oeste, resultou o livro “Artes Plásticas no Centro-Oeste”, de 1979, com mais de 769 verbetes.
A preservação da cultura popular recebeu também a contribuição do museu e não é por acaso que está lá: Museu de Artes e DE Cultura Popular. Aline lembra que, em 1974, Cuiabá estava na iminência de receber essa corrente migratória gigantesca que aconteceu e se não tivesse feito uma valoração da cultura popular, segurar as suas raízes, hoje não estaríamos mais comendo a mojica de pintado. Ah!, é bom que se diga que o MACP não se fechou em si, não. A abertura para o novo, ser receptivo, também foi, segundo a desassossegada mestra, uma das marcas no novo museu.
Assim ele foi e assim é. Aline explica que o Museu de Artes e de Cultura Popular precisa hoje desse anexo, para ter sua atuação mais completa, mais fechada, mais determinada. “Sabe por quê? Por que esses outros nossos órgãos não tem uma política de animação cultural”.
A secretaria de Estado da Cultura, segundo Aline, “parece que, desta vez, tem um secretário que é da área de cultura, parece que vai melhorar. Atualmente não tem uma política definida, de continuidade”. Essa falta de definição, pelo que assegura, é muito ruim. Na mesma hora que se vê uma exposição de qualidade, logo em seguida vem outra que deixa a desejar.
E com a mostra permanente do acervo do MACP poderá se entender melhor a extensão, a complexidade e a própria evolução das artes plásticas de nosso Estado. “Sem ver não tem como”, é taxativa.
Qual é a dificuldade para se construir esse novo anexo?, pergunto. “Iiiih!, total, total”. Primeiro se diz que não tem dinheiro. Mas, como todos sabem, tem tanta coisa que se diz que não se vai fazer e, de repente, está feito e o que se diz que se fará não sai do papel. Mas a esperança, sim, a esperança, é a última que morre e o Anexo do MACP, prevê com um sorriso Aline Figueiredo, será construído.

Fonte: Diário de Cuiabá

A Garota Pantanal viaja pelo Brasil

QUADRINHOS

Generino, quadrinista mato-grossense, divulga sua personagem na MAD, a revista mais satírica do mundo

O quadrinista, cartunista, chargista, ilustrador, roteirista e designer gráfico Generino Rocha, aos 44 anos, está agora se preparando para o mercado de animação, estudando, praticando com as ferramentas que estão à disposição dos interessados. Generino é taxativo em dizer que tudo o que se deseja estudar atualmente se encontra na internet. É o que está fazendo. 

O artista é mais um dos filhos de Poxoréo que pontifica em Cuiabá. Quando ele se mudou com a família para Cuiabá, morou inicialmente no bairro do Carumbé e foi matriculado na Escola Guilhermina de Figueiredo, quando aconteceu a descoberta do desenho como expressão do seu fazer artístico. Ao pegar o lápis começaram os primeiros rabiscos de ilustrações, paisagens e personagens. 

Os anos eram da década de 80, a televisão ainda não estava inteiramente universalizada. Poucos lares tinham um aparelho de televisão. Os que tinham, recebiam os 'televizinhos'. Generino lembra que, aos domingos, a sala dessas casas virava uma sala de cinema para assistir às estripulias de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias em "Os Trapalhões". 

Assistia-se também aos seriados de super-heróis, como Mulher Maravilha. Após a sessão, o menino corria para casa para desenhar a heroína. 

Com o tempo foi tendo contato com outras mídias, principalmente gibis. Chegou a ter uma coleção de mais de 2 mil exemplares das mais variadas coleções – Super-Homem, Batmam, Fantasma, Mandrake, Cavaleiro Negro, Brucutu, Ferdinando - até que conheceu a coleção "Calafrio", da Editora D'Arte, que circulou entre 1981 e 1992. "Calafrio", sob a direção da dupla Rodolfo Zalla (argentino) e Eugênio Colonnese (italiano) só publicava histórias produzidas no Brasil. 

Generino começou a desenhar ao estilo da publicação e mandar suas histórias para apreciação dos editores. Os tempos, claro, eram outros. Não se tinha a internet, tampouco as facilidades de se fazer cópias digitalizadas. Além dos custos da remessa pelos Correios, a incerteza de chegar no destino e obter retorno. O pessoal da "Calafrio", pelo jeito, tinha grande respeito pelos artistas e respondeu ao jovem iniciantes, com orientações e pedidos para que estudasse mais. "Sempre procurei me aperfeiçoar", conta. 

Em 1992 descobre a turma dos quadrinhos mato-grossenses. Ele conta rindo, uma história sobre Gabriel de Matos, o professor, arquiteto, escritor e quadrinista, que sempre fala "todo desenhista em Cuiabá achava que era o único". 

Generino reconhece que ele também se achava o único em Cuiabá que fazia quadrinhos. Quando conheceu a turma do ZHQ – que incluia Wander Antunes, Ric Milk e Rodrigo Vinícius, entre outros, a ilusão se desfez. 

O primeiro desenhista de quadrinhos mato-grossense é o sempre recluso Moacir Freitas, que desenhou a história de Mato Grosso, e a quem todos prestam reverência pelo seu pioneirismo. 

Generino se junta ao grupo e cria a sua principal personagem, a "Garota Pantanal", recém-publicada na revista "MAD", edição 78. "MAD" no Brasil teve várias fases, iniciada em 1974, quando começou a ser editada pela extinta Editora Vecchi, passou pela Record, Mythos e agora é editada pela Panini, a mesma que edita a Turma da Mônica, de Maurício de Souza. 

São duas colaborações encomendadas pela editora. A primeira já está publicada, a segunda ainda sem data definida. Esta é a segunda participação nacional de Generino. A primeira foi no jornal "O Globo", quando circulava nacionalmente – e agora em fase terminal apenas no Rio de Janeiro -, com uma tirinha da "Menina Pantanal", em 2010. 

"Ângela - Garota Pantanal" é o primeiro trabalho autoral do artista. Em 1992 tem como registro de nascimento as páginas da revista "Vôte", de Wander Antunes. Os traços da personagem eram mais realistas possíveis, tinha ares sensuais. Agora, porém, ela está com traços mais estilizados. Já a "Menina Pantanal", aconteceu quando da edição do "Diarinho", aqui no Diário de Cuiabá, um caderno voltado para o público infantil. Diferente de Maurício de Souza - com quem já esteve pessoalmente mostrando o seu trabalho - que criou Mônica jovem, voltado para o público teen, depois do infantil. 

O universo pantaneiro sempre esteve presente na obra de Generino desde a criação de Ângela, moça ou menina. Alguns animais da nossa fauna serviram de base para a criação de personagens coadjuvantes das aventuras da Garota Pantanal: Pinta, onça pintada; Zé Karé, o jacaré e Tuca, tucano, entre outros. 

Depois vieram as colaborações para o suplemento "Azul", também neste Diário de Cuiabá, sob a batuta de Enock Cavalcanti, em 1994; e Generino seguiu em frente, com passagens pelo "Circuito Mato Grosso", Correio Várzea-grandense e, por último, "Folha do Estado" (2011/2013) e trabalhos em agência de publicidade como ilustrador. (Edição Enock Cavalcanti)


20150426

Fonte: Diário de Cuiabá

http://diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=470562



Bolinha, o verdadeiro som do rasqueado

MÚSICA

O saxofonista, símbolo do rasqueado mato-grossense, participou de importantes obras da discografia regional

"João Batista de Jesus é o nome mais bonito". Quem afirma é o titular, proprietário do nome, conhecido também como Mestre Bolinha, que solta uma sonora gargalhada ao dizer isso, para depois completar: "João Batista Jesus da Silva. Eu nasci no dia da alegria, às 8 horas da noite, quando levantavam o mastro na casa de Dona Maria de Ferraz". Era festa de São João, uma das mais tradicionais da antiga Rua da Fé, atual Comandante Costa. 

A música está na raiz, ou mais modernamente, no 'gene'. Filho do legendário Mestre Albertino, músico primeiro sargento do antigo 16 BC (16º Batalhão de Caçadores), formador de bandas e descobridor de talentos, além de compositor, e de Dona Enedina Fernandes da Silva. Bolinha é herdeiro dessa cepa e aos 75 anos, pode-se ser considerado um dos maiores saxofonistas mato-grossenses e também faz parte da história da música regional. 

O primeiro contato foi com a percussão, com o pai. Depois, porém, foi estudar na antiga Escola Agrícola de São Vicente, atual Centro Federal de Educação Tecnológica de São Vicente (Cefet). O motivo era que Mestre Albertino não ganhava muito como sargento do Exército. Pois bem, perto da reforma, o pai começou a trabalhar na Escola e formou a primeira banda de música. O jovem Bolinha começa aprender a tocar o sax alto e integra o naipe das paletas. 

O sax alto teve, porém, uma temporada curta. No dia que Bolinha viu Ivonildo Gomes de Oliveira, o mestre China tocando sax tenor foi amor à primeira vista. "Fiquei louco ao ouvir o sax de China", que para ele era, de verdade, um mestre. Tocava no Bar Brasil, estabelecimento que ficava na Barão de Melgaço e de tanto 'perseguir' ele decidiu a ensinar a nova embocadura e seus macetes para executar um sax tenor aveludado. O respeito por Mestre China é tanto que Bolinha faz igual até os dias atuais. 

O pai, Mestre Albertino, após se aposentar do quartel, torna-se servidor da Escola Técnica Federal de Mato Grosso, contratado pelo então diretor, Coronel Octahyde Jorge da Silva. Bolinha começa também sua carreira de músico e torna-se sucessor do pai. O critério foi: "Filho de peixe, peixinho é" - e se torna regente da banda de música. Com distinção, conta que a banda da Escola Técnica chegou a ter uma formação de 65 figuras, jamais vista. A prova está no retrato na parede da casa, plantada em um lote de mais de 1000 metros quadrados no bairro do Ribeirão da Ponte, de herança paterna e na qual convive com a esposa, nomeada como seu anjo da guarda, Santina Silva. 

Antes de se casar nos anos 80, Bolinha ajudou a escrever a história da discografia cuiabana. Integrante da banda "Jacildo e Seus Rapazes" participa, com o seu sax tenor, de um dos discos mais cultuados do rock-roll local, o LP "Lenha, Brasa e Bronca". A aventura de viajar para São Paulo, praticamente sem dinheiro, numa velha Kombi, que patina nos atoleiros e funde o motor no meio da viagem, valeria um road movie. 

Ao entrar nos estúdios da Califórnia Discos pinta um problemão. A Ordem dos Músicos do Brasil bota banca e cobra a carteira de músicos. Os cuiabanos, que não sabiam da existência de tal instituição, se veem em apuros, pois a exigência quase pôs fim ao sonho de gravar o primeiro (e único) disco da banda. A saída foi gravar de madrugada, longe dos 'ouvidos' dos fiscais da O.M.B. Depois de integrar a "Jacildo e Seus Rapazes", participou de outra banda de sucesso, "Los Bambinos", que animava os bailes do Grêmio Antônio João. 

Depois de 35 anos de serviço, Bolinha se aposenta como mestre da Banda de Música da Escola Técnica. E passa a participar mais ativamente do movimento musical regional, sempre acompanhando os cantores e compositores da terra. Vera & Zuleika vão cantar no "Som Brasil", de Lima Duarte, na Rede Globo, e levam Bolinha para acompanhar. Participa da Rua do Rasqueado e desse processo de retomada do rasqueado, a partir dos anos 80.

O rasqueado cuiabano, segundo nos conta o historiador e musicista Milton Pereira de Pinho, o Guapo, em seu livro "Remedeia co que tem", tem suas origens após o final da guerra da Tríplice Aliança e o termo "rasqueado" está ligado a expressão "rasguear la guitarra", até se firmar com a legítima musical regional, tendo como precursores, entre outros, a Banda do Mestre Inácio, o Conjunto Serenata, Zulmira Canavarros, Dunga Rodrigues, Nardinho (acordeonista), Benjamim Ribeiro e o conjunto Cinco Morenos. 

Também fizeram história os compositores Honório Simaringo, José Agnello, Mestre Albertino, Vicente dos Santos, Tote Garcia, Luiz Cândido, Luiz Duarte, Mestre Luiz Marinho, Zelito Bicudo, Odare Vaz Curvo, Nilson Constantino, Namy Ourives, Dante Miraglia, Rabelo Leite, Gigo, Chilo e Mestre Bolinha. Herdeiro direto dessa tradição e seu mais legítimo representante. O ícone do rasqueado cuiabano. Junto com Pescuma e Moisés Martins integra a banda "Ventrecha de Pacu" e grava os CD's "Sentimento Cuiabano I e II", aos quais empresta o colorido de seus sopros. 

Encerrado o ciclo de Ventrecha de Pacu, Bolinha volta aos estúdios e grava o "Bolinha e seu Sax Cuiabano", com músicas de Metre Albertino (Paraíso de Dona Sinhá, Bugrinho na Farra, Lambari na Cuia e Meu Pedaço), Pititi-Patatá (Honório Simaringo), Luiz Fonseca (Sonho de Esmael); segue-se o CD "Tributo a Mestre Albertino", depois "Bolinha Recordando o Passado", no qual resgata trabalhos como "A Turma de Luiz Marinho", gravando boleros e choros. O último trabalho é uma referência os 73 anos, com doze faixas, com destaque para "Rasqueado em homenagem ao Mestre Bolinha". (Edição: Enock Cavalcanti)

24.04.2015

Fonte: Diário de Cuiabá

http://diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=470409

PS.: Publicado anteriormente no site da Secom/MT



O grande artista da viola de cocho

Habel dy Anjos fez do instrumento de nossos ancestrais inspiração para viver e criar

JOÃO BOSQUO
Da Reportagem

O professor, maestro, pesquisador, compositor, musicista, cantor e compositor Habel dy Anjos também está se transformando em museólogo... Ops! Museólogo é o profissional que trabalha em museus. Deixe-me corrigir: está se tornando um criador de museus. 

Embora brinque "que ele está virando peça de museu", dentro da casa de quase 500 metros quadrados, na qual guarda uma infinidade de peças – que vão de instrumentos musicais (incluindo réplicas de instrumentos antigos) que vão da viola campesina, berrantes, pianos e, claro, a viola de cocho; aparelhos radiofônicos, eletrolas, toca-discos e, não poderiam faltar, discos de todas as rotações. 

A nossa conversa foi nesse ambiente de ar e sentimento de música e recordações, no qual Habel dy Anjos, sem precisar de incentivo, demonstra toda sua empolgação para falar do que ama, verdadeiramente, que é a música e a viola de cocho e do legado que espera deixar para as futuras gerações, além da sua obra de resgate ou, como ele diz, de descolonização da viola de cocho. 

Habel dy Anjos é natural de Uberaba, perto de Uberlândia, em Minas. Cresceu com a música dentro de casa já que o pai, Abel Santos Anjos tocava, entre outros instrumentos, gaita, era cantor de tango, fazia programa de rádio e tinha um serviço de alto-falante, a ASA - Serviços de Alto Falante. 

Serviço esse que chegou a atender o Dr. Ulysses Guimarães que, mais tarde, veio a ser o Sr. Diretas, Timoneiro da Democracia e, em 1988, promulgou a Constituição Cidadã, que sobrevive aos trancos e barrancos. Na família, porém, só ele e o irmão José Milton, engenheiro, herdaram o gosto pela música. 

Habel conta que chegou a iniciar o curso de Filosofia, mas não era bem aquilo que queria e mudou-se para São Paulo para cursar a Faculdade de Música. Para sobreviver, dava aula de violão clássico no Conservatório Anchieta e (a história mais uma vez se repete) trabalhava na noite tocando piano, além do violão, instrumento de origem, no Restaurante Massimo, de Massimo Ferrari, restaurante que fechou as portas em 2013. 

Corria o ano de 1987, o clima da democratização embalava o país, Habel se forma e recebe o pedido de currículo por parte de Therezinha Arruda que assumia a Casa da Cultura de Cuiabá, na gestão de Dante de Oliveira. A decisão de se mudar para cá, porém, deve-se ao incentivo do primo Toninho Mineiro, que tocava uma companhia de rodeios. "Olha, pode jogar todas as roupas de frio. Aqui faz um calor de 40 graus", avisou. O filho de Uberaba acreditou e não trouxe uma roupa sequer de frio. Na madrugada em que desembarca em Cuiabá, 2 de junho, todavia, fazia um frio perto dos 4 graus. Era a Lei de Murphy funcionando. 

O primo, na euforia, depois de pegá-lo na Rodoviária do Coxipó, levou Habel para conhecer o Mercado do Peixe onde foi comprar um pintado. Era de madrugada, lembra, ele tropeçou numa "pedra que tinha olhos". A pedra era a cabeça de um jaú, certamente, enorme. E uma cena inesquecível: já quase amanhecendo, um canoeiro de pé, "naquelas canoinhas fininhas, levanta um pintado de quase um metro". 

Além de regente da Banda Municipal de Cuiabá, à época subordinado ao Departamento de Cultura e Turismo – Casa da Cultura, foi contratado também do Sesc para trabalhar com recreação e fundador e regente do Coral. Empregos que deixou quando passou no concurso da UFMT para ser professor, em 1989. "Ao vir para Cuiabá aconteceu esse encontro mágico". 

Nesse encontro mágico também está envolvida a viola de cocho que ele conheceu in loco, já sabia de sua existência por meio da literatura especializada. Explica-se. Enquanto regente da banda, em uma das inúmeras retretas em praças públicas de Cuiabá, conheceu os cururueiros e suas violas. Como professor de instrumentos antigos, de cordas, a paixão foi instantânea. "Menino, quando eu vi a viola de cocho pela primeira vez fiquei encantado", confessa. 

Ao passar no concurso da UFMT já estava com o projeto Viola de cocho engatilhado e criou a disciplina dentro do curso de música da universidade sobre o instrumento. Ao elaborar o seu primeiro trabalho acadêmico, para dar base teórica para o curso em sala de aula. Habel vem a conhecer os trabalhos, primeiro "Cocho Mato-grossense: o Alaúde Brasileiro", de Julieta Andrade e Roberto Corrêa, violeiro, professor e pesquisador que desenvolveu o trabalho "Cururu e outros cantos das festas religiosas – MT", LP editado com recursos do INF/Funarte (1988), e também com parceria da Casa da Cultura. 

Essa pesquisa resultou no primeiro livro "Viola de Cocho – Novas Perspectivas", editado pela UFMT, de Abel Santos. Ué, agora é Habel dy Anjos? Sim, avisa o artista, que fazia dupla com o Mestre China e tocava na noite. 

Mudou quando uma amiga falou da numerologia e do poder do nome de cada pessoa. "O nome convém aos seus donos" e do nome herdado do pai: Abel Santos Anjos Filho adotou-se o agá - que na língua portuguesa só presta serviço quando participa dos encontros vocálicos, lh, ch, nh e depois aparece como mero enfeite - e ficou Habel. De sobrenome optou pelo Anjos. "Santos não tem asas e anjos tem" e o "dy" entrou de contrapeso na numeração geral. 

Abel... ops, Habel dy Anjos conta que aí aconteceu um 'boom' em sua carreira, ao mesmo tempo em que via a crescente aceitação da viola de cocho por parte de outros pares. O maestro Leandro Carvalho adotou-a na Orquestra de Mato Grosso, violeiros como Rui Torneze, autor de livros sobre a viola caipira, empolgaram-se com a viola de cocho, enquanto outros, jovens, já usam a viola no rock e a viola elétrica, como se pode ver no Festival Cerrado Music. 

Habel dy Anjos conta que, quando chegou, os violeiros falavam coxim, cocho viola. Mas não a conhecia por viola de cocho. Esse nome ele acredita que seja dado por acadêmicos. Tanto é verdade que quando esteve em Portugal à procura da viola campaniça, ninguém conhecia e, no entanto, tocam a guitarra do campo, que é a mesma. 

Ao mesmo tempo que conhecia os cururueiros seo Caetano, João Batista Rodrigues, Daniel Silva, Francisco Sales e Luiz Marques da Silva (que mais tarde veio a fundar a Afomt – Associação Folclórica de Mato Grosso), com os quais veio aprender e ensinar a viola de cocho. Habel explica que a simplicidade dos acordes dos trabalhadores na roça, com seus dedos calejados, essa simplicidade é natural. Em sua carreira, ele mostrou todo o potencial que a viola tem, com dedos treinados em conservatórios e aulas e aulas e aulas de violão. 

E aconteceram coisas incríveis, como garantir um novo paradigma para a viola de cocho. Quando do processo de colonização, Cuiabá, depois dos bandeirantes, dos garimpeiros, no século 18, conforme pesquisa de Alcides Moura Lott, recebia inúmeras peças teatrais, junto com os instrumentos musicais: violinos, violoncelos, enquanto a sociedade abandonava a viola de cocho que permanecia apenas na periferia da cidade. 

Karl von den Steinen, lembra Habel dy Anjos, explorador e antropólogo alemão, que andou por estas paragens no século 19, conta em seu livro que viu "índios" divertindo-se com instrumentos rústicos – como descreve a nossa viola de cocho, o mocho e o ganzá. A viola de cocho, portanto, é uma herança anterior. 

"Por uma questão de ordem de chegada: Julieta Andrade falou, o Roberto Corrêa veio, identificou e eu entrei no rastro deles", relata. 

Quando chegou, a viola de cocho andava no saco, meio que escondida, os violeiros com um pouco de vergonha, e esse trabalho de descolonização: "Peraí, você trouxe seu violino, seu piano, mas eu tenho aqui um instrumento em pé de igualdade, que é da minha cultura". 

Habel dy Anjos não para. Continua fazendo shows, recitais, espetáculos aulas, gravando CDs, escrevendo livros de ensaios e poemas e crônicas, e, principalmente, levando a viola de cocho a todos os lugares. 

Ah, pra terminar. A casa-museu onde reside também tem uma lembrança do pai. Que por aqui já tinha andado, para pescar, no Rio Vermelho e outros rios de tantos peixes. Quando viu o pintado nas mãos do peixeiro equilibrista, em pé na sua estreita canoa, soube por que o pai gostava de pescar por aqui. Não é mentira, não. 

19.04.2015 

Fachin e Bosquo já lançaram livro

Registro
Eduardo Gomes
Da Reportagem

João Bosco de Almeida Souza, não, que tem um cantor com esse nome. Adote João Bosquo – sugeriu o amigo Luiz Edson. A dica foi aceita e a literatura e o jornalismo ganharam João Bosquo, que rebatizado assinou um livro de poemas seu e do parceiro que o rebatizou. Assim, em 1977, em Curitiba, os dois lançaram "Abaixo-Assinado", obra poética, com 20 títulos de cada um dos autores. 

Ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso, João Bosquo é um dos jornalistas mais conhecidos no Estado, com passagens pelos principais jornais, atuação em assessorias e atualmente escreve no Caderno Ilustrado deste Diário. Seu parceiro no livro é o jurista Luiz Edson Fachin, que acaba de ser escolhido pela presidente Dilma Rousseff para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal com a aposentadoria precoce do ministro Joaquim Barbosa, em 2014. Para chegar ao STF, Fachin terá que se submeter a uma sabatina no Senado. A amizade de Fachin com João Bosquo o liga a Mato Grosso. Os dois se conheceram na juventude. O ministro indicado cursava direito em Curitiba, e João Bosquo era estudante do segundo grau. Em 1976, uma poesia do estudante cuiabano foi escolhida a vencedora de um evento literário em Campo Largo (PR). Fachin o procurou e disse que gostou de seu estilo. Daquela data em diante criaram fortes vínculos de amizades. Ambos eram forasteiros. O mato-grossense sequer tinha parentes no Paraná. Fachin nasceu em Rondinha, no Rio Grande do Sul, mas sua família era radicada em Toledo, no interior e distante da capital paranaense. O gosto pela poesia e o isolamento familiar contribuíram para o fortalecimento da amizade. 

Um ano depois do evento em Campo Largo, Fachin convidou João Bosquo a compartilhar com ele a autoria de Abaixo-Assinado, que foi impresso com recursos de ambos, numa gráfica de fundos de quintal em Curitiba. Em Cuiabá, paralelamente ao seu trabalho nas redações de jornais, João Bosquo escreveu Sonhos Antigos, em 1984; Outros Poemas, em 1985; e Sonho de Menino é Piraputanga no Anzol, em 2006. Enquanto isso, Fachin montou escritório de advocacia na capital paranaense, onde ganhou respeito profissional e se tornou uma dos juristas mais renomados, com projeção nacional, mas sem perder a ligação com a poesia. Antes, por telefone e viagens de final de ano, os dois amigos se encontravam para botar a poesia em dia. Agora, com o surgimento das redes sociais o contato ganhou intensidade. 

Discreto, João Bosquo desconversa sobre a reação do amigo ao ser escolhido ministro do Supremo. No entanto, quando questionado sobre a escolha, a resposta é antecedida por um largo sorriso: "Não podia ser mais feliz. Ele (Fachin) é um ser humano sensível, homem apegado aos valores morais, jurista qualificado, profissional extremamente ético e um poeta de mão cheia; o STF ganhará muito com o Luiz Edson". A julgar pela reação política ao nome de Fachin, seu amigo ao invés de visitá-lo no Paraná, terá que trocar a rota para Brasília, onde fica o STF. 

16.04.2015

Fonte: Diário de Cuiabá 


http://diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=469988



Muito mais que onça e caju

ARTES PLÁSTICAS


Artista João Sebastião, agora Barros, aprende a lidar com smartphone para incrementar produção artística

João Sebastião de Barros definitivamente está aprendendo a lidar com as ferramentas da pós-modernidade. Aos 66 anos, se viu obrigado a aceitar o smartphone. O aparelho, contudo, é bom que se diga, vai virar prancheta. Melhor dizendo, substituirá a prancheta, aquela que todo artista usa para elaborar seus esboços. Com o tempo corrido, essa atividade preliminar da realização das obras de artes toma o tempo e o tempo está cada vez mais curto. O aparelhinho, com suas lentes, servirá para fazer os registros in loco com um nível fidelidade, quiçá, melhor. 

"Estou aprendendo. Quando não sei, minha sobrinha vem e me socorre", conta. "As crianças de hoje parecem que já nascem sabendo lidar com esses 'brinquedos', enquanto nós pelejamos" - o artista esclarece. É uma ferramenta que será utilizada na construção de um texto ou uma pintura. 

A primeira missão já está definida: será fotografar a região do Coxipó da Ponte, onde ficava o casarão de seu avô paterno, Alexandre de Barros, naquele entroncamento de quem vai para o bairro São Gonçalo Beira-Rio e Parque Cuiabá. O Coxipó, bom esclarecer, será o próximo talismã do artista que será visto em suas cores e interpretação. 

O casarão não existe mais, deu lugar para a modernidade. A árvore, porém, teve mais sorte e continua frondosa. Essas referências serão registradas para a próxima leva de quadros que serão pintados por João Sebastião. A casa, construída em 1903 pelo avô, voltará como elemento de ficção nas próximas criações. 

Cuiabá aparece mais interna na pintura joãosebastiana, cujos traços de estilo se consolidaram na década de 70 do século passado, com dois elementos fundamentais, a onça pintada e o caju. Essas linhas na pintura de João Sebastião vão estar de forma consolidada na tela que faz parte do acervo da Universidade Federal de Mato Grosso e fica à mostra ao público na Reitoria. "Essa é uma obra síntese", avalia o próprio artista. 

As fases variam, mas a temática é a mesma e ela não finda, ou melhor, cada vez mais amplia os olhares do artista para dentro e fora de si mesmo. A exposição atual, que está na Galeria Casa do Parque, leva o nome "Água da Bica". O correto – se existisse correto – seria "água de bica", mas nós cuiabanos de todas as gerações sabemos que é água da bica. "Vamos tomar água da bica", remonta às nossas infâncias. A exposição com olhares de peixinhos na Casa do Parque, fica aberta ao público até o dia 25 deste. 

O artista, nesse ponto, não abre mão. A imagem, o sentir é da gente cuiabana, que nasceu em Cuiabá, mas registrado no cartório do Distrito do Coxipó da Ponte. Esse artista é o interprete da cultura, da raiz cuiabana. "Não faço uma pintura conotativa, denotativa, pintar uma casinha aqui e ali. Isso eu não faço. Minha pintura busca o encantamento". E o encantamento está nas cores, na temática e busca desse sentimento de cuiabanidade que faz com que a obra seja admirada aqui e lá fora. 

João é um artista formado na escola de Aline Figueiredo e Humberto Spíndola. Ele saiu de Cuiabá, concluiu o segundo grau, hoje conhecido como ensino médio, mas não se tinha faculdades de artes. Belas Artes chegou a estar em seus planos. Ao chegar lá, levado pelo amigo Fábio Ineco, um dos instrutores ao ver os rabiscos de João Sebastião disse que ele não precisava aprender mais nada. No retorno à terra natal entra em contato com o casal Aline e Humberto. 

Segundo João Sebastião, Aline e Humberto investiram muito na formação do jovem artista. "Aprendi com eles a intelectualizar, pensar, filosofar a obra de arte", conta. 

João Sebastião de Barros não gosta de falar de política, não discute futebol, tem a sua religiosidade, embora não frequente igrejas e alguns canais de TV não assiste mais. Sabe que algumas novelas atuais não tem enredo, apenas lugares comuns. Além de ficar divulgando só coisa ruim, coisas pesadas, a TV hoje não é capaz de nada educativo, segundo avalia. Assim como também detesta quem faz uso de palavrões. "A língua portuguesa é tão rica de adjetivos". Isso sem falar na falta de principios da prática política atual. "Estão sumindo as excelências". 

Embora queira ficar de bem com todo mundo e o mundo como um todo, o artista fica indignado com algumas situações, que se pode considerar esdrúxulas. Uma dessas incoerências é o monumento Maria Taquara, localizada na Prainha, esquina com a rua Clóvis Huguenei. João Sebastião diz que "canharam" pedestal para estatua da mulher-mito. Ela era alta e o pedestal deveria ser mais alto. E desse ponto, onde está localizado esse monumento, na opinião do artista, vê-se outra barbaridade que é o mato tapando a lateral da Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho. A igreja, lembra ele, foi construída no alto justamente para ser vista. Mas isso não acontece por conta do abandono que a cidade de certa forma vem vivendo. 

Atualmente os quadros, em geral, são de 70x94cm, considerados de tamanho médio. Os grandes quadros, tipo painéis, são raros. A idade e o mercado não ajudam mais. 

O artista mora em uma casa no bairro Consil, em Cuiabá. O leitor interessado pode localizar pelo GPS ou pelo Google Maps – Rua P, Quadra 7. Por que isso? Porque o artista quer abrir uma linha direta com o consumidor. Abrir a sua casa ao público, para visitação de interessados em sua obra e para poder comercializar a preço de ateliê, sem intermediários. Segundo ele, essa necessidade é real, precisa desaguar a produção atual para produzir mais. Ah, sim, o wattsapps +55 65.9294-5915. 

Ele acredita que Cuiabá está bem servida em termos de galerias, o que precisa é de mais mecenas. 

João Sebastião da Cos..., ops, de Barros. Desde quando sua mãe, ceramista Alexandra Pinto de Barros, sua primeira mestra nas artes, desencarnou, ele passou a assinar João Sebastião de Barros.
(Edição: Enock Cavalcanti)

Fonte: Diário de Cuiabá 

15.04.2015 http://diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=469917

“O Cambista” hoje na Academia

O primeiro romance de Eduardo Mahon da inusitada compra e venda de segredos e será lançado nesta terça, na Casa Barão 

JOÃO BOSQUO
Da Reportagem

O escritor Eduardo Mahon, neste quatorze de abril, terça-feira, lança o livro "O Cambista". É bom que se diga que o escritor não tem nada a ver com o jurista, causídico e articulista de inumeráveis artigos em jornais da nossa capital, principalmente neste DC. Esquece. O escritor, também não tem nada ver com o poeta de haicais ligeiros, reunidos em uma brochura sem numeração de páginas e que recebeu o título de "Meia Palavra Vasta". Não. 

O escritor de agora está a distância quilométrica do escritório de advocacia, um dos mais requisitados de Cuiabá, localizado no bairro Quilombo e mais próximo do contista que, ano passado, também conhecido como 2014, publicou o livro "Doutor Funério e Outros Contos de Morte" e, podemos assim dizer, foi uma espécie de treinamento para o romance que chega às mãos dos leitores na noitada de logo mais. 

Mahon nos conta que o gosto pela literatura sempre existiu, um pouco por imposição paterna ao orientar "leia os clássicos". E leu a literatura russa, alemã e brasileira. De Machado de Assis, passando por Euclides da Cunha, os Sermões de Padre Vieira; enquanto o 'fazer literatura' começou por agora. Depois de ultrapassar as portas da Academia Mato-grossense de Letras. Atualmente é o presidente da Casa Barão de Melgaço. 

Conta ainda ter sentindo essa necessidade de escrever além das escritas jurídicas. Mato Grosso, para ele, reclamava uma literatura mais ampla do que a literatura essencialmente jurídica. E a partir desse sentir se impôs a estímulos para escrever fora do juridiquês. Ele lembra que os jornais, anos atrás, abriam espaços para os artigos que chegavam a ocupar até meia pagina. 

Com o tempo, porém, isso foi mudando. Começaram a acontecer limitações de números de parágrafos, linhas, paicas e toques que dificultam os artigos técnicos e esses pequenos espaços foram ocupados – não por crônicas, mas, por contos, minicontos e Mahon passa a ser reconhecido nas ruas, coisa que nunca acontecera antes. "Os contos eram mais lidos que os artigos técnicos que escrevia. E pessoas diziam ter lido determinado conto e se identificado com este ou aquele personagem", narra. 

Esse reconhecimento funcionou como mais um estímulo e se dedicou a escrever contos, micro-contos, com quatro ou cinco parágrafos. Dessas escrituras surgiu a seleção "Nevralgias", uma coletânea de contos e poemas; e "Dr. Funéreo", apenas contos. 

Ainda assim, segundo Mahon, Mato Grosso pedia mais e acabou pintando a ideia de um romance e, mesmo diante das dificuldades de um romance, com seus diversos núcleos narrativos, e ele acabou se impondo o dever de 'lavrar' a obra dessa envergadura. 

Aqui, neste trecho, – atenção leitores – vamos cometer um spoiler e revelar como a história acaba. O fim do romance está no primeiro capítulo (que não tem número) apenas e tão somente o singelo e revelador título "O Fim". Sim, fim. Como acontece o fim da história? Com a morte da personagem principal, simples, assim. 

Por ora – agora quem fala é este repórter – podemos dizer que o escritor encontrou uma solução para a abertura de seu romance, que é sempre uma dificuldade. Muitas das vezes o leitor abandona o livro no primeiro parágrafo. Essa atração deve acontecer nas primeiras linhas. Chamar o leitor para a leitura, sem coerção, é o segredo. 

As duas aberturas clássicas que conheço – muitos concordam com isso – são as de "Dom Casmurro", de Machado de Assis, e "Cem Anos de Solidão", de Gabriel Garcia Marques. "Nonada", em "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa, é uma provocação diante da qual muitos leitores – se não fossem os livros de teoria da literatura – estariam boiando até hoje, procurando saber o que quer dizer 'nonada'. 

Eduardo Mahon, depois de 'escrever' a história de forma linear – início, meio, fim – em sua cabeça definiu como o romance seria estruturado ao seu jeito, ao seu estilo. Capítulos curtos, com poucos parágrafos, que pudessem ser lidos de forma ligeira, enquanto a narrativa se fez fragmentada, com flashes, cujo desfecho de cada personagem é revelado sempre antecipadamente. 

"O Cambista", cuja narrativa se passa em um país do Leste Europeu – pode ser a Rússia, Ucrânia, Eslovênia, sei lá – o qual, de certa forma, vive um clima tanto quanto opressivo, não político, mas espiritual. Não, claro, como aquele de "O processo", de Kafka. Mas também se aproxima, em certos momentos, um pouco desse nosso jeito, só que sem sol. 

A indefinição do local e do tempo é proposital, explica o autor. Não se poderia contar a história do comércio – compra e venda – de segredos em um país como o Brasil. Aqui, vamos convir, ninguém gosta de guardar segredo. Quando uma pessoa fica sabendo de alguma coisa ela corre para contar, em primeiro lugar, pra torcida. No meu caso, pra do Botafogo ou do Mixto, quando o 'segredo' não tem tanto interesse assim. 

E o profissional de câmbio de segredos – ou cambista – que é quem faz a avaliação do valor de cada segredo que as empresas (como casas de penhor) avaliam se vale a pena ou não investir, jamais seria um brasileiro. 

O livro não é autobiográfico e não se conta nenhum segredo da profissão, como fez o jurista Saulo Ramos, com o seu "Código da Vida", no qual romanceia um caso de litígio familiar, entremeado por revelações surpreendentes. A mais dura delas o rompimento com o ministro Celso Melo. 

Voltemos ao nosso Eduardo Mahon: Nesse país e período histórico indefinidos e sem qualquer outra referência, até mesmo de língua, as empresas de compra e venda de segredos disputam esse competitivo mercado. O 'cambista', o protagonista Erick Plum, se sobressai dentro da sua empresa, chegando a sócio, ao criar uma fórmula matemática de avaliação da qualidade de um segredo, para não ficar apenas no feeling dos cambistas. Chega de spoiler. 

A pergunta retórica do autor é "até que ponto as pessoas podem negociar valores e os valores mais íntimos de outras pessoas. Até que ponto podemos, nós, abrirmos mão da nossa intimidade?". Essa discussão, ele reconhece, já existe no mundo atual, com os paparazzis – que define como voyeurs bem pagos; assim como a comercialização de órgãos já está lá regulamentada. O comércio de segredos, a maior de todas as intimidades, não tem uma regulamentação. Tem uma aceitação ou repulsa (?) narrada, mas não definida. 

A edição do livro é um resultado de uma parceria com a editora Carlini & Caniato, a mesma que editou os livros anteriores. Segundo ele, enquanto Elaine Caniato fica em São Paulo, fazendo um diálogo, colocando os livros nas mãos de críticos e editores. Ele cita como exemplo de sucesso dessa parceria o lançamento do livro anterior, "Dr. Funéreo", que, na noite de autógrafos, chegou a vender 500 exemplares, suficiente para pagar os custos de edição. 

Segundo ele, Mato Grosso dispõe de duas grandes editoras comerciais, mas seus livros não ultrapassam as fronteiras do Estado. Esse é um problema de distribuição. "A produção literária é boa, mas a distribuição muito ruim", afirma.

Eduardo Mahon é contra a denominação de "literatura regional". Segundo ele, esse estande deveria ser abolido das livrarias. "Literatura é literatura e pronto. O que importa é a qualidade das técnicas literárias". 

Ele confessa não ter lido o livro depois de pronto e acabado. A última leitura foi antes de ir pra gráfica. Como diz Monteiro Lobato, os erros o escritor não consegue ver antes e, depois do livro pronto, eles saltam nas páginas feito Saci Pererê. Mahon, claro, vai notar essas pequenas falhas, deslizes de amarração textual, quando ler para uma segunda edição. Esperamos que seja breve. 

Para fechar, Eduardo Mahon lê as primeiras linhas do primeiro capítulo de seu próximo romance, que tem o título provisório de "Autobiografia de Paul Zimermemman", cuja autoria seria de Stephen Bosch, que está preso em um manicômio e conta sua história de cientista que criou um método de migrar para vários corpos. Ah!, sim, esta história vai ter elementos biográficos de Eduardo Mahon.
 
14.04.2015